Oposição age para sucessão afetar CPMF
ELIANE CANTANHÊDECOLUNISTA DA FOLHA Renan Calheiros decidiu enfim dar os anéis para salvar os dedos: renunciou para manter o mandato de senador e os direitos políticos. Com a renúncia, deu um pretexto para a parte da Casa que se sentia compelida a puni-lo, mas sem radicalizar cassando-lhe o mandato.Na prática, Renan já tinha abdicado do cargo em 11 de outubro, ao apresentar uma "licença" que tinha uma única tradução: renúncia. Só resistiu a entregar a carta formal durante 54 dias porque a presidência foi o seu grande trunfo para negociar a manutenção do mandato.Com o gesto de ontem, Renan desanuviou o clima e desviou o foco das discussões: sua cassação ou não passou a segundo plano. No Senado, só se falavam em duas coisas: a disputa pela presidência e o reflexo da crise na votação da CPMF, o que, de fato, preocupa o Planalto.Renan renunciou por volta das 16h. Um minuto depois, era coisa do passado. Enquanto os nomes para sucedê-lo multiplicavam-se no PMDB, a oposição agia para que a disputa ao cargo atingisse a votação da CPMF. A primeira providência de Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Agripino Maia (DEM-RN) foi embaralhar as datas de votação: a do novo presidente na próxima quarta-feira, a da CPMF no dia seguinte. Tudo o que o governo não quer.A guerra no PMDB promete sangue, com um vitorioso e sabe-se lá quantos descontentes. Não é impossível que um ou outro saia disposto a descarregar a mágoa na CPMF.O esforço do líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), era usar a renúncia de Renan para "pacificar o Senado", sob um argumento razoável: o novo presidente terá mandato-tampão, de um ano. Faltava convencer o próprio PMDB e negociar com o PSDB e o DEM.A preferência do Planalto e da cúpula do PMDB para suceder Renan recaía sobre José Sarney (AP). O problema é que Sarney só aceita ser "ungido". A oposição não vai deixar. Assim, o nome mais forte era o de Garibaldi Alves Filho (RN). A hora é de apostas, mas apostar no PMDB e no Senado de hoje é, certamente, um enorme risco.