Editorial CP - Uma greve despercebida

26 Jul 2007
Possivelmente, poucas pessoas no país tenham se dado conta de que há uma paralisação por parte dos servidores do Ministério da Cultura (MinC) há mais de dois meses. Na pauta de reivindicações, está o cumprimento de um acordo fechado em 2005, quando o governo, representado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), comprometeu-se a dar encaminhamento às reivindicações, entre elas, a criação do Plano Especial de Cargos da Cultura, o reajuste salarial, a incorporação de gratificações ao vencimento básico e a criação de cargos de nível auxiliar. Hoje, os salários são compostos por gratificações não reajustáveis e os vencimentos básicos não ultrapassam R$ 565,00. Do último concurso nacional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), realizado em 2005, há até agora um índice de desistência de quase 70% dos seus aprovados, pois a carreira se mostra desinteressante. A paralisação nacional, além do próprio ministério, abrange diversos órgãos vinculados. Entre eles estão o Iphan, a Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Fundação Cultural Palmares, Biblioteca Demonstrativa Nacional (BDN) e Funarte, além de vários e importantes museus, como o Museu Histórico Nacional e o Museu Imperial, entre outros. A cultura do país está com seus órgãos e instituições fundamentais sem funcionamento. É realmente lamentável que uma greve na cultura não represente uma preocupação maior para a sociedade e para os governantes. É frustrante que a paralisação das atividades de bibliotecas, de museus, do patrimônio histórico, de incentivo ao teatro, de licenciamento arqueológico, entre outras, pareçam não causar comoção social nem preocupações maiores. Isso indica que a cultura como atividade ainda é algo distante dos brasileiros, longe de ser uma prioridade, desafortunadamente. Resta esperar que o governo aja com bom senso e busque resolver o conflito com os servidores, que alegam exigir o cumprimento de um acordo firmado. A cultura não pode ser tratada com descaso. Sua contribuição aprimora os homens e as instituições.