Carvão contra o aquecimento

15 Out 2007
Durante décadas, o Rio Grande do Sul sempre tentou dar um melhor aproveitamento a suas mais de 20 bilhões de toneladas de carvão (cerca de 90% das reservas brasileiras). Mas fatores como a menor qualidade do minério, a falta de investimentos e as preocupações ambientais frearam a exploração do produto. O resultado é que, hoje, o Estado obtém apenas 13% da sua energia a partir do carvão mineral.Ironicamente, talvez tenha sido sorte não termos queimado nosso carvão nas poluidoras termelétricas do século passado. Nestes novos tempos em que a humanidade se defronta com as incertezas das mudanças climáticas e a causa ambiental rende Prêmio Nobel, ele poderá ser mais valioso e útil.De certa forma, o futuro do carvão gaúcho passa pela inauguração, amanhã, em Porto Alegre, do Centro de Excelência em Pesquisa sobre Armazenamento de Carbono (Cepac). O laboratório, uma parceria entre a PUCRS e a Petrobras, funcionará no Tecnopuc, o parque tecnológico da universidade, com a missão de colocar o Brasil na vanguarda de uma tecnologia que poderá ser decisiva para o futuro climático do planeta, e ainda aumentar a produção de petróleo e de gás natural: o seqüestro de carbono.O mecanismo é uma tentativa de reduzir a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. A idéia é recolher o gás - o maior vilão do aquecimento global, emitido por fábricas, automóveis e usinas - da atmosfera e aprisioná-lo em depósitos naturais nas entranhas da Terra.- Nosso trabalho será identificar locais que poderão ser convertidos em reservatórios seguros para o CO2 - diz o geólogo João Marcelo Ketzer, coordenador do Cepac.Com um investimento de R$ 8 milhões da Petrobras, os cientistas do Cepac (20 pesquisadores e 20 bolsistas, ligados à Faculdade de Química e ao Instituto do Meio Ambiente da PUCRS) estão em campo desde o ano passado, mapeando fontes emissoras de CO2 e possíveis locais para estocá-lo. No Rio Grande do Sul, o chamado projeto Carbmap já detectou áreas no Norte-Nordeste e na costa (dentro do mar) que poderão ser futuros reservatórios.Três tipos de formações naturais são propícios a reter dióxido de carbono: os aquíferos salinos (cuja água é tão ou mais salobra do que a do mar e, portanto, imprópria para o consumo), os campos de petróleo exauridos e as reservas de carvão de grandes profundidades, onde a extração é inviável devido aos custos.Mas o CO2 é uma boa solução não só do ponto de vista ambiental. Na edição número 100 do Globaltech, conheça as potencialidades e os desafios dessa técnica que pode inovar o aproveitamento de carvão gaúcho.