Governo acena com nova proposta para tucanos votarem pela CPMF
Mesmo depois de aceitar destinar todos os recursos à saúde, governo não obteve garantia do PSDBNo limite do prazo para tentar aprovar a prorrogação do imposto do cheque no Senado, o governo fracassou ontem nas negociações por votos no "varejo" e não conseguiu até o final da noite fechar um acordo com o PSDB, apesar de o presidente Lula ter aceito proposta de destinar até 2010 todos os recursos da CPMF para a saúde.As conversas continuam hoje, prazo limite para a votação estabelecido pelo próprio Lula à sua bancada, a quem disse que é para votar de qualquer jeito, "para perder ou para ganhar".Sem os 49 votos mínimos entre os próprios aliados, o governo sondou os tucanos com uma proposta que previa a ampliação dos repasses extras da CPMF à saúde dos R$ 24 bilhões negociados anteriormente para R$ 32 bilhões nos próximos quatro anos.À frente das negociações estavam o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Os interlocutores do PSDB eram o governador José Serra (SP) e o presidente do partido, Sérgio Guerra (PE).Na noite de ontem, o presidente Lula, ministros e aliados discutiram no Planalto a proposta de Serra de destinar todos os recursos da CPMF à saúde, o que resultaria em um acréscimo de R$ 45 bilhões até 2010, segundo as contas do governador paulista.Reunido no Planalto com aliados, Lula aceitou a proposta, segundo interlocutores. No Senado, entretanto, a bancada do PSDB encerrou reunião após as 23h e afirmou que hoje o partido vota contra a prorrogação do tributo e que só aceita negociar no ano que vem.Os tucanos do Senado afirmam não ter recebido proposta oficial e, além disso, querem ter garantias de que Lula cumprirá a promessa. Na reunião, houve momento em que a maioria dos 11 senadores tucanos presentes estava propensa a decidir votar com o governo, mas houve recuo depois que Arthur Virgílio (AM), Papaléo Paes (AP) e Álvaro Dias (PR) ameaçaram deixar a legenda caso isso acontecesse. "Não conheço proposta do governo, e essa não é hora de proposta mágica", disse Virgílio, na saída.A única coisa que o PSDB aceitava, com apoio do DEM, era manter a outra medida da emenda, a DRU (Desvinculação das Receitas da União), que permite ao governo federal o manuseio livre de parte das receitas da União.Acuado pelo calendário, o governo mobilizou ontem todos os seus aliados. Na contabilidade, não conseguiu avançar dos 46 votos -faltavam três para o mínimo. O presidente Lula reuniu-se com o governador do DF, José Roberto Arruda (DEM), para pedir o voto do senador Adelmir Santana (DEM-DF). Tentou negociar, inclusive, a saída de Santana para ocupar uma secretaria no governo do DF para dar lugar ao seu suplente, que é do PMDB.Caso o governo consiga votar a emenda da CPMF hoje, a previsão é que o segundo turno da votação ocorra entre os dias 26 e 28, o que também implicará convocação extraordinária do Congresso. "Não trabalho com a hipótese de votar no ano que vem mesmo com o risco de perder", disse o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR).Na hipótese de fracassar a negociação com os tucanos, o governo não descartava buscar acordo para retomar as negociações no começo de 2008. A perda mínima de arrecadação seria de R$ 15,8 bilhões (de um total de R$ 38 bilhões). (SILVIO NAVARRO, VALDO CRUZ, GUSTAVO PATU e KENNEDY ALENCAR)