Renda menor, reajuste maior
Com o orçamento familiar girando em torno de R$ 970, o casal de aposentados João Custódio Lopes, 79 anos, e Maria Maxima de Leão Lopes, 76 anos, precisa da ajuda do filho para manter um plano de saúde privado.Os maiores reajustes ao salário mínimo, ampliados a partir do governo Lula, não foram capazes de garantir as necessidades do casal. Ao se aposentar, em 1993, com renda mensal de um salário mínimo, Maria precisou continuar trabalhando como cozinheira por mais 11 anos. O marido, que era motorista, deixou o mercado de trabalho aos 50 anos por invalidez, depois de uma isquemia. Hoje recebe pouco mais de R$ 500. O benefício concedido aos dois cobre somente as despesas básicas da casa e gastos com os remédios.– É difícil viver só com o que ganhamos. Antes de me aposentar, meu salário era maior e agora precisamos contar com o nosso filho para ter ajuda na saúde – diz Maria.Em 2004, no último ano em que ela exerceu a função de cozinheira, recebia aproximadamente R$ 450, quando o salário mínimo girava em torno dos R$ 260 (valor nominal). Era um reforço para viver melhor, já que o benefício de João seguia sendo desvalorizado em função dos reajustes mais baixos dos que os aplicados no salário mínimo.– Daqui a pouco vou estar ganhando mais do que ele – especula Maria.Na origem do desequilíbrio entre os benefícios de piso e os mais altos está a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, que começou sua carreira política como sindicalista. Apesar de não contemplar outras reivindicações dos antigos companheiros, o presidente aceitou negociar com as centrais sindicais uma política nacional de valorização do salário mínimo.Foi estabelecido um cálculo para correção do piso nacional até 2011. Além da reposição da inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), incidiria nos reajustes a variação do Produto Nacional Bruto (PIB) do ano anterior. Como o crescimento da economia, indicado pelo PIB, foi maior nos últimos anos, elevou o mínimo.Para o economista Juliano Musse, da Associação Nacional dos Auditores da Receita Federal do Brasil (Anfip), a seguridade social brasileira é superavitária, e R$ 6 bilhões a mais não fariam cócegas nas contas. A tese controversa frente aos sucessivos déficits da Previdência leva em conta a destinação original de tributos aplicados para fins diferentes dos criados, como PIS e Cofins.– Cerca de 90% dos aposentados ganham até três salários mínimos – pondera Musse.