Governo admite risco, mas garante investimentos
Relatório interno publicado pelo ‘Estado’ ontem ‘não traz preocupação nova’, afirma ministro Leonardo Goy, BRASÍLIA O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, disse ontem, por meio de sua Assessoria de Imprensa, que o relatório da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda que aponta o risco de o País enfrentar um novo apagão se a economia crescer mais de 4% ao ano entre 2007 e 2010 “não traz nenhuma preocupação nova aos cuidados que o ministério já vem perseguindo para que haja a oferta de energia necessária, nem mais e nem menos, para o crescimento sustentado do País”.Divulgado ontem pelo Estado, o relatório da Seae diz que só haveria energia suficiente para sustentar um crescimento de 4% ao ano até 2010 se as usinas termoelétricas a gás conseguirem operar a plena carga - algo que não está ocorrendo - e não houver atrasos na programação de entrada em operação de novas hidrelétricas.Ocorre que, entre as 27 usinas hidrelétricas “em construção” listadas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), 14 estão com os cronogramas atrasados, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Técnicos do governo, porém, acreditam que o maior crescimento da economia estimulado pelo PAC poderá acelerar os investimentos na produção de energia. Além disso, o governo precisa trabalhar para que haja equilíbrio entre oferta e demanda, já que também não é interessante que a produção fique muito acima da demanda - nessa situação, os preços da energia podem cair e desestimular os investimentos. Para o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, o fato de terem sido reservados para a área energética R$ 274,8 bilhões dos R$ 503,9 bilhões em investimentos previstos no PAC mostra que governo está preocupado. “Eles sabem muito bem que o risco é iminente”, disse Pires. O especialista, porém, avalia que o governo erra ao fazer do PAC um programa baseado, principalmente, em recursos públicos. “O PAC não dá nenhuma indicação objetiva para que o investidor privado participe da expansão do setor”, disse. “A ministra Dilma Rousseff vai repetir com o PAC o fracasso do novo modelo do setor elétrico.”Para Adriano Pires, a possibilidade de apagão com o crescimento do PIB acima de 4% é praticamente certa. “O relatório do governo que o Estado divulgou mostra o que todo o setor já sabia e vinha alertando”, disse. Ele lembrou que o próprio PAC é uma demonstração do temor que o governo tem de ver o Brasil às escuras.“O governo teme o apagão, tanto que 55% dos investimentos que serão realizados são para área de energia, o que significa dobrar o volume investido no setor elétrico dos atuais R$ 10 bilhões anuais para R$ 20 bilhões”.O líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), acusou o governo de esconder, há mais de quatro meses, desde antes das eleições, o risco de novo apagão. “O risco (de déficit de energia) já está acima do aceitável, mas o governo tem dado sorte porque tem chovido bastante”, disse. COLABOROU KELLY LIMA