Folha de São Paulo diz que "elite" do serviço público federal supera setor privado

13 Ago 2007
Um ano depois de um pacote de reajustes salariais que até hoje mantém os gastos com pessoal da União em alta, a elite do funcionalismo público federal já acumula ganhos acima da inflação, superiores aos padrões da iniciativa privada. Nas dez carreiras mais valorizadas do Executivo federal, todas de nível superior e quase todas exclusivas do Estado, o aumento real dos vencimentos desde o primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva varia de 15% a 80%, segundo levantamento feito pela Folha. É mais que o suficiente para incluir os servidores, uma das bases políticas mais tradicionais do PT, entre os setores do mercado de trabalho mais bem-sucedidos dos últimos quatro anos -e para levar, neste ano, os gastos com pessoal acima do patamar de 5% do PIB pela primeira vez sob Lula. O menor ganho desse contingente no período, concedido aos pesquisadores em ciência e tecnologia com doutorado, corresponde ao maior percentual apurado pelas pesquisas do Datafolha entre empresas privadas da Grande São Paulo -neste caso, a liderança fica com ocupações de nível básico ligadas à produção, que reúne, entre outros, mestres-de-obras, carpinteiros e eletricistas. O trabalho realizado regularmente pelo Datafolha entre 113 empresas de grande e médio porte dos setores de serviços, comércio, indústria e construção civil aponta que as ocupações de nível superior tiveram ganhos menores, de 8,9% em média, enquanto diretores e gerentes ficaram com 5,9%.Os dados do governo federal mostram que a melhora da remuneração pesa muito mais no crescimento dos gastos do que a polêmica ampliação do quadro de servidores promovida pela administração petista, revertendo um processo de enxugamento que vinha desde o início da década passada. Entre os civis do Executivo, o quadro de ativos teve um crescimento de 16% de 2003 a 2006, quando o número de servidores chegou a 528,1 mil. As despesas nesse segmento, porém, cresceram quatro vezes esse percentual: de R$ 19,9 bilhões para R$ 32,6 bilhões, ou 64% -e, neste ano, é esperada uma alta adicional de 17,8%.Quase toda a expansão está concentrada no pacote de benefícios concedido às vésperas da campanha eleitoral de 2006, com reajustes programados até 2009 -quando procuradores e advogados da União passarão a ganhar R$ 17 mil mensais e se tornarão os servidores mais bem remunerados do Executivo. No início de 2006, 4,8% dos servidores ostentavam salários acima dos R$ 8.500 mensais. Em dezembro, eram 8%. "Nós procuramos valorizar as carreiras típicas de Estado e também recuperamos algumas carreiras da base que estavam aviltadas", diz o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), para quem o governo Fernando Henrique Cardoso deixou defasagens salariais no setor. Das dez carreiras mais bem pagas hoje, só três tiveram ganhos reais entre 1998 e 2002. Mas os números desmentem o congelamento dos salários alegado pelos sindicatos. Bernardo acredita que a qualidade dos serviços prestados pela elite dos servidores justifica os salários e cita o que considera duas das "ilhas de excelência" da administração, o Itamaraty e a Polícia Federal. (Gustavo Patu/Folha)