Medida divide economistas e pode aumentar preços
De São Paulo A elevação da tarifa de importação de calçados e vestuário para 35%, divide os economistas que acompanham política industrial. Para alguns, ela pode funcionar em caráter emergencial para dar "tempo" a setores cuja competitividade está muito afetada pelo câmbio. Para outros, é um erro, um "instrumento do passado". Por conta da expressiva valorização do real, o aumento das alíquotas dificilmente vai gerar inflação, conseqüência natural desse tipo de medida, acredita Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, do grupo de conjuntura da UFRJ. "As tarifas teriam que subir muito mais para impactar a inflação", diz. "Com o câmbio apreciado, esse impacto é diluído em pouco tempo." O presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda, discorda. "Com certeza, a elevação das alíquotas de importação será repassada para os preços no mercado interno", afirma. A medida afeta os hipermercados, que estão ampliando a venda de produtos não-alimentícios, como roupas, como no início do Plano Real. Mesmo entre quem concorda com a medida, é consenso, que é um erro não exigir contrapartidas dos setores, como um aumento de investimento, modernização, desenvolvimento de novas tecnologias etc. "Aumentar a alíquota pode ajudar a dar uma sobrevida. É melhor agir antes do que depois que o setor acabar, mas não pode ser concedida uma proteção sem exigências", diz o professor David Kupfer, da UFRJ. Ele lembra que o auxílio dado ao setor têxtil, em 1995, veio junto com um programa de modernização do setor. Uma ação defensiva como a alta de tarifas precisa ser acompanhada de outra pró-ativa, na avaliação de João Carlos Ferraz, diretor da Divisão de Desenvolvimento Produtivo e Empresarial da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). O ideal, diz, é que essa tarifa mais alta vigore por um determinado tempo, até que as empresas mostrem resultados. "Elas precisam, em contrapartida, investir em mão-de-obra, em inovação, em novos produtos", diz. Para João Alberto de Negri, diretor do Ipea, a medida é um erro. "Elevar a alíquota de importação não ajuda nada, não torna o país nem um pouco mais competitivo, pelo contrário", diz ele, classificando essa medida como instrumento "do passado".