Mino Carta / Carta CapitalSerá lançado hoje em São Paulo um livro de Raymundo Faoro, a meu ver e de muitos mais, o maior pensador político brasileiro. Trata-se do resultado do trabalho mais que meritório de outro notável intelectual, Fabio Konder Comparato. No livro, intitulado A República Inacabada, Comparato reuniu dois ensaios de Faoro, já publicados, bem como um artigo sobre Sergio Buarque de Holanda. O autor de Os Donos do Poder foi meu grande e afetuoso amigo, para minha alegria e a bem do meu escasso saber. Entre outros méritos, tenho o de ter acompanhado Faoro na sua primeie a visita à Europa, em abril de 1993. Fomos a Londres, Paris e à Itália, onde nos demoramos mais. E o ponto alto do roteiro foi o encontro entre Faoro e a terra de seus avós, vila de três mil habitantes, Arsié, na circunscrição de Belluno, encostada nos Alpes dolomiticos. De fato, ele era um montanhês veneto de um metro e noventa e pulsos grossos. Em Arsié, metade da população chama-se Faoro. Agrada-me muito que, desde junho passado, três netos de Faoro, Guilherme, Maria e Cecília, nascidos entre 1992 e 1997 e cariocas de gema, dispõem de cidadania italiana, juntamente com o pai André, concedida pelo Comue di Arsié, Província de Belluno. Já faz quatro anos e alguns meses que Faoro nos deixou, ao cabo de longa enfermidade. Sinto dele imensa falta, e sei que muitos a sentem, e o País, mesmo que outros tantos não se dêem conta disso.Enviada por Mino Carta