Inspirado no universo infantil, Rafael Sonic gravou seu disco de estréia no quarto de casaDe seu site da internet, o máximo que se pode depreender de Rafael Sonic é uma dúvida: como aquele guri descabelado e usando um infame nome artístico inspirado em personagem de videogame conseguiu gravar um disco folk tão maduro? Para descobrir, foi preciso atravessar o Guaíba e conhecer o sótão onde vive o tal guri, cercado de instrumentos e avistando Porto Alegre lá do outro lado.No último andar de uma casa de três pisos no centro de Guaíba, onde vive com os pais, Rafael, 23 anos, mostra tudo que precisou para gravar Coisas do Além, e Depois: um computador Macintosh, um violão, uma bateria e uma escaleta. É ali que ele dorme e recebe os amigos, que também utilizam o estúdio. Com sua vista para o lago, o sótão parece ser realmente inspirador: ali foi gravado o primeiro e elogiado disco da banda porto-alegrense Superguidis, lançado em 2006. Rafael produziu o álbum dos amigos e chegou a tocar em outra banda, a Stratopumas, mas foi quando decidiu largar o rock que deu o primeiro passo para criar a sua mistura própria, inspirada em Bob Dylan e Simon & Garfunkel.- Comecei a achar meio feio as bandas quererem parecer gringas. Os caras querem ser de Nova York, mas eu sou de Guaíba - afirma Rafael.A guinada rumo ao folk e à música infantil teve como provável embrião uma experiência vivida pelo músico em 2005. Após conhecer João Lavras, filho de Renato Teixeira - compositor de Romaria, entre outros clássicos da música brasileira - , Rafael foi convidado pela família de músicos para passar uma temporada em São Paulo. Foram cinco meses acompanhando Teixeira, uma "coisa para a vida toda":- Me influenciei totalmente. Vi um cara vivendo de composições próprias. Daí entrei na loucura: vou compor. Não quero mais ser músico contratado.Decisão tomada, cansado e com pouco dinheiro, resolveu voltar para o sótão em frente ao lago.- Em São Paulo, quando andava no metrô, fechava os olhos e me sentia em Guaíba - lembra o músico. Diante do Macintosh, começou a compor freneticamente: foram cerca de 20 trilhas sonoras para peças infantis dirigidas por Lucia Bendati na OCA (Oficina Cênica de Artes), entre elas A Lanterna Azul e Floresta dos Elfos, em Porto Alegre. Em seguida, veio o disco Coisas do Além, e Depois, feito para gente grande, mas com forte inspiração infantil. As 12 canções são recheadas de sonoridades e backing vocals sofisticados - às vezes soando Beatles, às vezes Radiohead. Os arquivos MP3 fizeram sucesso no site Trama Virtual (www.tramavirtual.com.br), e Rafael foi selecionado como finalista de um concurso de bandas da revista Capricho, em São Paulo. Como havia gravado o disco sozinho, teve que reunir músicos na última hora para fazer a apresentação na capital paulista, que ocorreu em outubro, diante de 5 mil pessoas - e deu tudo certo. De chinelo em frente ao Macintosh, avistando Porto Alegre do outro lado do lago pela janela do sótão, Rafael tem a certeza de que encontrou a sua música:- Eu não aprendi a fazer nada na vida a não ser isso. Diziam que minha música soava infantil. Então decidi que não quero mais deixar de ser criança.GABRIEL BRUSTZero Hora.com Ouça as canções de Rafael Sonic