Mercadante critica política monetária

28 Fev 2007
Meirelles tentou mostrar que a inflação no Brasil ficou recorrentemente acima da meta: "Esse não é o resultado de um BC que possa ser chamado de hiperconservador" Oposição e base governista voltaram a trocar os papéis ontem em depoimento de quase toda a diretoria colegiada do Banco Central na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Os questionamentos mais contundentes à política monetária partiram do presidente da comissão, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP). O líder do PSDB na Casa, Arthur Virgílio (AM), foi o principal defensor do BC. "O BC foi excessivamente conservador", disse Mercadante, argumentando que a inflação em 2006 (3,14%) ficou bem abaixo do centro da meta (4,5%). "O BC não quer correr riscos de inflação, e transfere todos os riscos para o crescimento da economia e para a política fiscal." O presidente do BC, Henrique Meirelles, mostrou-se um pouco mais combativo do que o costume na defesa da política monetária. Procurou mostrar, por meio de um conjunto de gráficos, que a inflação no Brasil ficou recorrentemente acima da meta, ao contrário de outros países, em que é comum a inflação cair abaixo da meta. "Esse não é o resultado de um BC que possa ser chamado de hiperconservador." Meirelles foi irônico quando Mercadante disse que os juros no Brasil são bem mais elevados que nos Estados Unidos. "Isso é apenas uma constatação, assim como dizer que a Suécia tem uma renda mais elevada que o Brasil", disse o presidente do BC. "São apenas constatações. O importante é o que está acontecendo com a implantação da política monetária: o diferencial de juros está caindo." Mercadante apresentou um trecho de uma carta aberta assinada por Meirelles em 2003 que pregava uma desinflação mais lenta, em dois anos, para não comprometer o crescimento. "Vamos lembrar do que se tratava essa carta aberta para que não se fique misturando aquela época com a atual", rebateu Meirelles. "Em 2003, a inflação chegou a 17%, e a meta era de 4%. Seria uma desinflação excessiva para ser feita em poucos meses." Segundo Meirelles, a inflação ficou bem mais baixa do que a meta em 2006 porque o país sofreu choques favoráveis de preços no período. "O presidente do BC respondeu com muita competência às minhas perguntas, mas não convenceu", devolveu Mercadante. "Ninguém está pedindo que fique acima da meta. O que não pode é ficar tão abaixo da meta." O senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) ironizou o longo ataque feito por Mercadante. "Embora a grande oposição ao BC seja a do PT, o senador já leva 17 minutos com a palavra", afirmou. "Vossa Excelência poderia abrir a palavra para os demais." Virgílio, o primeiro senador de oposição a perguntar, defendeu o BC. "É muito fácil jogar nas costas do BC um baixo crescimento que se deve ao governo", afirmou. "Nesse governo, só quem entregou a mercadoria prometida foi o BC." O senador tucano se disse cético quanto à possibilidade de a diretoria do BC ser mantida no segundo mandato do presidente Lula. "Já estou vendo o Paulo Nogueira Batista ocupar primeiro o lugar do (diretor de política econômica do BC, Afonso) Bevilaqua e, depois, do próprio Meirelles." Na saída do depoimento, Meirelles minimizou os ataques feitos por Mercadante. "Nunca senti o BC tão elogiado", afirmou. "Fiquei surpreendido pelo nível de aprovação do BC." Ele disse que o BC está agindo com autonomia, conforme compromisso assumido pelo presidente Lula quando o convidou para comandar a instituição. Disse não considerar nenhuma interferência indevida o fato de o presidente da República influenciar na escolha dos membros da diretoria colegiada. "É uma prerrogativa do presidente indicar nomes para o BC, e o Senado aprovar a indicação." Meirelles não negou a possibilidade de mudanças na diretoria do BC. "No momento adequado, vou me sentar com os diretores e saber a intenção de cada um." Numa longa exposição feita no início do depoimento, Meirelles procurou mostrar que a maior contribuição que o BC pode dar para o crescimento da economia é manter a inflação sob controle. "Em todos os períodos de inflação alta no país, diminuiu a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)." (AR)