Editorial do Correio critica burocracia contra a literatura

17 Ago 2007
Editorial Correio do PovoCausou espanto no meio cultural no Estado e no país a notícia de que o Conselho Estadual de Cultura, com base num parecer emitido por um de seus integrantes e aprovado pela maioria de seus conselheiros, tenha negado a habilitação para que a Jornada de Literatura de Passo Fundo pudesse captar recursos por meio da Lei de Incentivo à Cultura (LIC). A Jornada é um dos eventos literários mais tradicionais no país e tem o mérito de colocar Passo Fundo e o Rio Grande do Sul no mapa cultural do mundo. Basta ver a relação de escritores participantes todos os anos para se ter uma idéia de sua dimensão. O evento, que começou de forma mais restrita nas dependências do Clube Juvenil, nunca parou de crescer e hoje conta com milhares de pessoas que se reúnem no Circo da Cultura, montado no Campus I da Universidade de Passo Fundo (UPF). Esta edição da Jornada ocorrerá de 27 a 31 de agosto e contará com escritores como Marina Colasanti, Ziraldo, Affonso Romano de Sant´Anna, Ignácio de Loyola Brandão, Lya Luft, Nelson Motta e outros. Felizmente, a ação do Conselho contra a realização da Jornada acabou por ser neutralizada pela disposição de rever o parecer contrário. A organização da Jornada impetrou recurso e o parecer deverá ser revogado para que outro seja emitido a fim de ser votado pelos conselheiros. Parece que, finalmente, o bom senso volta a imperar, pois não se pode permitir que uma atividade da envergadura cultural do evento proposto venha a ter a oposição de um órgão que foi criado justamente para fomentar a cultura. A Jornada de Literatura de Passo Fundo é fruto da dedicação e dos esforços de alguns abnegados, como a professora Tania R´sing e seus colaboradores. Quem acompanhou o início sabe o quanto era difícil, em meados dos anos 80, convencer escritores consagrados a viajar do centro do país para Passo Fundo, tarefa que era desempenhada com afinco pelo escritor Josué Guimarães, o primeiro embaixador da Jornada. Agora, com consagração nacional e internacional, não é a hora de permitir que interesses menores coloquem entraves à sua realização. A burocracia dos gabinetes precisa aprender com um circo de cultura a céu aberto. Correio do Povo Porto Alegre - RS - Brasil