Contadora desmente depoimento de Dario Morelli Filho à Polícia Federal

13 Jun 2007
SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: ´NÃO TENHO O CONTROLE BANCÁRIO DELE´, AFIRMA NELI Neli Chavez do Amaral diz não saber quais clientes a empresa dele atendeu Tatiana Farah e Ricardo Galhardo* SÃO PAULO e CAMPO GRANDE. A contadora Neli Chaves do Amaral desmentiu ontem Dario Morelli Filho, compadre do presidente Lula preso na Operação Xeque-Mate. Morelli dissera em seu depoimento que Neli, responsável pela contabilidade de sua empresa, poderia explicar a movimentação bancária de R$661 mil em 2006, além de especificar quais os clientes que ele atendeu nos últimos anos em sua empresa de locação de carros, a Dario Morelli Filho-ME, para campanhas eleitorais. - Nem sei se ele abriu conta (bancária) da empresa ou se usava conta de pessoa física. Ele era muito relaxado. Não mandava os documentos. Não tenho o controle bancário dele. Tenho o valor do faturamento. E é possível que ele tenha faturado bem mais - disse a contadora. Faturamento apresentado contradiz Morelli Segundo Neli, o faturamento de Morelli em 2006 foi de R$278.383,44 (ele declarou à PF que faturou R$661.707,69). Em 2005, a empresa faturou 42.654,56, segundo a contadora (embora Morelli tenha declarado à PF um faturamento de R$320.365,66). Somando-se ao salário de R$4,8 mil que Morelli ganhava na prefeitura de Diadema e ao "extra" mensal da empresa Deck Bingo - que ele admitiu receber, no valor de R$1,5 mil mensais - não se chega nem à metade do movimento bancário de R$661.707 de 2006. A contadoria disse que não fazia a declaração de Imposto de Renda pessoal de Morelli e afirmou não saber, por exemplo, se ele havia adquirido uma picape Mitsubish L200, avaliada em R$60 mil. - Eu o vi uma vez este ano, logo no início do ano - disse a contadora, em seu escritório no bairro de Santo Amaro. Segundo Neli, sócia-proprietária da empresa Systema Contábil, há outro problema no depoimento. O compadre de Lula afirma que usa dois funcionários de Neli em sua empresa como motoristas. Ela negou e disse que os funcionários são contratados pelo próprio Morelli. Neli disse que a Systema aluga sala para a empresa de Morelli e ambos usam o mesmo endereço: Rua Amaro Guerra, um local de classe média. A empresa de Nely presta serviço ao diretório estadual do PT e faz a prestação de contas das campanhas dos candidatos do partido no estado. Segundo ela, o PT representa "entre 15% a 20% dos clientes". A empresa informou que tem cerca de 80 clientes, entre indústrias e pequenas, médias e microempresas. Não é a primeira vez que o nome de Neli foi parar em uma operação da PF. Ano passado, ela e a empresa caíram no grampo das investigações sobre o dossiê contra tucanos, em que vários petistas foram presos tentando vender dossiê contra os candidatos José Serra e Geraldo Alckmin. Um celular usado pelo petista Hamilton Lacerda, um dos envolvidos, era de Neli. - Eu trabalho para o PT estadual. O celular estava emprestado para o PT. Não tive nenhum envolvimento. O delegado da PF Aldo Brandão, que, segundo gravações, é suspeito de ter vazado informações sobre a Operação Xeque-Mate, disse que o vazamento pode ter acontecido acidentalmente, numa barbearia, 15 dias antes de a operação começar. Ao depor à tarde na PF, em Campo Grande, ele disse que estava cortando o cabelo no salão, perto de um escritório de advocacia, de onde saiu Elenilton Dutra de Andrade, um dos presos. Segundo Brandão, Elenilton lhe disse que lera uma notícia sobre uma operação da PF e perguntou se ocorreriam mais prisões. - Eu respondi: "a polícia iria dar duro em cima desse povo" - disse Brandão. Na conversa gravada pela PF, Elenilton conta ao advogado Alexandre Frozino, em 19 de abril, que Brandão lhe dissera para tirar o "equipamento da rua". "Tira que vai ter operação", disse Brandão, segundo Elenilton. Legenda da foto: DELEGADO ALDO Brandão disse que vazamento pode ter ocorrido acidentalmente em uma barbearia COLABOROU: Nadyenka Castro (*) Enviado especial