Corrupção não sai mais das manchetes no Brasil
O Congresso estava vazio, daí que a repercussão não foi das maiores, no público interno, entre os demasiados 513 deputados federais e os 81 senadores. O bate-boca começará mesmo a partir de amanhã, terça-feira, quando todos voltam das bases. De qualquer forma, o constrangimento é geral. Renan Calheiros, presidente do Senado e do Congresso quando ambas as Casas se reúnem, está sendo acusado, julgado e condenado por mais uma reportagem semanal. Saiu a Polícia Federal com suas operações tipo "Caçadores da Arca Perdida" e voltam as matérias montadas a partir de denúncias, todas, como de praxe, desmentidas. Fica, então, palavra contra palavra. No Brasil, no entanto, vale mais a versão do que o fato. E as versões estão no ar em quantidade. Há uma tendência para assestarmos baterias contra as instituições, julgando-as culpadas pela corrupção que é noticiada dia após dia. No caso do Congresso Nacional, realmente é doloroso ver-se o que ocorre. Mas, a instituição não é culpada em si, mas sim alguns dos que a compõem. Assim, temos de depurar mentes e corações e agilizarmos a punição. Em qualquer lugar do mundo existem desvios de conduta. Porém, deve-se sempre gizar que as falcatruas são feitas por pessoas. O Congresso é frio e inumano. Quem dá o sopro de atividade são deputados, senadores e o corpo funcional. Então, volta a pergunta, somos todos corruptos? Não, mas a cultura da "pequena corrupção" e da falta de punição está enraizada entre nós. As leis foram feitas pelas elites, há 50, 70, 80 anos. Os jornais recebem correios de leitores que não aceitam normas, quando estas se viram contra eles. É o motorista irritado porque não foi avisado do radar móvel. Queria uma placa, 100 metros antes. Ora, assim é fácil obedecer ao Código de Trânsito Brasileiro. A corrupção chegou a tal ponto que tivemos candidato a presidente da República, no passado, cuja campanha estampava esta pérola de desfaçatez: "Este rouba, mas faz".O Congresso Nacional está com as vísceras expostas, carcomido por sanguessugas, por mensalões, por propinas, por emendas suspeitas no Orçamento, com corruptos e corruptores. Quem pratica isso são brasileiros iguais a nós no amplo sentido da palavra, esperamos que não no comportamento da maioria. Então, que se comece a pressão por reformas, iniciando pela Câmara, que não precisa de 513 deputados. É um exagero, uma confusão, excesso de servidores e que abre os atalhos para a corrupção. De outra parte, acabar a legislação prolixa e superposta. Governo é toda uma estrutura. Então, enquanto os brasileiros não pressionarem por reformas na política, nos tributos, na Previdência e nas normas trabalhistas, começando por quem está agora entrando no mercado, com 18 anos, tudo continuará igual. Não acabaremos com a corrupção de uma hora para outra. Talvez ainda sejamos enganados inúmeras vezes. No entanto, não deixemos de acreditar que, em algum lugar, alguém merece a nossa confiança. Comecemos pelo enxugamento da máquina pública. Menos gente, mais bem paga. Não é tudo, mas é o primeiro passo de uma longa caminhada que haveremos de percorrer, a fim de que o Brasil dos nossos filhos e netos seja muito melhor. Julgamos a opinião e o caráter do povo brasileiro pela opinião e o caráter daqueles a quem elegemos e admiramos. Afinal, não somos sempre o que queremos ser, mas o que as circunstâncias nos permitem ser. O Brasil é a nossa cara, definitivamente. Tem patriota dizendo em voz alta que é doce morrer pelo Brasil, mas em segredo reconhecendo que é mais doce viver para ele e à custa dele.