Editorial Correio do Povo comenta o endividamento público brasileiro
O ENDIVIDAMENTO PÚBLICO ENGESSA O PAÍSNo momento em que o governo federal ameaça cortar investimentos na área social por conta de uma possível não-prorrogação da CPMF, nada melhor do que conferir certos números que são reveladores do porquê de o Executivo ter que se baseado nos cerca de R$ 40 bilhões dessa contribuição para tocar seus projetos sociais. O verdadeiro nó górdio se encontra na dívida do setor público, que está atualmente em R$ 1,132 trilhão, tendo tido em outubro um aumento em relação ao mês de setembro, quando esse valor foi de R$ 1,120 trilhão. A dívida pública é a soma de tudo o que deve o setor estatal – União, estados e municípios –, excluídos os valores que tem a receber de entidades privadas e de outros governos. É a chamada dívida líquida do setor.Somente de juros, os entes públicos pagaram, em outubro, no total, R$ 15,875 bilhões, o equivalente a cerca de quase duas vezes o valor do Bolsa-Família, que está em torno de R$ 8 bilhões. O superávit primário mensal de outubro, aquilo que o governo economiza para pagar parte dos juros, ficou em R$ 15,347 bilhões. No acumulado do ano, esse superávit para pagar juros da dívida pública chegou, até agora, a R$ 106,570 bilhões, cerca de 2,5 vezes o valor previsto de arrecadação com a CPMF, de R$ 40 bilhões para 2008. O endividamento do setor público chega a 43,7% do Produto Interno Bruto. Em 2006 foram pagos R$ 134, 911 bilhões de juros e, até agora, em 2007, R$ 135,238 bilhões. Para o superávit de outubro, a União contribuiu com R$ 10,018 bilhões, os governos estaduais e municipais com R$ 3,043 bilhões e as estatais fecharam a conta com R$ 2,387 bilhões. Todos os entes federados contribuem para o pagamento de uma dívida que onera de forma direta a iniciativa privada e a sociedade, fonte das receitas.Numa simples comparação com a destinação dos recursos públicos, vê-se que a maior parte é direcionada para o setor financeiro. Daí a necessidade de tributos como a CPMF, para tapar buracos no tecido social. Com uma dívida imensa de um lado, o que leva a aumento de impostos, e com um povo carente de serviços por outro, o Brasil continua a ser um país de contrastes.