Compensação para a CPMF em fevereiro
Karla Correia BrasíliaO tom carregado de ameaça sobre o caos que se abateria na economia brasileira com o fim da CPMF deu lugar a um discurso de tranqüilidade no Palácio do Planalto, depois da derrota sofrida no plenário do Senado. Em café da manhã oferecido a jornalistas, ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva empurrou o anúncio de medidas compensatórias à extinção do tributo para fevereiro de 2008, quando também pretende enviar ao Congresso sua proposta de Reforma Tributária. Dizendo-se tranqüilo com o fim da CPMF, Lula descartou o lançamento de um "pacote" econômico para cobrir o rombo de R$ 40 bilhões causado pela extinção do imposto do cheque. Preferiu usar a expressão "conjunto de medidas". Mas se esquivou de reafirmar o compromisso de não elevar alíquotas de impostos, firmado com a oposição em troca da aprovação da Desvinculação de Receitas da União (DRU).- Eu não disse se vai ou se não vai ter elevação de impostos, essa pergunta é mais antiga que Confúcio - disse o presidente, quando questionado sobre a natureza das medidas que anunciará no próximo ano para contornar as perdas de arrecadação. Afirmou, contudo, que poderá adotar "medidas administrativas emergenciais" até o fim do ano. Disse considerar o corte de gastos pelo governo. E reforçou que não haverá um pacote.- Eu falei com os meus ministros que eu não quero ouvir a palavra pacote. Prefiro comprar de unidade em unidade. O Brasil já foi vítima na História de muitos pacotes que não deram certo.Descontraído, o presidente disse não ter perdido "nem meio minuto de sono" com a derrota sofrida no Senado, mas deixou clara a insatisfação com aliados que votaram contra o governo. Da base de apoio de 53 parlamentares, no Senado, contabilizou os votos confiáveis de apenas 45.- Com esse número, dá para aprovar tudo, menos as PECs. Sabemos quem está com a gente e quem não está - avaliou o Lula, que demonstrou desagrado também com o PSDB, que teria recuado na negociação costurada com o governo para aprovar a CPMF. A alfinetada na legenda adversária foi explícita.- Alguns votaram contra a CPMF porque acharam que o presidente ia ficar forte e fazer o sucessor em 2010 - desdenhou Lula. - Acho isso uma pobreza de espírito. Isso dá pena.Desautorizado em público, alvejado por críticas sobre a condução das negociações em torno da votação do tributo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi, contudo, poupado por Lula, que garantiu sua permanência no governo e chegou a demonstrar espanto quando perguntado sobre a possibilidade do economista deixar o governo. Desfiando os números positivos, fez previsões ousadas para a economia brasileira. Projetou crescimento de "5,5%, 6% ou até 6,5%" do Produto Interno Bruto (PIB) em 2008. Lembrou ter "apanhado" no noticiário durante todo o ano de 2004 por ter usado a expressão "espetáculo do crescimento", e disse que a única coisa que o preocupa no andamento da economia são os possíveis reflexos da crise do mercado imobiliário nos EUA.