Provável governo de Dilma deve iniciar com arrocho salarial
Redução drástica de reajustes ao funcionalismo. Esta é uma das medidas em estudo pela equipe que prepara o programa de governo da candidata do Partido dos Trabalhadores, segundo apurou o jornal Folha de São Paulo, revelada em matéria publicada no dia 23 de agosto que transcrevemos na integra abaixo:Dilma quer ajuste fiscal no início de eventual governoIdeia é repetir a estratégia do presidente Lula quando ele assumiu em 2003Avaliação da petista é que as novas medidas poderão ter intensidade menor por causa da situação econômica A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, já discute com auxiliares e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva medidas econômicas duras, sobretudo na área fiscal, para adotar no início de um eventual governo.Segundo a Folha apurou, a intenção é repetir a estratégia do começo do governo Lula, em 2003, quando o novo presidente fez ajuste fiscal e monetário mais duro que o esperado pelo mercado.A avaliação de Dilma e auxiliares é que esse ajuste não precisará ter a intensidade do adotado por Lula, porque ela herdará situação econômica melhor. No entanto, serão necessárias medidas para dar sinais mais concretos ao mercado de que a eventual gestão Dilma reduzirá o ritmo de gastos dos últimos dois anos do governo Lula.As medidas em análise se concentram na área fiscal, mas há também estudo sobre a área monetária. A Folha apurou que uma medida será reduzir drasticamente a política de reajuste salarial para o funcionalismo público.Isso não significa que não haja reajustes, mas que, sobretudo no primeiro ano do eventual governo, eles sejam mais parcimoniosos.Neste ano, Lula cedeu a um reajuste para o conjunto das aposentadorias maior do que o previsto inicialmente. Dilma deverá ter posição mais austera nesse assunto.METASerá feita uma execução do Orçamento da União mais dura a fim de cumprir a meta atual de superavit primário, de 3,3% do PIB ao ano.Com a hipótese concreta de vitória no primeiro turno, apontada pela última pesquisa Datafolha, Dilma deixará claro que manterá o tripé da atual política econômica: câmbio flutuante, meta de inflação e superavit primário. Mas vai enfatizar cada vez mais em declarações públicas que não haverá descontrole das contas públicas.A intenção é frisar principalmente o aspecto fiscal, no qual o governo petista tem sido criticado recentemente.Dilma tem discutido o tema com Lula e principalmente com o seu coordenador de campanha e ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho e com o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa."TRAVESSIA DURA"Quando Lula foi eleito pela primeira vez, em 2002, Palocci defendeu uma "travessia dura". Hoje, Lula e Palocci avaliam que parte dos êxitos econômicos dos dois governos petistas se deve a esse aperto de cintos em 2003 e 2004. Palocci defende a mesma estratégia para Dilma. Informado das discussões, Lula concorda com a estratégia, segundo a Folha apurou.Além das medidas específicas de ajuste fiscal, há um estudo de mudança na política de metas de inflação. Seria uma alteração para dar ao país uma meta mais baixa.Ou seja, uma redução do centro da meta de inflação para que o país passe, na segunda metade de seu eventual mandato, a conviver com taxas menores de reajuste de preços. Hoje, o centro da meta de inflação é de 4,5%, com variação de dois pontos percentuais para cima e para baixo.A ideia é estipular uma meta para 2012 na casa dos 4%, para sinalizar que o próximo governo batalhará por uma inflação menor, hoje considerada alta para padrões mundiais. Em 2009, ela foi de 4,31%, pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o indicador oficial da meta. Neste ano, deverá ficar em torno de 5%.A adoção de medidas econômicas duras não significará cortar recursos dos principais programas sociais e das obras prioritárias do PAC. Além disso, auxiliares dizem que ela investirá paulatinamente em saúde, educação e segurança pública.Tamanho do PMDB na equipe dependerá da eleiçãoUm capítulo à parte na futura montagem de um eventual governo Dilma será o PMDB. A petista gostaria de não ficar tão dependente do partido, como ocorreu com o presidente Lula no segundo mandato, mas sabe que a legenda de seu vice Michel Temer pode sair da eleição mais forte e querer ampliar seu espaço no governo.Segundo um assessor, tudo dependerá do tamanho das bancadas dos partidos no Congresso Nacional. Como o PMDB pode ficar com o maior número de deputados e senadores, o partido terá poder na hora de negociar.O PMDB deseja não só ampliar seu espaço como também consumar seu projeto de ter representante diário nas reuniões de coordenação de um futuro governo Dilma.O partido, contudo, não irá discutir o assunto com a candidata antes da eleição.No governo Lula, a sigla comandou seis pastas. Numa eventual equipe de Dilma, cobiça também o Ministério das Cidades, hoje com o PP.Ganhando, a candidata gostaria que, na lista de ministeriáveis do PMDB estivesse o ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão.Ele conquistou a confiança da ex-ministra da Casa Civil durante a montagem do novo marco regulatório do petróleo no país.Henrique Meirelles, recém filiado ao PMDB, deve estar na lista do partido para a área econômica. Meirelles não gostaria de ficar no BC.Para diminuir sua dependências dos aliados, Dilma pretende estabelecer canais de negociação com a oposição, inclusive o PSDB. Para isso, conta com o bom relacionamento com o ex-governador de Minas Aécio Neves.Presidente do PMDB, Michel Temer deverá ajudar Dilma na articulação política. PT e PMDB já têm candidatos para comandar a Câmara.Por ora, o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), seria candidato a cumprir um mandato de dois anos. Na sequência ou antes de Alves, a depender do acerto para o Senado, o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), é cotado para o cargo.Dilma já discute ministério com LulaVantagem no Datafolha dá início, ainda discreto, à temporada de articulações para a composição do governoCandidata diz a aliados que ainda não é hora de pensar na equipe, mas reservadamente iniciou debate com o presidenteDiante da possibilidade de ganhar já no primeiro turno, a candidata do PT, Dilma Rousseff, sabe que será alvo de pressões de PT e PMDB por espaço num eventual governo, mas vai insistir numa frase que gosta de repetir: "Discutir isso agora dá azar".Dilma não quer repetir, segundo ela, o episódio em que Fernando Henrique Cardoso se sentou na cadeira de prefeito paulista na eleição de 1985 antes da hora. Perdeu a eleição para Jânio Quadros.Nos próximos dias, a petista irá dizer aos aliados que formação de governo é assunto "proibido" na campanha para evitar transmitir sinais de "arrogância" e criar um clima de "já ganhou".Apesar do recado, Dilma já discute o assunto reservadamente com uma pessoa, o presidente Lula, e seguirá a linha de seu criador de colocar em postos-chaves nomes de sua total confiança.Ela sabe que terá de enfrentar o apetite do PMDB e contemplar o partido em eventual governo, mas vai esperar a definição da eleição para discutir o tema com os aliados. Se ganhar mesmo no primeiro turno, por exemplo, acredita que terá mais força para montar seu ministério mais livremente.Lula dará mais do que palpites na escolha de eventuais futuros ministros de Dilma, mas tem insistido que ela tem de ter liberdade para montar um governo com sua cara.O presidente, por exemplo, é defensor da ida de Antonio Palocci Filho, ex-ministro da Fazenda e coordenador de sua campanha, para a Casa Civil. Lá, coordenaria as ações de governo e faria uma dobradinha com o eventual vice-presidente, Michel Temer, para tratar da articulação política do governo.VISIBILIDADEPalocci também é visto como bom nome para a Saúde, obtendo assim visibilidade para disputar o governo paulista em 2014, caso Aloizio Mercadante perca a eleição.Outro petista é apontado como certo na equipe: o presidente do PT, José Eduardo Dutra, também coordenador de sua campanha e que desistiu de disputar a eleição a pedido da candidata.O ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel também é tido como nome de uma futura equipe.Dilma também vai dar mais espaço no governo para mulheres. Nesse grupo, dois nomes são fortes e contam com a confiança da candidata. A atual ministra Erenice Guerra (Casa Civil), que a substituiu no posto, e Maria das Graças Foster, diretora da Petrobras.O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, tende a ser deslocado para a área social. No governo, há quem defenda sua ida para a pasta de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. O ministro Franklin Martins (Comunicações) e o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, também devem ficar se desejarem, mas em outros postos.Um ministro deverá perder o lugar: Nelson Jobim (Defesa). Dilma pretende escolher um nome com maior capacidade gerencial para comandar as obras de infraestrutura nos aeroportos do pais, vitais para a Copa do Mundo.Dois postos sensíveis deverão gerar especulações por conta da importância para o mercado: Ministério da Fazenda e Banco Central. Lula já disse em conversa reservada que Guido Mantega poderia seguir na Fazenda e Henrique Meirelles no BC, mas foi apenas um cenário eventual aventado pelo presidente.FAZENDADilma, contudo, gostaria de indicar o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, para comandar a Fazenda, posto desejado por Meirelles por indicação do PMDB.Coutinho, contudo, vai bem no BNDES e pode ficar. O mesmo pode acontecer com o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.Ainda na área econômica, um nome considerado certo é o do atual secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. Ele pode integrar um grupo de conselheiros que a ministra deve criar dentro do Palácio do Planalto. É cotado também para a Fazenda ou o Planejamento, esta, por ora, a hipótese mais plausível.