Cinema: Comédia da vida pública
Comédia da vida públicaEstréia novo filme de Claude ChabrolEste 2007 foi um ano gordo para o cinema francês no Brasil, que contabilizou, segundo a empresa Filme B, especializada nos números do setor, 1,3 milhão de espectadores, o melhor desempenho em anos da produção de um país que, apesar do prestígio e da tradição, andava um tanto opaca no circuito nacional.Para comprovar a boa fase, que tem como responsável maior o sucesso da cinebiografia da cantora Edith Piaf, hoje entra em cartaz na Capital mais três títulos, com destaque para A Comédia do Poder (LIivresse du Pouvoir, 2006), assinado pelo veterano realizador Claude Chabrol - leia sobre as duas outras estréias nesta página.A Comédia do Poder, disponível em DVD desde novembro, estréia no Guion Center. Em tom sarcástico, Chabrol trata de uma tema muito familiar também ao Brasil: negociatas entre políticos e empresários que costumam fazer sumir o dinheiro público. A cena de abertura, a propósito, costuma ilustrar o noticiário cotidiano. Um figurão vai deixando o escritório em meio a telefonemas combinando viagens com a mulher e ordens à secretária. Quando chega à rua, passa a combinar o terno caro com um par de algemas. Ele foi pego pela rede da implacável juíza Jeanne Charmant (interpretada com a exuberância habitual por Isabelle Huppert). A dedicação de Jeanne a seus casos é tamanha que ela é conhecida como Piranha, por deixar os desonestos no osso, retirando seus bens e levando-os à prisão. Sua mais recente vítima é esse poderoso empresário, que tem sua vida devassada sem dó, em particular os luxos com que cobre a amante. Mas dessa vez ela está no meio de picaretas graúdos, e o efeito dominó de sua investigação vai desembocar nas altas esferas. Com humor, Chabrol conduz o filme com um conto amoral. Mostra como a sociedade contemporânea se esforça para não sucumbir ou se habituar à ganância de indivíduos, corporações e governos, apesar de reconhecer em pessoas como Jeanne lutadores solitários, quase quixotescos.