Previdência independente
Por Catherine VieiraCom o fim da era dos juros em alta e o novo desenho tributário dos fundos de previdência - em que o investidor pode pagar até 10% de imposto de renda caso permaneça por mais de dez anos-, os aplicadores buscam cada vez mais produtos que unam o benefício fiscal a uma gestão ativa e diferenciada, compensando os ganhos cada vez menores da renda fixa. Por isso, gestores independentes pioneiros em fundos multimercados, como a Gap Asset Management e a Hedging-Griffo (HG), se adiantaram na iniciativa de oferecer fundos de previdência com gestão ativa. Também os "family offices", especializados na gestão de grandes fortunas, como a carioca Real Assets, já se interessam pelo segmento. As próprias seguradoras independentes (não ligadas a bancos varejistas) apostam nas parcerias e na experiência de gestão para aproveitar a tendência. A Gap e a HG fecharam parceria com a Icatu Hartford e com a Mapfre para oferecer aos clientes Planos Geradores de Benefícios Livres (PGBL) ou Vida Gerador de Benefício Livre (VBGL) com gestão própria e venda via seguradoras. É uma novidade num mercado bastante concentrado nos grandes bancos de varejo. A carioca Real Assets - instalada no Leblon no mesmo prédio das gestoras ARX e da Gávea - desenhou em parceria com o Santander o Santander Multimercados Real Assets. A gestão, no entanto, é do banco, mas com a colaboração de um comitê de investimentos com integrantes externos, que tem direito a opinar. Na outra ponta, seguradoras independentes que já possuíam um braço de gestão com foco em carteiras diferenciadas, como fundos multimercados ou de ações, aproveitam para enfatizar essa característica. A SulAmérica vem recebendo consultas de gestores de patrimônio para replicar carteiras de seus multimercados para fundos de previdência. A Icatu também enfatiza a gestão própria e ainda oferece a possibilidade de diversificação em outros gestores do mercado. Na Hedging-Griffo, a idéia foi juntar a filosofia de investimento de longo prazo, que sempre norteou os investimentos da gestora, com o formato do fundo de previdência, que é naturalmente de horizonte mais longo. No caso dos planos de previdência, ainda há um atrativo a mais, que é o menor imposto de renda. No caso dos PGBLs, há também o benefício tributário, em que o investidor pode deduzir até 12% da renda tributável. Os dois fundos disponíveis são o HG Mapfre, mais conservador, e o HG Mapfre Plus, um pouco mais agressivo. A equipe de gestão é a mesma que cuida dos fundos de investimento da Hedging-Griffo. Nos produtos de previdência, há outros chamarizes como a ausência do come-cotas periódico - imposto pago semestralmente sobre os ganhos - e a possibilidade de usar o fundo para facilitar o planejamento de herança, uma vez que os valores não entram em inventário. Para começar a investir nos fundos de previdência da HG Mapfre é preciso ter R$ 30 mil, mas os aportes seguintes podem ser de R$ 1 mil. A taxa de administração no fundo mais conservador é de 1,5% e, no Plus, de 2,5%. Outra vantagem desses fundos de previdência ligados aos gestores independentes é que não há cobrança da taxa de carregamento como na maioria dos planos do mercado. O sócio da Gap Emanuel Pereira da Silva explica que o fundo Gap Previdência nasceu de uma estratégia da gestora de ampliar a grade de investimentos e torná-la mais completa para os clientes. "Esse segmento tende a crescer muito, pois une uma gestão ativa com a vantagem tributária", diz. "Num multimercado comum, mesmo que se permaneça por longo prazo, há o IR de 15%, enquanto no de previdência, num prazo de dez anos, cai para 10%". O Gap Previdência cobra taxa de administração de 2% e a aplicação mínima inicial é de R$ 30 mil, com aportes livres depois disso. Segundo Pereira da Silva, o rendimento do fundo está em 17,34%, ou 118% do CDI nos últimos 12 meses. O vice-presidente de investimentos da SulAmérica Investimentos, Marcelo Pimentel Mello, conta que os gestores de patrimônio e de grandes fortunas têm procurado mais produtos com gestão diferenciada. "Recebemos pedidos para fazer fundos de previdência espelhos dos nossos multimercados", explica Mello. "Como temos uma gestora de investimentos e uma seguradora no grupo, podemos oferecer um pacote mais completo", diz. O diretor comercial da Icatu Hartford, Agnaldo Andrade, conta que, assim como na carteira de investimentos comuns, na hora de fazer investimentos previdenciários os segmentos de private banking e "family office" gostam de diversificação tanto de ativos quanto de gestores. "Essa demanda é crescente, por isso essas parcerias vêm se multiplicando, pois são interessantes tanto para a seguradora quanto para o gestor", diz Andrade, lembrando que há também fundos exclusivos com esse perfil. "O PGBL e o VGBL não são mais apenas produtos de previdência, são vistos como investimento de longo prazo", completa. Já a Real Assets, embora seja uma gestora de patrimônio, decidiu fazer uma parceria com o Santander. Coordenado pelo gestor Daniel Fuks e pelo ex-Globopar Mauro Molchansky, a empresa tem hoje foco em previdência. "O fundo cresceu muito no ano passado, é um veículo de investimento muito interessante", diz Fuks, que já negocia uma segunda parceria, desta vez com a Icatu Hartford.