Rússia não confia em autoridades da Geórgia; presidente ordena fim dos ataques. E: Conflito na Ossétia do Sul convém à Geórgia e a Rússia:A Geórgia quer integrar-se ao Ocidente, a Rússia deseja impedir. Ignora-se o bem-estar dos sul-osseossetianos.

12 Ago 2008
FONTE SITE FOLHA ON LINE 12/08/2008 - 08h03 Rússia diz não confiar em autoridades da Geórgia; presidente ordena fim dos ataquesA crise começou na quinta-feira (7), quando a Geórgia, aliada próxima de Washington, enviou tropas para retomar a Ossétia do Sul, uma região aliada da Rússia que declarou sua independência da Geórgia em 1992. Moscou, que apóia a secessão do pequeno território, respondeu enviando tropas ao país vizinho.da Folha Online O Ministro de Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, afirmou em entrevista que a Rússia perdeu toda confiança nas "atuais autoridades georgianas", uma declaração vista como forte sinal de que o país não está disposto a negociar. A declaração foi feita horas antes do presidente russo, Dmitri Medvedev, ordenar o fim da ação militar na Geórgia após cinco dias de ataques aéreos e com tanques que levaram as forças russas a várias partes do território georgiano. Lavrov afirmou que o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, deveria deixar a cadeira e seu Exército, sair da Ossétia do Sul para o "bem da região". Segundo Lavrov, a Rússia não negociaria com Saakashvili e "seria melhor que ele se fosse". O ministro disse ainda que a assinatura de um pacto de não agressão com as regiões separatistas da Ossétia do Sul e da Abkházia é "única saída para o conflito". "Durante meses, anos, a Rússia tentou insistentemente conseguir a assinatura de um pacto de não agressão entre Geórgia e Ossétia, entre Geórgia e Abkházia", disse o ministro, em entrevista coletiva. Lavrov disse ainda que os membros diplomáticos ocidentais "não fizeram nada" para persuadir Tbilisi a assinar um pacto deste tipo. Nesta terça-feira, o presidente francês Nicolas Sarkozy chega a Moscou para conversar sobre o conflito e buscar trégua imediata. Sarkozy vai se reunir com Medvedev e depois seguirá para Tbilisi para se encontrar com o georgiano Mikhail Saakashvili. A França propôs nesta segunda-feira (11) que o Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas adote uma declaração pedindo por um cessar-fogo imediato, respeite a soberania da Geórgia e o retorno à situação de uma semana atrás, antes de forças georgianas entrarem na Ossétia do Sul. Trégua sem paz.O presidente russo também adotou um tom pouco amigável ao pedir o fim da ação militar do país na Geórgia. Embora tenha dito que os militares puniram a Geórgia "o suficiente" por seu ataque à região separatista da Ossétia do Sul, ele reiterou que as tropas russas vão continuar "se defendendo" e pediu aos soldados que acabem com qualquer sinal de resistência da Geórgia. "Se há quaisquer pontos de resistência ou qualquer ação agressiva, vocês devem tomar ações para destruí-los", disse ao ministro de Defesa em uma reunião televisionada. A Geórgia lançou uma ofensiva contra a Ossétia do Sul na noite de quinta-feira passada (7) para reconquistar o controle da região. Conheça as origens do conflito Medvedev fez o anúncio durante uma reunião televisionada com o ministro de Defesa, Anatoli Serdiukov, e o chefe de Estado Maior do Exército Russo, Nikolai Makarov. "A segurança de nossos membros de paz e civis foi restaurada", disse Medvedev. "O agressor foi punido e sofreu perdas significativas. Suas forças militares foram desorganizadas", completou o líder. Poucas horas antes do anúncio de Medvedev, o primeiro-ministro georgiano afirmou que o centro da cidade georgiana de Gori (25 km ao sul da Ossétia do Sul) foi bombardeado, em um ataque que incendiou dois edifícios. "Os prédios da Universidade de Gori estão em chamas", Vladimir Gurgenidze. Já o chefe-adjunto do Estado Maior, Anatoli Nogovitsin, advertiu em entrevista que um cessar-fogo com a Geórgia não significa "que as tropas russas não vão realizar atividades militares de outro tipo, como exploração". O general disse ainda que as tropas russos serão retiradas definitvamente da Ossétia do Sul quando garantirem a paz na região. A crise começou na quinta-feira (7), quando a Geórgia, aliada próxima de Washington, enviou tropas para retomar a Ossétia do Sul, uma região aliada da Rússia que declarou sua independência da Geórgia em 1992. Moscou, que apóia a secessão do pequeno território, respondeu enviando tropas ao país vizinho. http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u432353.shtml--------------------------------------------------------FONTE SITE DA UOL/DER SPIEGEL12/08/2008Análise: conflito na Ossétia do Sul é conveniente para a Geórgia e a RússiaA Geórgia quer integrar-se ao Ocidente, e a Rússia deseja impedir exatamente isto. O bem-estar dos sul-ossetianos não tem importância nenhuma para os protagonistas.Jörg Himmelreich*O conflito da Ossétia do Sul está em ebulição desde março último, mas ele assumiu aquela forma de estabilidade controlada que tem norteado as relações russo-georgianas desde o acordo fundamentado em um impasse, firmado em 24 de junho de 1992. O ataque georgiano a Tskhinvali, a capital da Ossétia do Sul, em 8 de agosto, transformou este "conflito congelado", conforme a descrição dos diplomatas, em uma intensa guerra travada por representantes das duas nações. No momento o potencial para uma escalada do conflito parece ser praticamente ilimitado, e a guerra tem conseqüências diretas para a segurança da Europa.A questão que está em jogo aqui não é a proteção da cultura nacional da Ossétia do Sul. O problema diz mais respeito aos negócios locais do auto-proclamado presidente do regime de fato da Ossétia do Sul - Eduard Kokoity, que não é reconhecido por nenhum outro governo. Esses negócios atendem aos interesses geopolíticos da Rússia e também beneficiam a Geórgia, a Europa e os Estados Unidos. A Ossétia do Sul faz parte da Geórgia desde o século 5. Mas a independência proclamada em 1991 revelou-se uma boa fonte de renda para Kokoity. O Túnel Roki, a única passagem de fronteira para a Ossétia do Norte, que pertence à Rússia, é uma rota de contrabando bastante utilizada. Esta passagem está nas mãos de Kokoity e das chamadas tropas de paz russas.A intervenção tem a marca registrada de PutinA Rússia também fornece tropas de paz para a Abkházia, a outra região georgiana que deseja a independência. O envio da frota do Mar Negro à Abkházia, o bombardeio das cidades georgianas de Poti e Gori e de uma fábrica de aviões próxima a Tbilisi, a capital da Geórgia, mostram o quanto a Rússia está determinada a promover a escalada deste conflito. E também como uma Rússia desinteressada age quando se trata de cumprir o seu papel de potência mantenedora da paz.A Rússia deseja impedir a Geórgia de ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e quer também derrubar o presidente georgiano Mikhail Saakashvili, que deu início a esta politica. A visita do primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, à região em crise imediatamente após ter assistido à cerimônia de abertura das Olimpíadas de Pequim revela claramente quem está dirigindo a intervenção da Rússia. Ela expõe também a fraqueza da base de poder do presidente russo Dmitri Medvedev, e mostra ainda como os seus discursos públicos sobre a proteção da lei internacional têm pouco significado.Os ataques russos são uma flagrante violação da soberania territorial da Geórgia, e o fato de tantos abkhazianos e sul-ossetianos possuírem passaportes russos não consiste em uma justificativa legal para as ações da Rússia. A iniciativa de Steinmeier foi tardia e insuficienteDesde que Saakashvili assumiu o poder em 2004 com a "Revolução Rosa", ele tem pedido aos Estados Unidos e à Europa que contribuam mais para ajudar a resolver os conflitos. No que diz respeito à Europa, os pedidos dele foram em vão. A Geórgia integra a Política de Vizinhança Européia, da União Européia, mas quando se trata de tomar medidas concretas para limitar e prevenir conflitos, Berlim mostra-se particularmente reticente - contrastando com a Suécia, a Polônia e os países bálticos. As demandas de solidariedade européia por parte da Geórgia foram recusadas em meio a críticas - justificadas, é verdade - às deficiências da democracia do país. A iniciativa do ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, de resolver o problema na Abkhazia deve-se à percepção atrasada da ameaça que este conflito representa para as pessoas que lá habitam e para a segurança européia. Mas Steinmeier revelou uma incompreensão surpreendente das estruturas locais de poder ao solicitar à Abkházia, em um segundo momento, permissão para o retorno de 250 mil georgianos deslocados da região. No momento é impossível prever até que ponto a Rússia promoverá a escalada da guerra. Não se pode descartar a possibilidade de que grandes setores da Geórgia sejam bombardeados e ocupados. Mesmo sob o governo do presidente Medvedev, a Rússia está mostrando a sua verdadeira face - Moscou está jogando com a política do poder. Toda forma possível de pressão internacional deve ser feita - incluindo o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) - para impedir que a Rússia intensifique as suas ações militares.No fim das contas cabe a Washington mostrar à Rússia uma linha vermelha que ela não deve cruzar, embora uma intervenção norte-americana seja muito improvável. E, para Berlim e Bruxelas, é hora de oferecer à Geórgia aquele tipo de solidariedade européia à qual os Estados europeus têm direito segundo a Carta Européia de Direitos Fundamentais.http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2008/08/12/ult2682u896.jhtm* Jörg Himmelreich é pesquisador da instituição norte-americana Fundo Marshall Alemão. Antes disso ele trabalhou no Ministério das Relações Exteriores da Alemanha como planejador de políticas responsável pela Rússia, pelo Cáucaso e pela região do Mar Negro. Ele também ajudou a coordenar as relações da DaimlerChrysler´s na Rússia, na Ásia Central e na Europa Oriental. Tradução: Visite o site do Der Spiegel