Crimes financeiros deram prejuízo de R$ 50 bilhões
O pedido de extradição do banqueiro Salvatore Cacciola levantou a ponta do véu que encobre um problema para o qual a estrutura fiscalizadora, jurídica, a mídia e até a opinião pública não estão aptas a apontar, punir, divulgar e dar-se conta neste imenso Brasil de leis e mais leis que, ao contrário do que se propõem, acabam facilitando a ação dos bem vestidos, os de colarinho branco. Dados do Ministério Público Federal, do Banco Central e do Controle de Atividades Financeira, Coaf, indicam que o País perdeu algo em torno de R$ 50 bilhões na última década, principalmente após o Plano Real. Não por culpa dele, pelo contrário. Com a estabilização da moeda e a queda brusca da inflação surgiram fatos antes camuflados. De 1996 a 2006 as comunicações do Banco Central ao Ministério Público Federal sobre operações com indícios de irregularidades totalizaram 13.627, com a média de 3,8 denúncias a cada dia útil neste período. Os casos mais rumorosos foram os da Coroa/Brastel, do Nacional, do Econômico, do Bamerindus, do Papatudo, do Banco Santos, dos Precatórios e do Marka, no total citado de R$ quase R$ 51 bilhões. O que mais constrange é que, à exceção exatamente de Salvatore Cacciola, nenhuma condenação ocorreu. Não há ninguém preso por estes desvios que deram o brutal prejuízo à sociedade, ao Brasil. Cacciola foi condenado mas fugiu do País, aproveitando-se de sua dupla nacionalidade, brasileira e italiana.Segundo o Conselho Nacional de Justiça, CNJ, estão sendo processadas atualmente na Justiça Federal sete mil pessoas por lavagem de dinheiro. Enquanto nos irritamos, indignamos e apontamos para a insegurança das cidades, para os problemas políticos e as distorções no modelo de representação que temos nos legislativos municipais, estaduais, na Câmara e no Senado, financeiras, seguradoras, fundos de pensão, loterias e mercado imobiliário apresentaram desvios, fraudes e simulações terríveis e jamais totalmente elucidadas. Agora mesmo volta a fraude com o subfaturamento nos cartões de crédito, com sonegação calculada em R$ 1,5 bilhão. É quase tudo o que a União destinará como reforço para o Sistema Único de Saúde. O caso mais antigo é o Coroa Brastel, de 1983, quando R$ 650 milhões em notas de câmbio sem valor foram espalhadas no mercado. O proprietário do grupo, porém, foi preso, processado e condenado. A fraude do Banco Nacional é de 1995, com um rombo de R$ 28 bilhões em valores atualizados. Todos os 12 indiciados aguardam o julgamento em liberdade. Os crimes de colarinho branco não estão dando punição, com penas de prisão ou pecuniárias. Os ardilosos fraudadores enviam o dinheiro para os chamados paraísos fiscais e, neles, a Justiça brasileira nada consegue. Por que Cacciola não foi deportado a pedido do Brasil pela Itália? Há quem diga que o grande problema dos crimes de colarinho branco é que as vítimas são invisíveis, todos nós, o dinheiro público, o Tesouro Nacional e a sociedade como um todo. A governadora Yeda prevê, entre suas medidas, o combate à sonegação. Vamos pressionar diretamente pela "apuração rigorosa" e a "punição exemplar". Mas nem tudo está perdido, pois as ações do MP, da Polícia Federal, as escutas telefônicas autorizadas e a delação premiada têm estancado as vigarices em várias frentes, como noticiado. Menos recursos na Justiça, mais agilidade e treinamento para permitir que os juízes trabalhem além dos crimes tradicionais.