Adoradores do deus metal
Entra em cartaz amanhã na Capital "Metal - Uma Jornada pelo Mundo do Heavy Metal", documentário que aborda a grande popularidade do gêneroTodo aquele que já vestiu a camiseta preta de sua banda favorita e tocou guitarra imaginária no quarto com o som no talo vai se emocionar com o documentário Metal - Uma Jornada pelo Mundo do Heavy Metal - mas sem lágrimas, claro, que o pessoal não é disso.O filme que entra em cartaz amanhã em Porto Alegre é dirigido por um antropólogo americano que fez da paixão pelo som pesado tema de aprofundado estudo sobre o gênero.Sam Dunn decidiu realizar o filme (Metal - A Headbangers Journey, no original), em 2005, quando tinha 30 anos, querendo explicar por que o heavy metal mantém o poder de encantar gerações - ele próprio foi "convertido" aos 13 anos e optou por estudar antropologia convencido de que o comportamento da tribo metal renderia um bom trabalho acadêmico. Decidiu, então, ir a campo e pesquisar. Percorreu vários países assistindo a shows e conversando com músicos, produtores, fãs, historiadores e especialistas em comportamento. Dunn não disfarça a empolgação de sentar frente a frente com Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden, banda que marcou sua infância, e encontrar ídolos como Tommi Iommi, guitarrista do Black Sabbath, o cantor Ronnie James Dio e Lemmy, líder do Motörhead.Metal é didático na sua proposta e consegue ser eficiente para conhecedores e leigos. Tem como ponto de partida o ano de 1986, quando o heavy metal exibia sua força opondo, de um lado, adolescentes cabeludos que colocavam suas bandas preferidas no topo das paradas, e, de outro, pais, críticos, políticos e religiosos conservadores que viam na turba de preto uma legião de almas possuídas pelo demônio, o grande responsável por um barulho infernal capaz de incitar crimes e suicídios - a história do heavy metal, diga-se, é atrelada a estereótipos, preconceitos e perseguições.O diretor dedica um capítulo a essa época de caça às bruxas, que rendeu antológicos debates no senado americano - reproduz um deles, protagonizado por Dee Snider, o impagável e colorido vocalista do Twisted Sister, que desmontou diante das câmeras os argumentos de Tipper Gore, a mulher do então senador Al Gore, a qual liderava uma espécie de liga pela moral e bons costumes com poder de censura. São muito saborosas também passagens como as que lembram o metal "poser" de Los Angeles, aquele que consagrou o visual batom-renda-e-laquê, a ligação (forçada) com o satanismo e as ciências ocultas, o papel das mulheres no Clube do Bolinha e o sentimento de fraternidade que une headbangers de diferentes nacionalidades.Metal ainda destaca nomes pioneiros, como Blue Cheer, Black Sabbath, Deep Purple e Led Zeppelin, traça uma linha histórica com os inúmeros subgêneros derivados e conclui que a popularidade do heavy metal está atrelada a um fator básico: novos fãs surgem a todo o momento e os velhos jamais deixam de gostar.MARCELO PERRONE