Presentes da Gautama constrangem políticos

30 Mai 2007
A divulgação de parte da lista de políticos que teriam sido presenteados pela construtora Gautama, investigada pela Polícia Federal na Operação Navalha, gerou desconforto ontem em Brasília e levou parlamentares às tribunas do Congresso para tentar explicar os mimos de fim de ano. A relação, apreendida nos escritórios da empresa, contém 225 pessoas. O jornal Folha de S.Paulo, que teve acesso a ela, divulgou apenas os listados claramente com nome e sobrenome, entre os quais 38 deputados e ex-deputados federais, 18 senadores e ex-senadores, 23 governadores, prefeitos, ex-governadores e ex-prefeitos e três ministros. Um dos mais irritados, ontem, era o senador Almeida Lima (PMDB-SE). Exaltado, chamou de "calhordas, canalhas, sem-vergonhas" os empresários que dão presentes, antes de admitir que recebeu uma gravata da Gautama e de garantir que a devolveu. O senador também disse que a gravata era uma porcaria: - Encaminharam, por um funcionário do meu gabinete, uma porcaria de uma gravata que eu mandei devolver no rastro. Portanto, não preciso de empresa vagabunda, moleca, sem-vergonha nenhuma. Se o meu nome consta dessas listas, deveria ter constado a devolução de uma porcaria de uma gravata. Mais adiante, no mesmo discurso, acalmou-se e confessou gostar de gravatas: - Quando preciso de uma gravata, e gosto muito bem de usá-las, assentadas, sei onde comprá-las. Recentemente, desculpem-me a falta de modéstia, eu comprei uma na Quinta Avenida, em Nova York, quando lá estive. Único gaúcho citado na lista parcial, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes negou que tenha recebido algum presente da construtora. - Até perguntei para a minha secretária, mas não recebi nada. Não conheço ninguém da Gautama - afirmou. Senador diz que presentear é um "costume brasileiro" O argumento foi o mesmo dos senadores Romeu Tuma (Democratas-SP) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), também citados. Apesar de ter negado o recebimento de lembranças, Tuma disse ser um "costume brasileiro" presentear alguém no fim do ano. Já Vasconcelos admitiu que a empresa possa ter enviado algum mimo para o Palácio das Princesas quando ele era governador de Pernambuco e reconheceu: - Tudo o que a gente tem de explicar na política não é bom.