Notas sobre o novo mundo pós-americano

05 Set 2007
LARISSA ROSO Conhecido pela veemência com que ataca a globalização capitalista e a administração George W. Bush, além de investir contra conceitos como o de Terceiro Mundo, o sociólogo norte-americano Immanuel Wallerstein foi um dos convidados do encontro de ontem à noite do ciclo Fronteiras do Pensamento, no Salão de Atos da PUCRS. Na conferência Impasses e Transformações para o Século 21, que teve ainda a participação de Nelson Boeira, professor da UFRGS e ex-reitor da Uergs, Wallerstein se concentrou na descrição daquilo que chama de "mundo pós-americano" - e fez questão de se pronunciar em português, desculpando-se pelos deslizes para o "portunhol" de sotaque carregado. Enumerou alguns dos principais episódios históricos a partir da II Guerra Mundial, quando os EUA despontaram como único poder que resistiu ao conflito sem danos importantes, e apontou o declínio da superpotência, verificado, segundo ele, mais recentemente.- O país teve líderes frágeis, que não eram homens sérios - explicou o professor da Universidade de Yale, citando Ronald Reagan como exemplo.Wallerstein, que freqüentou a Universidade de Columbia da graduação ao doutorado, fez um retrospecto da intervenção americana no Iraque. - Se os EUA queriam levar democracia ao Iraque, não deveriam ter apoiado Saddam Hussein durante 20, 25 anos. Ajudaram-no a chegar ao poder, ele era um agente da CIA. Não acredito que alguém no Iraque acredite que os EUA invadiram para levar democracia ao país - comentou o pesquisador nova-iorquino. Aproveitando a viagem surpresa do presidente Bush à base militar de Al-Asad, na província de Ambar, aonde chegou na segunda-feira, Wallerstein analisou o saldo atual da desgastante campanha iniciada a partir da invasão de março de 2003. Violência deve continuar após retirada americana- Do ponto de vista dos EUA, o Iraque é um desastre absoluto. Os americanos perderam a guerra, serão forçados a recuar. A real questão política hoje não é se podemos ficar lá, mas quem será culpado pela derrota humilhante: o Partido Republicano ou o Partido Democrata? E é sobre isso que eles estão brigando agora - disse o professor. - Do ponto de vista dos iraquianos, é também um fracasso. O Iraque tem hoje cerca de um quarto do Produto Interno Bruto que tinha 15 anos atrás. Existe muita violência, que vai continuar depois da retirada. Se isso pode ser resolvido com algum compromisso político, é uma questão incerta, para o futuro - concluiu. Ao final da exposição, Immanuel Wallerstein autografou o livro O Universalismo Europeu - A Retórica do Poder, lançado este ano no Brasil pela Boitempo Editorial, em que questiona o conteúdo do discurso de grandes líderes para justificar intervenções militares e a dita inevitável, por falta de alternativa, subjugação de nações pobres pelas grandes potências.