O enigma chamado Öyvind Fahlström
Obra do artista só pode ser fotografada a distânciaFotografias como a que se vê abaixo - distantes, meio genéricas, sem identificar nenhum dos trabalhos em exibição - são as únicas permitidas na mostra dedicada a Öyvind Fahlström, dentro da 6ª Bienal do Mercosul.As 19 gravuras que compõem a exposição, no segundo andar do Margs, na Praça da Alfândega, não podem ser fotografadas nem filmadas. As peças não estão reproduzidas nem sequer no catálogo oficial da Bienal.Trata-se de uma exigência da viúva do artista, falecido em 1976, aos 47 anos, vítima de um câncer. Sharon Avery-Fahlström só libera fotografias do artista ou reproduções de suas obras se tiver a palavra final sobre exposições, catálogos e publicações em geral. Ela não conseguiu chegar a um acordo com o curador-geral da 6ª Bienal, Gabriel Pérez-Barreiro. O próprio Gabriel atribui o impasse à opção que ele fez: o texto que encomendou para o catálogo, de autoria do escritor e tradutor Antonio Sérgio Bessa, procura não apenas revisar o legado de Fahlström - sujeito de extensa atividade (artista plástico, poeta, jornalista, ator, cineasta e ativista político), de curiosa trajetória pessoal (nascido em São Paulo, de pais suecos, deixou o Brasil aos 11 anos, sem nunca destacar-se no país mas sem nunca romper os laços com a cultura nacional) e de grande projeção no Exterior (foi o único brasileiro a fazer uma individual no Guggenheim Museum, em Nova York). Bessa retoma, ao lado desses, um comentário não muito elogioso que se costumava devotar a Fahlström: o de que ele, aparentemente tão engajado, tanto nos temas quanto nas atitudes, era, antes de tudo, um radical chic.Essa, sublinha o curador, seria uma das ironias da exposição. Os mapas criados por Fahlström, que debocham frontalmente das configurações geopolíticas da segunda metade dos anos 1960 e primeira metade dos 70, mostrando o então presidente norte-americano Richard Nixon com chifrinhos ou o brasileiro João Goulart sendo chutado por um banqueiro e um militar, foram rapidamente assimilados pelo sistema político - e artístico - que o artista tanto criticava. Atingiram, com o passar do tempo, altíssimas cotações.As peças que chegaram a Porto Alegre, por exemplo, fazem parte do acervo do banco The J. P. Morgan Chase. Só foi possível montar a exposição dentro da 6ª Bienal porque a instituição emprestou as serigrafias, litografias e silkscreens.- Uma ironia interessante - resume o curador. As gravuras pertencem ao banco, que pode dispor delas como quiser. O direito de reprodução das imagens, porém, é da viúva - conforme prevê a lei internacional de direitos autorais, a mesma que regulamenta a publicação de livros (só nos 70 anos da morte do autor, as obras passam a domínio público).A Bienal fica em cartaz até 18 de novembro, de segundas a domingos, das 9h às 21h, sempre com entrada franca.