Não mais contra o governo, mas por cargos no governo

30 Abr 2007
Às vésperas do Dia do Trabalho, as maiores centrais sindicais do país estão empenhadas em garantir espaço no governo. Com linhas políticas divergentes, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical protagonizam uma briga por cargos no segundo e no terceiro escalões da administração federal. Alinhada ao PT e considerada a maior organização sindical do país, com cerca de 1,7 mil sindicatos filiados, a CUT é a mais revoltada com a reforma ministerial e com a coalizão partidária montada pelo presidente Lula. Ao abrir espaços para partidos de centro como PMDB, PDT e PR, o presidente diminuiu a influência da entidade. Nos últimos dois anos, pelo menos oito ministros ligados ao sindicalismo perderam assento na Esplanada. O desfalque mais sentido foi a transferência do ex-presidente da CUT Luiz Marinho da pasta do Trabalho - feudo mantido pela central desde 2003 - para a da Previdência. Com isso, os dirigentes lutam para preservar os empregos de sindicalistas nas Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs) nos Estados. - Não é a perda de cargos, e sim de foco, que nos preocupa. Esse governo não é socialista. Por isso precisamos manter a pressão por pessoas comprometidas com os trabalhadores. Isso depende da nossa mobilização - diz o presidente da CUT, Artur Henrique Santos. Do outro lado dessa disputa está a Força Sindical. Vinculada a partidos trabalhistas, a entidade galgou espaços no governo com a ida do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, para o Ministério do Trabalho. O próximo objetivo é conquistar cargos nos escalões inferiores e nos Estados. Um dos alvos das duas centrais é a Delegacia Regional do Trabalho de São Paulo, a principal do país. A Força Sindical indicou para o cargo o pedetista José Pereira dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos (SP). A CUT briga pela permanência no posto do petista Márcio Pires, ligado ao Sindicato dos Bancários. Para pressionar o governo, dirigentes das duas centrais têm se reunido com freqüência com Lupi. Na semana passada, cerca de 30 representantes da CUT emparedaram o ministro em seu gabinete. Em resposta, Lupi disse que, por enquanto, apenas estuda as indicações e que não pretende fazer substituições em curto prazo. Presidente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) não desestimula os colegas a buscar espaço no governo. Paulinho alerta para os riscos embutidos na ocupação excessiva de cargos: - A CUT enfrenta milhares de problemas por conta de ter tanta gente no governo. Temos muito cuidado com isso. No Estado, a disputa se repete. Atualmente dirigida por Neuza Azevedo, petista ligada à CUT, a DRT-RS também está na mira do PDT. Integrado à Força Sindical, o partido cogita indicar os nomes dos deputados Adroaldo Loureiro e Coffy Rodrigues para o cargo. - Essa briga deve se acirrar agora que o PDT saiu do governo do Estado - afirma o deputado Marco Maia (PT), ex-tesoureiro da CUT no Estado. No governo federal, a Força Sindical emplacou o ex-presidente Luiz Antonio de Medeiros na cúpula do Ministério do Trabalho. Medeiros - que não se reelegeu deputado federal- é o novo secretário de Relações do Trabalho, cargo antes ocupado por Oswaldo Bargas, sindicalista, amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e suspeito de envolvimento no episódio do Dossiê Cuiabá. ( fabio.schaffner@rbs.com.br ) Os sindicatos CUT Maior e mais combativa central sindical do país, a CUT tem entre seus fundadores o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador Olívio Dutra. É alinhada ao PT, mas abriga sindicalistas vinculados ao PC do B e ao PSB. Entre as centrais sindicais, é a mais próxima do Planalto e a que ocupa mais cargos no governo Lula. Abriga mais da metade dos sindicatos do país, com 1.775 entidades filiadas. Força Sindical Segunda maior central sindical do país, está alinhada ao PDT e ao PTB. Seu presidente é Paulo Pereira da Silva (PDT), sexto deputado mais votado por São Paulo e ex-candidato a vice-presidente em 2002 na chapa de Ciro Gomes (então no PPS). Disputa espaços com a CUT no governo Lula, ao qual aderiu após a ida do PDT para a base governista no Congresso. Possui 687 entidades filiadas. Seu ex-presidente Luiz Antônio de Medeiros ocupa a Secretaria de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho. Tem 151 entidades filiadas. Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) > É presidida por Antônio Carlos dos Reis, o Salim. Filiado ao Democratas (ex-PFL), Salim se candidatou a deputado federal, mas não se elegeu. Além do antigo PFL, a CGT também mantém vínculos com PMDB e PR. Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) > Criada por sindicalistas de esquerda, a Conlutas nasceu de dissidência da CUT. Seu presidente é José Maria de Almeida, o Zé Maria, ex-candidato à Presidência pelo PSTU. Abriga simpatizantes do P-Sol e do MST. Apesar de não constar nos registros do Ministério do Trabalho, afirma possuir cerca de cem entidades filiadas. Social Democracia Sindical (SDS) Ligada ao PSDB, a SDS foi criada como braço sindical tucano. Tem como presidente Enilson Moura, o Alemão, que foi preso junto com o presidente Lula durante as greves dos metalúrgicos nos anos 80. Tem 164 entidades filiadas. Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST) > Fundada em 2005, já é a terceira maior central sindical do país. Mantém vínculos com o PMDB e é presidida por José Calixto Ramos. Abriga 563 entidades.