Especialista chileno critica modelo de previdência implantado no seu país

15 Mar 2007
Implantado no ano de 1981, ainda durante a ditadura Pinochet, o modelo de previdência chileno está sendo revisto pelo governo da presidente Michelle Bachellet. Em palestra proferida ontem durante o Seminário Internacional sobre Previdência Social, na Câmara dos Deputados, o diretor da Divisão de Desenvolvimento Social da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), András Uthoff, disse que o sistema é hoje amplamente criticado por causa dos problemas de sustentação financeira, dos altos custos de transição e de administração e a baixa reposição quando se trata de trabalhadores de baixos salários.O modelo implantado lá foi o de capitalização, em que cada trabalhador tem uma conta individual na qual precisa colocar um X de recursos equivalente ao salário que recebe e está, assim, se credenciando a receber no futuro os benefícios previamente definidos em seu plano. O processo de transição de um regime a outro trouxe uma série de problemas e de riscos difíceis de solucionar. As estimativas são de que a transição chilena custou aos cofres públicos cerca de 25% do PIB. Em 1981 o custeio dos benefícios representava 2,5% do PIB chileno e, em 2005 esse valor chegou a 5%, mesmo com 41% dos trabalhadores fora do sistema. Foram esses problemas que levaram a presidente Bachellet a criar um grupo para estudar e propor mudanças na previdência. O diretor da Cepal, que integra esse grupo, disse que eles estão ouvindo diferentes setores da sociedade recolhendo sugestões e buscando alternativas que levem em conta a questão social, mais do que a perspectiva apenas economicista. O presidente do Unafisco, Carlos André Nogueira, que presidiu a mesa do debate, ressaltou que a experiência chilena demonstra que as questões sociais não devem ser tratadas por economistas, que deveriam ser chamados apenas para dar alternativas para a implementação do benefício social. “Devemos nos perguntar: se a reforma não foi benéfica para a sustentabilidade do sistema, se não foi boa para os trabalhadores, nem para o governo ou para o desenvolvimento da economia como um todo, a quem interessam as mudanças?” questionou Carlos André. A baixa participação dos trabalhadores, no entendimento dele, decorre principalmente da falta de confiança no sistema provocada, como no Brasil, pela velha cantilena de que a previdência pública é deficitária, que vai quebrar, que vai falir. “Isso só faz com que as pessoas não queiram participar e percam a perspectiva de aposentadoria futura”, criticou.