Para onde vão os sindicatos
Na esteira da legalização, surgem novas centrais sindicais e mais recursos. A CUT, que se atrelou ao governo, perde espaçoALAN RODRIGUESMINIRREFORMA CUT perde a força e governo mantém mamata O novo universo sindical Uma revolução silenciosa vem sendo tramada na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Nos próximos dias, o presidente Lula enviará ao Congresso uma medida provisória que irá legalizar as centrais sindicais do País. A iniciativa será festejada cxom um almoço no Palácio da Alvorada que reunirá antigos inimigos sindicais - CUT, Força Sindical, CGT, SDS, entre outras. A primeira pergunta que vem à cabeça é: o que a decisão muda no dia-a-dia dos 27 milhões de trabalhadores com carteira assinada? Nada. Pior: nos contracheques desses trabalhadores, a cobrança do imposto sindical continuará sendo obrigatória. Isso significa um sugador que engole cerca de R$ 1 bilhão anuais, assim distribuídos: 60% entre 15 mil sindicatos, 15% entre as federações e 5% para incontáveis confederações. O Ministério do Trabalho (MT) abocanha os restantes 20%. A novidade da vez é o aparecimento de mais uma boca para comer esse bolo: as centrais sindicais. Elas serão alimentadas com metade da fração destinada ao MT. Estima-se que esse montante atinja R$ 100 milhões.Nos bastidores do sindicalismo, o texto presidencial vem causando um certo frisson. É que, ao legalizar as centrais, Lula poderá, involuntariamente, estar empurrando a CUT para escanteio, a central que ele ajudou a construir e que hoje é a maior do Brasil e da América Latina, com quase 3.500 sindicatos. Isso porque várias tendências da entidade estão rachando para formar novas centrais. Afinal, a central nascida do combativo sindicalismo do ABC dos anos 80 está, desde a posse de Lula, fazendo o papel de vidraça. "Eles estão perdidos, não sabem se defendem ou criticam o governo", diz José Maria de Almeida, do PSTU. Fundador da CUT ao lado de Lula, José Maria hoje coordena o Comlutas, uma entidade que reivindicará o status de central. Ligada ao PSTU, a Comlutas arrastou das fileiras da CUT cerca de 200 sindicatos. Outra sangria será provocada em breve por militantes da Corrente Sindical Classista (CSC), grupo ligado ao PCdoB que controla cerca de 500 sindicatos.As mudanças também atingem a Força Sindical, que tem 1.800 sindicatos filiados. Ela perderá sua vice-liderança para a novíssima União Geral dos Trabalhadores (UGT), sigla que nasce com 1.011 sindicatos, cumprindo com facilidade as exigências do decreto presidencial que exige que as centrais terão que contar com pelo menos 5% de entidades em sua base. Já as atuais confederações estão agrupadas na chamada Nova Central. Com a legalização das centrais, estima-se que, até o final do ano, apenas seis das 18 centrais existentes sobreviverão.