Coluna - Panorama Político
Fazer o carro andarTereza CruvinelPresta-se pouca atenção ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), este órgão de aconselhamento do governo que reúne empresários, sindicalistas e gente da sociedade civil. É ele que, quando se reúne, investe contra o imobilismo que, apesar do momento virtuoso da economia, continua impedindo a aprovação de reformas que aplainariam o caminho do desenvolvimento, removendo obstáculos angulosos. O presidente Lula, como ontem, retoma o compromisso reformista, mas depois nada acontece.Ontem, os conselheiros cobraram muito a reforma tributária, a trabalhista e mesmo uma postura mais ativa do governo para retomar a reforma política, que já está quase no brejo, no Congresso. Mas o governo sofre de um recalque. Não consegue se valer nem das nomeações (que agora serão aceleradas, para garantir a CPMF) nem das grandes notícias que vem colhendo na economia, para gerar energia política e fazer com que sua base trabalhe melhor.Desde a semana passada, a área econômica prepara uma nova investida negociadora em torno de um projeto de reforma tributária. Não terá nada do que foi defendido ontem por Antonio Marmo Trevisan e outros conselheiros, um teto para a carga tributária que inibe as empresas e a redução gradual da alíquota da CPMF. Será basicamente o mesmo projeto já negociado quando Palocci era ministro da Fazenda. Ele reúne o ICMS e outros tributos num IVA (imposto sobre valor agregado) estadual e outro federal. Já seria uma grande descomplicação, ainda que não um muro de contenção da carga. É na bonança mesmo, na hora do crescimento, que se pode aprovar mudanças. Em tempos de vacas magras é que ela não sairá mesmo, disseram os empresários do grupo de trabalho da reforma tributária.O acordo essencial será com os governadores, que, da outra vez, caíram fora quando o governo deixou de cumprir o prometido em relação ao Fundo de Desenvolvimento Regional, que compensaria o fim dos incentivos ao investimento via guerra fiscal. Lula deu bronca nos empresários e sindicalistas que nada avançaram na negociação de mudanças na CLT e leis trabalhistas. Talvez seja hora de ele arbitrar, já que investiu na negociação mas ela não está andando.No segundo semestre, o governo pode mostrar que tem mesmo compromisso com a reforma política - uma reforma mais ampla, na linha da que Lula disse ontem desejar, que mexa com a forma de representação e com a duração dos mandatos. Se tiver, terá que sair da postura "não quero interferir para não me acusarem de ter segundas intenções". Terá que tanger os bois para fazer o carro andar.A boiada é grande e vem sendo bem tratada. As nomeações estão sendo aceleradas em todas as áreas. Ontem, o ministro Mares Guia acertou com vários ministros a conclusão deste processo, para sanar a insatisfação do PMDB e da base. Depois, afora vaias, crise no Senado e outros ruídos, coisas importantes estão acontecendo na economia e no país. E, para os políticos aliados, isso conta muito. No ano que vem, haverá eleições municipais, importantes para a reeleição dos deputados em 2010. É hora de Lula cobrar da base as reformas, e também a DRU e a CPMF, que o relator peemedebista Eduardo Cunha considerou constitucional, mas dando sinal verde também para a emenda que divide a receita com os estados. Brincadeira, só um terço da receita, uns R$10 bilhões.