Alimentos saudáveis
Cristine PiresA lista dos alimentos proibidos registra novas baixas. O velho discurso de que alguns deles podem prejudicar a saúde cai por terra com estudos que mostram seus benefícios. "As ciências são mutáveis e, com o passar dos anos, são descobertos elementos importantes para o corpo humano", afirma o presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, Durval Ribas Filho. Atentas às novas informações, empresas e entidades que representam as indústrias alimentícias adotam estratégias de marketing para esclarecer o consumidor e mostrar a reviravolta no mundo da nutrição. O objetivo é conquistar clientes que ainda têm receio de incluir determinados produtos em suas dietas.O chocolate é um dos exemplos mais recentes de descobertas de ações benéficas. Pesquisas científicas da Associação Americana do Coração, dos Estados Unidos, demonstram que, na versão meio-amargo, auxilia a baixar a pressão sangüínea. O que ajuda os hipertensos é a grande concentração de flavonóides. O alimento também tem o poder de "imitar" a anandamida, um neurotransmissor que favorece a liberação da dopamina, responsável pela sensação de prazer. Além disso, a alta presença de polifenóis (antioxidantes) pode contribuir para evitar o surgimento de doenças crônico-degenerativas. É o caso da epicatequina, cuja função é combater os radicais livres, substâncias que causam envelhecimento precoce. "Trabalhos científicos revelam que, duas horas após a ingestão de 40 gramas de chocolate, é possível conferir o pico de epicatequina no sangue", destaca Ribas Filho. Mas, atenção: isso não significa que as pessoas devam aumentar a quantidade ingerida por dia. O chocolate possui bastante gordura, açúcar e é rico em calorias, o que faz com que seu consumo deva ser controlado. "A quantidade de 40 gramas é o suficiente. Acima disso, o efeito é o mesmo", explica o especialista. Esta quantidade é tida como segura para evitar o aumento de peso, levando-se em conta uma dieta com base em 2,5 mil calorias por dia. Isso, claro, respeitando as características de cada indivíduo. O fundamental, completa, é que o chocolate tenha alta concentração de cacau, pois é no pó da fruta que estão todas as substâncias benéficas. "O desafio das indústrias, hoje, é aumentar a quantidade do cacau e manter o sabor do chocolate", diz ele. As indústrias não perderam tempo e já estão com produtos deste tipo no mercado. A Hershey´s, por exemplo, lançou o Special Dark, que possui 60% de cacau em sua composição. A nova linha também apresenta quantidade reduzida de açúcar e taxa zero de gordura trans - tipo de gordura que aumenta os níveis do mau colesterol que circula no sangue -, além de possuir alto teor de fibras provenientes do cacau. "Para garantir o sabor puro e intenso, o chocolate é feito com grãos especialmente selecionados, gerando o mais puro liquor do cacau, sem adição de outros tipos de gordura", explica a gerente de marketing da Hershey´s, Renata Vieira.As informações pró-chocolate também são usadas como ferramenta para estimular as vendas. "Repassamos os dados para os nossos vendedores e promotores de venda em todo o Brasil por meio de treinamentos, para que eles possam esclarecer o consumidor e os varejistas sobre os benefícios associados ao chocolate com alto teor de cacau", conta Renata. Além disso, as embalagens recebem selos com as informações e são feitas degustações nos supermercados para passar o conceito de saudabilidade em chocolate.Resultado: a Hershey´s registrou crescimento de 27%, no ano passado em relação a 2005, no segmento de chocolates com maior teor de cacau, menos adocicados, enquanto o mercado de chocolates cresceu 17% nesse mesmo período. Os consumidores que têm mais preferência por estes tipos de chocolate estão concentrados no Estado de São Paulo (43%) e na região Sul (27%), onde o consumo de chocolate meio-amargo cresceu 55% entre 2005 e 2006. No Brasil, o sabor representa 6% do total do mercado de tabletes. Nos Estados Unidos, esse mercado já representa 15% das vendas de chocolates, onde a Hershey´s é líder com 76% de participação.Ovos Brasil vai estimular o setor no PaísA aposta da avicultura nacional para estimular o segmento é tanta que os produtores lançam, nesta semana, a Ovos Brasil, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) que vai desenvolver ações em prol do consumo de ovos. O lançamento será feito no próximo dia 27, durante o Congresso Latino Americano de Avicultura, que acontece na Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs). A associação surge como forma de estimular o fortalecimento, crescimento e expansão das atividades de produção, comercialização e consumo de ovos, além de promover a segurança alimentar e nutricional. No Rio Grande do Sul, a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) desenvolve ações pontuais há muito tempo. A conseqüência é que o Estado está entre os que mais consomem ovos no Brasil. "Divulgamos as propriedades do alimento, caso das vitaminas, e esclarecemos sobre o mito do colesterol", informa o secretário-executivo da Asgav, Eduardo Santos. Estudos sobre o ovo destacam que a gema contém maior quantidade de colina, uma substância derivada do aminoácido serina (associada à sensação de bem-estar), entre os componentes da dieta comum. Uma unidade tem cerca de 130 miligramas de colina, enquanto uma posta de 100 gramas de salmão tem 56 miligramas. O resultado de pesquisas feitas pelo Departament of Agriculture (Estados Unidos), constatou que nenhum alimento supera a gema do ovo em concentração de colina. "Estima-se que a concentração circulante de colina duplica após a ingestão de uma refeição contendo dois ovos", diz o professor Cícero Galli Coimbra, do departamento de neurologia da Universidade Federal de São Paulo. A colina é necessária para produção de novas células e para reparação das membranas celulares lesadas, que deve ser particularmente sensível à deficiência de colina, pois as células nervosas necessitam produzir mais quantidade de membrana celular do que qualquer outra célula.A estratégia da Asgav inclui cartazes com informações e cartilhas com receitas nos pontos-de-venda, além da distribuição de imãs de geladeira com doze razões para comer ovos. Todas estas propriedades são difundidas não só entre os consumidores, mas também entre nutricionistas. "Queremos mostrar que o ovo, com seus nutrientes e vitaminas, ajuda na recomposição do sistema neural", reforça Santos. A colina, lembra, também é muito indicada para problemas de visão. O esforço é para aumentar ainda mais a venda do produto. No Brasil, são consumidos 142 ovos por habitante a cada ano. No México, este número pula para 346 ovos per capita/ano. Entre os gaúchos, o volume é de 158 unidades/ano por habitante.O desafio é agregar valor ao produto. As indústrias investem em pré-cozidos, processados e termoprocessados. "Em breve, teremos empresas gaúchas fabrincado ovo em pó", relata o dirigente. O Rio Grande do Sul produz, em média, 4,9 milhões de caixas com 30 dúzias de ovos. São 42 grandes e médios avicultores filiados à Asgav e cerca de 250 mini e pequenos espalhados pelo Estado. Propriedades do vinho incrementam consumoA composição é simples: cada litro de vinho tem de 85% a 90% de água, pouco açúcar - cerca de 80 gramas - e de uma a duas gramas de proteína. Uma das bebidas mais ricas em aminoácidos, o vinho tem vários pontos a seu favor: não tem gordura e contém vitaminas, eletrólidos e oligoelementos. "Tudo isso em forma quelada, ou seja, facilita a absorção pelo organismo", diz o especialista em Clínica Médica, Jairo Monson de Souza Filho, que atua na área de Cardiologia. Também conta pontos o fato de apresentar micro e macronutrientes e ser considerado um alimento funcional. A restrição? Única e exclusivamente o fato de ser consumido em excesso. "O vinho tem mais de mil substâncias estudadas e só uma causa dano à saúde: o álcool", destaca o médico.Moderadamente é superindicado. Os cientistas já tentaram definir qual a quantidade segura, mas isso é individual, adverte o especialista. "Precisa-se levar em conta o sexo, a idade e até mesmo o peso do fígado", explica Souza Filho. A grosso modo, no entanto, estima-se uma média de 300 a 350 mililitros para homens e 200 a 250 mililitros para mulheres por dia. Mais de 300 trabalhos científicos foram publicados mostrando o poder do vinho no combate a neuropatias. Uma delas releva que a bebida pode contribuir para a prevenção do Mal de Alzheimer. Também ajuda a evitar demência senil e vascular. "Os efeitos são os mesmos a partir de 250 mililitros consumidos por dia", orienta o especialista. De acordo com ele, o vinho é hoje, entre todas as bebidas, a mais favorável à saúde, se bebido junto às refeições, regularmente, com moderação e por quem não tem contra-indicação a bebidas alcoólicas.Os mesmos polifenóis encontrados no chocolate tornam o vinho uma bebida diferente. "Já se identificaram cerca de 200 polifenóis nos vinhos. Eles têm origem quase que exclusivamente - cerca de 95% - nas cascas e sementes das uvas", diz Souza Filho. Os vinhos tintos têm cerca de 10 vezes mais polifenóis que os vinhos brancos (que fermentam sem cascas e sementes de uva). É por isso que os tintos têm mais virtudes para a saúde. Os polifenóis existentes nos vinhos brancos são em menor número, porém com uma ação antioxidante mais potente.Não é para menos que houve uma inversão completa no consumo. De acordo com a Federação das Cooperativas de Vinicultores (Fecovinho), o vinho branco tinha 70% da preferência do público há cerca de 20 anos. Hoje, a proporção é exatamente inversa: 70% das vendas são de vinho tinto. "Os estudos sobre as propriedades foram fundamentais neste processo. A influência é muito grande nos consumidores", admite o presidente da Fecovinho, Alceu Dalle Molle.Os esforços agora são para incrementar o consumo no Brasil, um dos países que tem os melhores vinhos em termos de qualidade mas que está aquém das médias mundiais. Enquanto na França, por exemplo, são consumidos 59 litros per capita/ano, o Brasil não chega a três litros por habitante ao ano. "É um volume irrisório", lamenta Dalle Molle. Além disso, os produtores sofrem com a entrada de vinhos estrangeiros, que tem uma carga tributária muito inferior à praticada no Brasil. "Estamos com estoque de vinho em casa em função desta concorrência desleal. É necessária uma reforma tributária urgente", reclama.Preconceito contra o café cai após estudos mostrarem seus benefícios Por quase 200 anos - de 1820, desde a descoberta da cafeína, até 2000 - a maioria das pessoas pensava que o café era só cafeína, que fazia mal à saúde e que crianças e jovens não podiam consumi-lo. Um grupo de pesquisadores brasileiros resolveu se aprofundar no tema e, a partir de 1984, os professores Luis Trugo, PhD na Inglaterra e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Darcy Lima, PhD na Inglaterra e da UFRJ mostraram que o café possui diversas substâncias saudáveis, como os antioxidantes, ácidos clorogênicos, as lactonas formadas na torra adequada, a vitamina B3 e minerais como potássio, ferro e zinco.Diversos centros do mundo confirmam os benefícios do café para a saúde e, lentamente, o preconceito científico está desaparecendo. "Estamos falando da bebida mais consumida no mundo, depois da água", diz Lima, que é consultor de Café da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). O café previne - não cura nem serve para tratamento - uma série de doenças, como depressão, suicídio, alcoolismo, cirrose, diabetes do adulto (tipo 2), Parkinson, Alzheimer, câncer de fígado, mama e colo-retal. Ainda melhora o aprendizado e desempenho escolar. "Por isto, é a bebida mais recomendada para estudantes de todos os níveis como parte da merenda escolar e deve substituir o consumo de refrigerantes que só causam obesidade infantil."A Abic apóia as pesquisas na área de Café e Saúde há mais de dez anos, e divulga os novos conhecimentos sobre o tema por meio de campanhas de marketing. A entidade considera fundamentais os investimentos em promoção para assegurar o aumento do consumo de café. Em 2006, ao lado das iniciativas do setor, que somaram contrapartidas privadas em valor superior a R$ 2 milhões, foram aplicados R$ 5 milhões com recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), através do Programa Integrado de Marketing (PIM), elaborado pelo Comitê de Mar-keting do Conselho Deliberativo da Política Cafeeira e coordenado pelo Departamento do Café, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Para 2007, o PIM 2007 está alocando mais recursos para Publicidade e Promoção dos Cafés do Brasil aqui e no exterior: R$ 13 milhões.