Lula alfineta oposição

28 Dez 2007
28/12/2007 No pronunciamento de rádio e TV para desejar "feliz Ano Novo", Lula voltou a mostrar as garras para a oposição. Verdade que o fez de forma calculada e elegante. Pura estratégia. O texto do pronunciamento, escrito pelo ministro Franklin Martins (Comunicação de Governo) e o marqueteiro João Santana, foi uma peça política para Lula faturar as notícias positivas na economia, como o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) na casa dos 5%, mas também para alfinetar o PSDB e o DEM, partidos de oposição que votaram contra a prorrogação da CPMF até 2011. No discurso, o presidente disse que a área da saúde poderia ter mais avanços no ano que vem se a CPMF tivesse sido aprovada. E correlacionou isso a uma "decisão tomada pelo Congresso". Depois de afirmar que destinaria até 2010 mais R$ 24 bilhões para o setor e que, "entre outras coisas, todas as crianças das escolas públicas passariam a ter consultas médicas regulares", Lula disse que, "infelizmente, esse processo foi truncado com a derrubada da CPMF". "Como democrata", o petista disse que respeitava a decisão do Senado, Casa do Congresso que recusou a emenda constitucional que prorrogava o imposto do cheque. E fez questão de dividir responsabilidades para suprir a ausência de um tributo que, nas palavras de Lula, era "responsável em boa medida pelos investimentos na saúde". Ele se disse "convencido de que o governo, o Congresso e a sociedade, juntos, encontrarão uma solução para o problema". Politicamente, Lula pretende fazer do limão uma limonada. Perdeu a perspectiva de arrecadar R$ 40 bilhões com a CPMF em 2008, o que é um pepino orçamentário. Mas, por enquanto, o presidente não pretende tomar a iniciativa de propor um novo tributo ou até mesmo uma ressurreição da CPMF. Sua intenção é tentar levar a oposição e o Congresso, inclusive a parte de sua base de sustentação que acabou com o imposto do cheque, a encontrar fontes permanentes de financiamento para a saúde. Na percepção da população, mostram as pesquisas de opinião, a saúde é a área na qual o desempenho do governo sofre as piores avaliações. Sem a CPMF, Lula arranjou uma desculpa política para justificar tal percepção. Reservadamente, auxiliares do presidente chegam a dizer que, quando a oposição cobrar o governo ou os seus candidatos nas eleições de 2008 e 2010 no quesito saúde, ela poderá ouvir que foi a maior responsável por tirar recursos da área. Kennedy Alencar, 40, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.