Inflação começa a refluir mas rebate sobre juros continua

06 Ago 2008
OPINIÃOFONTE JORNAL DO COMÉRCIO (RS)06082008Inflação começa a refluir mas rebate sobre juros continua 6/8/2008A inflação dá sinais de refluxo. Os preços de produtos alimentícios e da área de habitação na cidade de São Paulo fizeram com que o Índice de Preços ao Consumidor, IPC, medido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Fipe, tivesse em julho a menor alta desde março. O indicador subiu 0,45% no mês passado, enquanto em junho o IPC havia subido 0,96%. O instrumento usado para segurar os preços é a taxa de juros, remédio cuja eficiência é contestada por Delfim Netto, antigo czar da economia. No entanto, o problema é que, de fato, usar apenas os juros traz um resultado considerado de empate técnico pelo ex-mago das finanças. Delfim Netto assevera que junto com a inflação também cai o crescimento do Produto Interno Bruto, PIB, e na mesma proporção, um por um. No entanto, o que o Brasil mais precisa é crescer, gerar empregos e renda. Depois, no rastro, virão o consumo e os impostos. A taxa de juros, com as contas do governo equilibradas, poderá diminuir dos absurdos 13% anuais. Felizmente, o ministro Guido Mantega prometeu que, se for preciso, o superávit primário será elevado a fim de que também ele ajude na contenção dos preços. No entanto, não podemos esquecer que existem uma memória e uma cultura que acionam o gatilho da alta dos preços dos produtos tão logo o dragão coloca a cabeça de fora. Inflação de 1% ao mês dispara a mágica que faz com que o corte de cabelo pule de R$ 10,00 para R$ 12,00. Por que, ninguém explica. É puro cacoete e desinformação. Mas a alta mundial nos preços dos alimentos não deve desviar os bancos centrais do foco das metas de inflação estabelecidas, sob risco de novos movimentos de hiperinflação, alertou o presidente do Banco Central de Israel e ex-diretor do Fundo Monetário Internacional, FMI, Stanley Fischer.Ele admitiu que perseguir a meta pode levar a um crescimento menor no Produto Interno Bruto, inclusive no Brasil, mas disse que é preciso confiar no trabalho da autoridade monetária do País. Fischer, que também foi economista-chefe do Banco Mundial e gerencia o sistema de metas israelense, admitiu que o controle da inflação é um desafio porque agora existe a difícil tarefa de abordar as metas diante das mudanças nos preços do petróleo e derivados e dos alimentos, que se parecem com o choque dos anos de 1970. O economista esteve em São Paulo palestrando no seminário anual do Banco Central sobre metas de inflação e reafirmou que é preciso resistir aos argumentos de que é melhor aumentar a inflação para além da meta estabelecida. Calibragens extras, mesmo que pequenas, podem comprometer a continuidade do ritmo de crescimento, argumentou. "Foi assim que chegamos à hiperinflação", alertou. Fischer também disse que a sociedade deve ter compreensão de que no atual momento, de forte desequilíbrio nos preços, é inevitável que a inflação possa sair do intervalo da meta em alguns momentos ao longo do ano, mas é dever da autoridade monetária lutar para que a meta definida não seja perdida de vista. Ora, a meta brasileira do Copom está em 4,5%, com variação de dois pontos percentuais para cima ou para baixo, sendo, então, entre 2,5% e 6,5%. Stanley Fischer assegurou que metas para a inflação é o único regime monetário já criado no mundo que conseguiu chegar aos 20 anos, pois a idade média dos regimes anteriores era de 10 anos. O Brasil passou a adotar o sistema de metas em 1999. É uma opinião respeitável. O fato é que a inflação começou a refluir e isso é o que interessa. http://jcrs.uol.com.br/noticias.aspx?pCodigoArea=32