Lula tenta conter "excessos" da PF
A reunião era para discutir a reforma política, mas quase só se falou na Operação Navalha, da Polícia Federal (PF), que desbaratou um esquema de corrupção e culminou na queda do ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau. Os líderes dos partidos da base aproveitaram o encontro do conselho político do governo para reclamar do que chamam de "excessos" da PF durante suas ações. De acordo com o ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, os políticos queixaram-se especialmente do vazamento de informações sob segredo de Justiça e de prisões supostamente sem justificativa. Atento às reclamações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou o apoio à operação, mas disse ao ministro da Justiça, Tarso Genro, que eventuais excessos devem ser apurados e coibidos. Para o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), os vazamentos dão a impressão de que a investigação é "dirigida", além de provocarem apreensão na base governista. - Existem comentários de lista daqui e dali, que podem surgir a qualquer momento. Isso deixa a base nervosa. Por que não joga tudo de uma vez? Se tem alguma suspeita no ar, tem de jogar tudo na rua. Se é uma investigação para correr sob segredo de Justiça, por que ficar vazando a todo momento? - questionou. Ministro do STF disse que PF usa métodos "fascistas" Em evento no Rio, mais tarde, Tarso respondeu: - Se houve algum equívoco, algum vazamento, e é possível que tenha havido, se houve alguma lesão ao direito individual de alguém, isso deve ser corrigido. O incômodo com as operações policiais não ocorre apenas no Executivo e no Legislativo. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes já disse que as ações da PF estão transformando o país em um Estado policial. Ontem, ele recebeu a solidariedade do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto. - Um país não pode estar bem quando policiais federais são transformados em mocinhos, e o combate ao crime, razão primeira da atividade policial, é peça coadjuvante diante da desmedida busca pelo sucesso promocional - disse. Na quarta-feira, Mendes acusou a PF de utilizar métodos "fascistas" na Operação Navalha e chamou de "canalhice" o vazamento de informações sobre o inquérito. Também disse que a PF vem fazendo "terrorismo com a democracia" ao divulgar informações sigilosas em conta-gotas. Uma das informações vazadas cita uma pessoa com o mesmo sobrenome do ministro que teria recebido vantagens da Gautama, empresa suspeita de pagar propina a servidores públicos. Segundo Mendes, o episódio é uma tentativa de amedrontá-lo por conta dos habeas corpus que concedeu a alguns dos 48 presos na operação. Em nota, a Polícia Federal respondeu às críticas e afirmou que sua relação com o Poder Judiciário é de "respeito e pleno acatamento às decisões da mais alta corte de Justiça do Brasil". A PF também disse aguardar "eventual requisição de providências para apuração de possível irregularidade".