Medíocres e medianos

01 Out 2007
Juremir Machado da SilvaAlguns leitores me acusam de não falar mal dos governos de Yeda Crusius e de José Fogaça. Acham que eu só pego no pé do pobre do Lulla. É falso. Eu o faço na medida do possível. Não posso inventar fatos. Pratico o realismo livre e desimpedido. O problema é que eles fazem tão pouco que não geram assunto. Chega a ser desesperador. Os maiores escândalos dessas duas administrações são o marasmo e a mediocridade. Elas são, na verdade, bem piores que medíocres: são medianas. A mediocridade tem certo encanto. Ela é radical e profunda. Já o mediano é alguém que nem sequer conseguiu ser medíocre, o que exige um talento especial. Eu não hesito em me gabar: sou medíocre e maldito. Estou acima (abaixo) da média. Tudo o que eu sei sobre as realizações dos governantes é o que leio nos jornais. Deve existir uma conspiração da mídia gaúcha contra Yeda e Fogaça. Só pode ser uma armação dos jornalistas manipuladores e ideológicos. Todo santo dia eu procuro sofregamente na imprensa notícias sobre os feitos do prefeito e da governadora. Nada encontro. Infelizmente. Deve ser culpa da mídia petista. Como todos sabem, as redações são antros de esquerdistas de crista baixa, mas prontos a minar o terreno dos inimigos. Não posso, contudo, ser injusto com Yeda Crusius. Tenho de destacar os seus feitos. Ela já produziu, em menos tempo, mais notícias do que Fogaça. Por exemplo, a ´enturmação´ proposta pela sua secretária de Educação para piorar as condições de trabalho dos professores da rede estadual. É uma façanha digna de não servir de modelo a toda terra. Não é fácil piorar algo que já atinge níveis elevados de deterioração. O tratamento dado ao magistério pelo atual governo mostra como, contrariando o senso comum, pode haver continuidade entre os sucessivos governos. Sai governo, entra governo, o magistério vai de mal a pior. Outra façanha de Yeda Crusius foi o envio do orçamento de 2008 para a Assembléia Legislativa com um rombo de mais de R$ 1 bilhão. Tem o valor da sinceridade e da impotência. Ah, tem também a briga com o poder Judiciário por dinheiro. Certo, o Estado está quebrado. Mas a candidata Yeda Crusius parecia convencida de que encontraria soluções a curto e médio prazo. Não? O prefeito Fogaça é um homem tão discreto que está quase esquecido. Eu admiro a sua elegância silenciosa, o seu tom moderado e reflexivo e a sua postura fleumática. Tudo nele contrasta com a agressividade arrogante e auto-suficiente da governadora. Não fosse pelo ´Porto Alegre é demais...´, que ainda ressoa no céu da Capital, eu teria de procurar no Google a sua biografia. Volta e meia, alguém tem dificuldade para lembrar o nome do prefeito de Porto Alegre. Mas também não posso ser injusto com ele. Afinal, cada um tem direito ao seu estilo. Fogaça tem uma grande realização na sua gestão: o fim da conversa fiada cotidiana sobre a importância universal, intemporal e revolucionária do Orçamento Participativo. Aquele papo diário de cartilha leninista era insuportável. Talvez nunca uma população tenha sido submetida a doses tão cavalares de propaganda enganosa. Nada tenho contra o OP. Admito que favorece a participação e a cidadania. A sua importância, porém, era conscientemente exagerada. Aí está, a maior obra de José Fogaça é uma não-obra, um silêncio. O resto ninguém viu. juremir@correiodopovo.com.br Correio do Povo Porto Alegre - RS - Brasil