Jornada de horas efêmeras
ZH acompanhou três espectadores de "Les Éphémères" em oito horas de peçaO Porto Alegre em Cena se encerrou com uma prova de resistência. A peça Les Éphémères, da comunidade teatral francesa Théâtre du Soleil, foi exibida com as duas partes em seqüência, em oito horas de teatro para as quais Zero Hora recrutou, na fila, um trio de jovens dispostos a compartilhar suas reações e impressões.Estudantes de teatro da UERGS em Montenegro, Juliana Marques, 21 anos, e o casal de namorados Giovanna Zottis, 22, e Fábio Castilhos, 23, já haviam madrugado na fila na época da abertura da bilheteria para garantir os ingressos para Les Éphémères. Às 14h, estavam novamente entre os primeiros a chegar ao local de encenação.Les Éphémères encena momentos efêmeros do cotidiano, em esquetes independentes mas interligados. O cenário atravessa o tablado à frente da platéia em plataformas de madeira giratórias empurradas por outros integrantes do elenco. A cada cena, as plataformas giram, oferecendo ao público a oportunidade de ver o que acontece de todos os ângulos.- É um recurso lindo, lembra também cinema - comenta Juliana.O espetáculo começa às 15h20min. As cenas são intensas. Os dramas expostos arrebatam o trio. Quando as luzes acendem para o intervalo na metade da primeira parte - e entram no teatro as crianças do grupo, filhos do próprio elenco, oferecendo biscoitos e água à platéia - , muitos espectadores ainda enxugam as lágrimas. Juliana e Giovanna não são exceção. No esquete no qual uma senhora senil é atendida por uma médica interpretada pela brasileira Juliana Carneiro da Cunha, as duas não resistem e se entregam ao choro.- Me pareceu tão próximo da gente. Abandono na velhice é algo tão tristemente comum que aquilo me tocou - contou Juliana.Ao fim da primeira parte, o trio parece surpreso por já terem passado três horas e meia.- Numa outra edição do Em Cena, eu vi O que Diz Molero, que durava quatro horas e também era ótima, mas o tempo demorou mais a passar naquela vez - disse Fábio.Enquanto o trio come a refeição servida pelo próprio elenco da peça no intervalo de uma hora e meia entre as duas metades do espetáculo, Giovanna arrisca uma explicação para o arrebatamento provocado pelo espetáculo:- Eles começam a apresentação varrendo o palco, as crianças vêm entregar biscoitos nos intervalos, a sensação é de que estamos visitando alguém. É como se estivéssemos numa casa de família vendo uma cena real. Mas, mesmo agradáveis, visitas que se prolongam têm seus inconvenientes. A partir de um determinado momento, a magia do espetáculo tem de competir pela atenção do público com inconvenientes como dores provocadas pelas arquibancadas de madeira. - No último intervalo, o cansaço me pegou, não sabia que posição achar na cadeira e briguei com o sono, porque queria muito saber o que ia acontecer - comentou Fábio, que deixou o galpão depois da meia-noite. CARLOS ANDRÉ MOREIRA