Distintas faces do mesmo Antunes Filho
O s dois espetáculos do Centro de Pesquisa Teatral (CPT) em cartaz no 14º Porto Alegre Em Cena colocam no palco duas faces de uma mesma moeda chamada Antunes Filho. Prêt-à-Porter 09 é a continuação de uma série iniciada há 10 anos. Era praticamente um exercício, criado por Antunes para privar o ator de gestos, atuações e reações musculares estereotipadas - cenas cotidianas, sem luz ou cenografia especial, apenas o ator vivendo literalmente seu papel. O exercício acabou virando espetáculo, lotando sessões, e hoje seria já um tipo de teatro, segundo Antunes Filho.A Pedra do Reino é quase uma reação do diretor ao teatro que se faz atualmente. Antunes Filho recriou os textos de Ariano Suassuna Romance dA Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai - e - Volta (1971) e sua continuação, História dO Rei Degolado nas Caatingas do Sertão - Ao Sol da Onça Caetana (1977), em uma peça de 90 minutos. Para opor-se ao excesso de informação do mundo de hoje, optou por encenar em uma caixa preta, apostando nos movimentos, na música e na fala.- Não é só ficcional - explica. - Há também o lado humano de Suassuna em cena. Quis identificar o personagem principal com ele e suas contradições.O personagem principal é Pedro Dinis Quaderna, sertanejo acusado de subversão pelo Estado Novo de Vargas e preso em uma cadeia do sertão da Paraíba. Ele se defende das acusações argumentando que é descendente de verdadeiros reis brasileiros. Na montagem tradicionalmente revolucionária de Antunes (ou será revolucionariamente tradicional?), misturam-se elementos como o Cangaço, a Revolução de 30, a literatura de cordel, os repentes, a Coluna Prestes, o cinema de Fellini e o teatro japonês do grupo Ishin-há.Antunes Filho disse que evitou assistir à minissérie e ao longa A Pedra do Reino, dirigidos por Luiz Fernando Carvalho: - Não quis ver antes de criar a minha Pedra do Reino e nem depois. Não quero julgar nada. Essa é uma questão ética.