Sonegação fiscal: Justiça aceita denúncia contra 29 investigados na Operação Kaspar 2
A Justiça federal aceitou a denúncia do Ministério Público Federal e abriu processo contra 29 presos na Operação Kaspar 2, da Polícia Federal, que desmontou um esquema que causou sonegação fiscal de cerca de R$ 1 bilhão em um ano e meio. Entre os denunciados estão doleiros, gerentes de bancos suíços e empresários. Segundo a denúncia, aceita na íntegra, todos são acusados de fazer remessas ilegais de dólares para a Suíça, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e descaminho (crime imputado aos empresários que traziam ao Brasil mercadorias). A investigação descobriu um esquema montado por gerentes de bancos suíços e doleiros brasileiros para enviar e receber dinheiro ilegal em contas na Suíça. O dinheiro era enviado através da operação de dólar-cabo --sem registro no BC, através de depósito em conta brasileira de doleiros que possuem contas no exterior para transferência ao destino final do dinheiro. Os valores ficavam em contas numeradas e codificadas, para as quais clientes brasileiros enviavam dinheiro sem origem. Os clientes do esquema eram na maioria grandes empresários e comerciantes, que usavam as remessas para alimentar contas no exterior e também para pagar fornecedores. A operação Kaspar 2 é uma continuação de duas ações anteriores, chamadas Suíça, do primeiro semestre de 2006, e Kaspar 1, deflagrada em abril deste ano. A procuradoria relata em sua denúncia que durante as investigações surgiu o nome da doleira Claudine Spiero, que passou a ter seus telefonemas monitorados por autorização judicial. A doleira teria faturado, líquidos, entre janeiro de 2006 e setembro de 2007, US$ 4,8 milhões. Logo foram descobertas as relações entre Claudine, que foi dispensada pelo Credit Suisse após a Operação Suíça, e outros doleiros brasileiros e gerentes dos bancos UBS (União de Bancos Suíços) e Clariden Leu, do grupo Credit Suisse, e a representante no Brasil do banco suíço AIG. Crimes A denúncia é dividida em três blocos. No primeiro estão os doleiros e seus funcionários. Este grupo é composto por nove pessoas, que responderão por crimes de câmbio ilegal, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Claudine, Michel e Pereira Júnior responderão também por descaminho. Integram o grupo: Claudine Spiero e seus filhos Michel (preso) e Daniel Spiero, seu ex-marido, Ricardo e a secretária de Claudine, Cristiane de Freitas, e os outros doleiros: Valter Rodrigues Martinez, que opera nos EUA, Milton José Pereira Júnior (também preso), Iria de Oliveira Cassu (presa) e o policial militar Antônio Raimundo Duram (preso). No segundo bloco estão os quatro representantes dos bancos: Depensaz (preso), Dizerrens (foragido), Buzzi (preso) e Magda Portugal, que responderão pelos crimes de gestão fraudulenta de instituição financeira, câmbio ilegal, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. No terceiro bloco estão 15 proprietários de dez empresas que usaram os serviços da quadrilha, que responderão por câmbio ilegal, evasão e lavagem. Foram denunciados empresários da Le Postiche (Alvaro Restaino, Fabiana Esper e Antonio Monteiro Ferreira Lopes), Chaves Gold (Caetano e Luiz Paulo Greco), Ornare Móveis (Murillo Schattan), Participa Empreendimentos Imobiliários (Walter Luiz Teixeira e Miguel Ethel Sobrinho), Aquarius Consultoria (Willian Yu), Egger & Egger Consultoria (Andrea Egger), Feller Engenharia (Jacques Feller), Zampese Máquinas (Boris Zampese), Anico Presentes (Wang Soimei) e Confecção Leal (Alain e Jacques Levy). A 29ª pessoa acusada é o cartorário José Roberto de Freitas, marido de Cristiane, acusado de falsidade ideológica e violação de sigilo funcional.