Obras eruditas para o grande público

13 Ago 2007
Mônica KanitzMúsica, para ser música, tem que estar nas salas de concerto. Se as composições dos grandes mestres têm seu espaço garantido há séculos, as obras dos novos autores também merecem ser ouvidas. É este o conceito que está na base do Festival Contemporâneo RS, programa criado há quatro anos com o objetivo de divulgar a produção erudita dos séculos XX e XXI, com destaque para a música feita no Estado. Seu idealizador é o baiano Januíbe Tejera, que se formou em Composição na Ufrgs e vive na França, onde estuda no Conservatório de Música de Paris. "Eu sou um compositor e tinha dificuldade para mostrar minha música. Outras pessoas chegaram com a mesma preocupação e resolvemos abrir um espaço. Neste jogo de organizar o festival, percebemos que dava certo. Hoje, mesmo vivendo longe de Porto Alegre, faço questão de encabeçar e manter o projeto, porque ele ganhou relevância", explica Tejera.Segundo ele, a iniciativa é tão importante para compositores conceituados, como Celso Loureiro Chaves, Flávio Oliveira e Fernando Mattos, quanto para a geração que vem vindo. "A idéia é mostrar as obras de autores já conhecidos e gerar novos artistas", acrescenta. No caso do Rio Grande do Sul, Januíbe chama a atenção para alguns nomes, como Rogério Vasconcelos, Ricardo Mitidieri e Rodrigo Avelar. "Eles têm em comum um bom gosto natural, acabamento e refinamento para a composição". Bem mais amplo que as edições anteriores, o 4º Festival Contemporâneo RS é dedicado à música do Rio Grande do Sul. De hoje até o dia 22 de agosto, o público poderá acompanhar oito concertos que serão protagonizados pelos músicos mais atuantes do Estado, incluindo aí três orquestras: Ospa, Theatro São Pedro e Ulbra. A abertura será hoje à noite, às 21h, no Theatro São Pedro, com uma apresentação da orquestra de câmara do teatro com a pianista Catarina Domenici e os solistas convidados David Fulmer e Joan Heller, ambos dos Estados Unidos. O repertório traz obras de Bruno Kiefer, dos norte-americanos Pozzi Escot e Roberto Cogan e do próprio Januíbe Tejera. Durante toda esta semana, haverá concertos às 20h no Instituto Goethe com repertório de música de câmara, de música eletroacústica e para cantores ou pequenos grupos de solistas. O encerramento será com a Ospa interpretando obras de Celso Loureiro Chaves, Dimitri Cervo, Ricardo Mitidieri, Rogério Vasconcelos e Wagner Cunha. Além dos concertos, estão previstos debates, sempre aos domingos, às 15h, sobre temas pertinentes à produção erudita contemporânea. "Este ano vamos homenagear o Rio Grande do Sul, mas a partir de 2008 queremos abrir o festival para outros estados. A intenção é formar uma rede para a circulação destas obras, para o Brasil conhecer o Brasil erudito", explica Januíbe Tejera. Fazer este intercâmbio seria um caminho para resolver problemas como a falta de intérpretes e, conseqüentemente, a falta de público para a música erudita. "Ainda persiste a idéia de que a música contemporânea é difícil e complexa. Mas isso vem dos anos 1950, ou seja, já passou há muito tempo", afirma. Outra questão é que a música erudita não parece fazer parte da cultura brasileira e soa estranha ao público. "Um erro grave no Brasil é a falta de investimento neste tipo de produção. A música erudita está muito restrita ao ambiente acadêmico e praticamente não existe um diálogo entre as orquestras e os centros formadores de instrumentistas", acrescenta Januíbe. Enquanto na Europa e nos Estados Unidos há festivais e programas sistemáticos para divulgação de novas obras eruditas, no Brasil o panorama se restringe a três projetos: a Bienal do Rio de Janeiro, um festival dos compositores de São Paulo e outro ligado à universidade de Mato Grosso. "Com o Festival Contemporâneo RS queremos transformar Porto Alegre em pólo musical e mostrar que música erudita não significa um conjunto fechado de obras de arte".