Farinha do mesmo saco

15 Jan 2008
15/01/2008 Desconfie do que boa parte dos deputados e senadores falam por aí. A primeira impressão é a de que são todos muito bem intencionados, repletos de planos para o desenvolvimento do país. Mas é só impressão. A maior parte está preocupada é com seus interesses. Foi o que ficou claro em reunião recente de líderes de partidos aliados com os ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) para discutir os cortes no orçamento. Estavam todos lá para tentar definir onde o governo poderá fazer cortes de R$ 20 bilhões para compensar o fim da CPMF, o imposto do cheque, que deixou de existir nesse ano e provocou um rombo no caixa do governo federal de R$ 40 bilhões. O objetivo de deputados e senadores, contudo, era um só: tentar preservar da tesoura dos ministros a maior fatia possível das verbas destinadas às emendas parlamentares. Aquele instrumento por meio do qual um congressista coloca no Orçamento recursos que serão aplicados em suas bases eleitorais. Daí que, para defender o seu quintal, surgiu todo tipo de idéia. Bem, um senador do Rio de Janeiro saiu com essa. "O superávit primário tira o sangue da população para pagar esses juros ao mercado financeiro. Por que não podemos reduzir esse superávit para aplicar o dinheiro na saúde e na educação e evitar esses cortes tão duros." Primeiro, muito certamente esse senador tem dinheiro aplicado no banco. Em outras palavras, deve estar se beneficiando desses juros pagos ao mercado financeiro. Afinal, todo mundo que tem um dinheirinho em aplicações financeiras acaba lucrando com essa ciranda. Segundo, esse senador estava mirando era na manutenção de suas emendas parlamentares, de olho na eleição municipal. Terceiro, reduzir o superávit primário não é uma equação tão fácil assim. Seria até bom se fosse. Mas não é. O governo precisa dele para evitar que sua dívida entre numa linha crescente, o que acabaria impactando na política monetária do Banco Central. Os juros teriam de ser maiores para sustentar o buraco nas contas públicas. Teve deputado pregando a redução pura e simples das taxas de juros para economizar dinheiro do Orçamento. O parlamentar saiu dizendo na reunião que o Banco Central deveria reduzir os juros para 9%, em vez de ficar nos 11,25% de hoje. Tudo bem, também quero, seria maravilhoso. Só que não é assim, num passe de mágica, que os juros vão cair. Até acredito que poderiam estar mais baixos, mas não é com voluntarismos que eles ficarão em taxas mais civilizadas. Um parlamentar foi mais explícito nos seus desejos é foi logo dizendo que emenda ao Orçamento de deputado e senador é "sagrada e intocável". Esse, pelo menos, não ficou criando medidas que não tem a menor idéia como executar para defender seu ponto de vista. Foi direto ao assunto. Quer dizer, ao seu interesse particular. E não pense, caro internauta, que esse tipo de preocupação está apenas na cabeça dos parlamentares aliados do presidente Lula. A turma da oposição também anda irrequieta com a possibilidade de cortes em suas emendas ao Orçamento. Teme sofrer retaliações do governo, como vingança pela derrota na votação da CPMF. Alguns oposicionistas já até fizeram chegar aos ouvidos de ministros que também querem preservar suas emendas. No fundo, são todos iguais. Só mudam de lado. Muro das lamentações Por falar em emendas parlamentares, o corredor que dá acesso ao gabinete do ministro José Múcio Monteiro parece ter se transformado num verdadeiro muro das lamentações. Tem dia que são formadas filas de deputados aguardando sua vez para falar com o articulador político do governo Lula. Todos com um tipo de pendência _uma nomeação que não saiu, uma grana que não foi liberada. José Múcio corre contra o tempo. Quer atender a todos até o reinício dos trabalhos legislativos, em fevereiro. Aposta: não vai conseguir. Tem gente que trabalha contra. Foi sempre assim no governo Lula. Todos os articuladores políticos passaram por essa experiência negativa. Lobão e Dilma Até aqui, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, tem sempre levado a melhor na disputa pelo comando do setor elétrico, com um derrotinha aqui, outra ali. Agora, raposas peemedebistas dizem que a sorte vai mudar de lado. O novo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, a ser confirmado oficialmente por Lula na quarta-feira, costuma trabalhar em silêncio e impor tudo o que deseja. É o que afirmam seus amigos. A conferir.