Ex-secretária nega pressão de Dilma

Fonte Zero Hora
19 Ago 2009

 

Sem apresentar provas, Lina manteve a versão de que se reuniu com ministra para tratar de investigação sobre família Sarney

Em um depoimento de cinco horas ontem no Senado, a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira reafirmou que foi chamada para um encontro com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e classificou o pedido da ministra para agilizar a investigação do Fisco sobre a família do senador José Sarney (PMDB-AP) como "ingerência desnecessária e descabida".

Lina, no entanto, frustrou a oposição e animou os governistas ao não apresentar provas do encontro e não sustentar com veemência declarações anteriores.

Como Lina não revelou a data do encontro - que Dilma nega ter existido - e também disse que, apesar do pedido da ministra, não se sentiu pressionada, os senadores governistas saíram do depoimento considerando que a dúvida sobre a existência da reunião perdeu importância. Agora, para a base aliada, o mais importante é que Lina admitiu não ter sofrido pressão política para cancelar ou aliviar as investigações.

Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Lina não só não conseguiu provar que se encontrou com a ministra, no fim de 2008, como demonstrou fragilidade em suas afirmações. Auxiliares do presidente chegaram a dizer que Lina "amarelou" diante dos senadores. Na segunda-feira, Lula desafiou Lina a "mostrar sua agenda" para provar que se reuniu com Dilma, pré-candidata do PT à Presidência.

A ex-secretária rebateu as críticas e disse que não mentiu nem sobre o encontro, nem sobre o conteúdo da conversa com a ministra.

- Não mudo a verdade no grito, não preciso de agenda para dizer a verdade, e a mentira não faz parte da minha biografia - disse.

Ao afirmar que não se sentiu "pressionada" pela ministra, Lina acrescentou que, apesar disso, considerou "incabível" a solicitação:

- Não me senti pressionada. Ela pediu que eu agilizasse (as investigações) e eu interpretei que era para dar um tratamento célere, para resolver as pendências e encerrar a fiscalização.

Oposição pretende investir em acareação entre Lina e Dilma

De volta ao prédio da Receita, ela contou ter consultado os dados sobre a fiscalização e decidido não tomar nenhuma iniciativa, já que o processo corria em segredo de justiça e a Receita já havia acelerado as investigações por conta de pedido do próprio Judiciário.

- As afirmações de Lina não têm consistência. Como alguém tem um encontro com a ministra e não sabe nem se foi antes ou depois do Dia de Nossa Senhora Aparecida, do Dia de Finados ou do Natal? - provocou o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP).

Já a oposição quer aproveitar o episódio para carimbar Dilma como "mentirosa" e não desistiu de bater na tecla da acareação entre Lina e a chefe da Casa Civil.

- Uma ministra não pode chamar a secretária da Receita para fazer ponderações de interesse privado sobre qualquer grupo investigado pelo Fisco. Isso é muito grave e inaceitável - disse o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE).

Brasília

Entenda o caso

- 1) Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo no dia 9 de agosto, Lina disse que Dilma pediu a ela, em um encontro a sós no Planalto, no final de 2008, que a Receita agisse com rapidez na investigação sobre um dos filhos do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

- 2) Desde 2007, Fernando Sarney é alvo da Polícia Federal e da Justiça, que apuram supostos crimes de lavagem de dinheiro cometidos por empresas da família. Fernando já foi indiciado sob a acusação de formação de quadrilha e outros crimes.

- 3) Segundo Lina, o pedido da ministra da Casa Civil ocorreu cerca de dois meses após a Receita ter recebido ordem judicial, em setembro de 2008, para dar celeridade aos trabalhos.

- 4) No fim do ano, o Planalto articulava a eleição à presidência do Senado. Em público, Sarney negava a intenção de concorrer, embora se movesse nos bastidores. Sua candidatura foi anunciada em janeiro e acabou vitoriosa.

- 5) No depoimento de ontem, Lina disse não se lembrar da data e do horário exatos do encontro, não soube detalhar a sala onde esperou para encontrar com Dilma e não disse como é o gabinete da ministra.

- 6) Dilma negou ter se encontrado com Lina, disse que nunca tratou do assunto com ela e refutou ter tido ingerência na demissão da ex-secretária, em julho deste ano.