DS/POA adquire os DVDs: Erin Bronckovick - Uma mulher de talento, Ghandi e Segunda-feira ao sol

15 Ago 2008

Dica da Semana:

Filmes

DS/POA adquire os DVDs: Erin Bronckovick - Uma mulher de talento, Ghandi e Segunda-feira ao sol

Para os distintos segmentos de aficcionados à 7ª arte, já encontram-se à diposição esses três novos títulos (em DVD).

Solicitamos aos interessados a gentileza de fazerem a reserva  e a retirada de DVDs e livros do    acervo que está senfo formado pela DS/POA com a Sr.a Marcia Matos (Setor Administrativo) no horário comercial. Outras informações poderão ser obtidas pelo telefone (51) 3212-0650.

Lembramos as suas sugestões de títulos de livros e DVDs são muito bem-vindas.

No mais, bom proveito e boa diversão!

Erin Bronckovick - Uma mulher de talento  traz à cena Erin, divorciada e com três filhos que está começando a trabalhar em um escritório de advocacia. Ao organizar seu arquivos, descobre que uma companhia está poluindo a água de uma pequena cidade. Revela-se, a partir disso, a tomada de atitude da protagonista que investiga o problema. Baseado em fatos reais. Oscar de melhor atriz para Julia Roberts. 

Ghandi apresenta a trajetória de um dos mais importantes pacifistas de todos os tempos que se desempenha como líder do processo de libertação da Índia. Trata-se de uma história intrigante sobre ativismo, política, tolerância religiosa e liberdade tendo  ao centro um homem extraordinário.

Vencedor de 8 Oscar.

 

 O filme Segunda-feira Ao Sol (Los Lunes Al Sol, Fernando León de Aranoa, 2002) mostra o drama dos personagens Santa, José Soarez, Lino e Amador, ex-operários do estaleiro naval Aurora. A perda de seus empregos gerada com o fechamento da empresa não reflete um desemprego temporário, mas sim uma crise estrutural, na qual suas ocupações irremediavelmente foram anuladas, isto é, seus postos de trabalho de metalúrgicos de indústria naval foram instintos.

Tamanho problema aflige não somente a Espanha contemporânea, mas também os demais países do mundo pós-Guerra Fria (1989). A história passada numa cidade localizada ao norte da Espanha retrata a sociedade espanhola contemporânea desagregada pelo processo de reestruturação produtiva.

O filme aborda a dificuldade de realocação dos personagens desempregados no mercado de trabalho. Neste aspecto, o Estado não consegue promover o bem-estar de uma camada da população que se encontra assolada pelo desemprego estrutural. Este processo gera uma sensação de inadequação social, haja vista que em uma sociedade capitalista (a sociedade do trabalho) o que norteia a vida social é o trabalho; deslocando os que não trabalham como parias do sistema. Tal inadequação social, ou estranhamento, é expressa em diversos momentos do filme. Em um desses momentos, o personagem José Soarez vai com sua esposa ao banco e não consegue o empréstimo que deseja. O gerente do banco trata-os com indiferença, pois José e sua esposa Ana não se encaixam no perfil de cliente. Ela, por ter emprego temporário e, ele, por não ter emprego algum; a situação é agravada pelo fato de não possuírem um fiador; não dão ao banco a certeza de que saldariam a dívida a ser contraída no empréstimo. O slogan do banco que prima o empréstimo fácil em seu comercial, na verdade, mascara a exclusão e o preconceito aos não-trabalhadores.

Outra cena que também mostra a inadequação é o discurso intermitente dos personagens do bar que se sentem excluídos. Frases proferidas por Amador em meio ao seu questionamento sobre a existência de Deus, entre elas, a la Dostoievski: " Será que Deus acredita em nós",  demonstram a falta de perspectiva dos personagens freqüentadores do bar Naval. Eles estariam colocados à margem de um mundo onde o trabalho posiciona os indivíduos socialmente. O sentimento de exclusão constante para os personagens de Segunda-feira Ao Sol é traduzido em revolta contra a classe opressora.

As ações de Santa durante a manifestação grevista representada nas cenas iniciais do filme geraram conseqüências para o personagem: em seu ato de rebeldia, Santa quebra uma luminária da Urban Light e, mais tarde é intimado pela justiça a pagar uma nova. Na audiência, as justificativas dadas pelo advogado do ex-líder sindical não conseguem convencer o juiz que não leva em consideração as condições que levaram Santa a quebrar a lâmpada. Em protesto, depois de ter que pagar uma nova luminária da Urban Light, o ex-sindicalista passa pelo local de carro e atira outra pedra, quebrando-a novamente.

Tanto na cena onde está em uma central de empregos quanto a que está em uma barca lotação, Santa também se mostra descontente com a burocracia do Estado característica da sociedade burguesa contemporânea e diz que deveriam ser incluídos nos serviços certos atendimentos especiais, tais como a distribuição de lanches e bebidas. De forma irônica, Santa representa a constante sensação de desamparo estatal com relação aos ex-trabalhadores. Em outro momento de Segunda-feira Ao Sol, quando Santa e seus amigos estão tomando conta de um menino; trabalho de babá confiado por Nata (filha do dono do bar Naval); o ex-líder sindical lê uma história infantil intitulada A Cigarra e a Formiga para a pequena criança dormir. De acordo que narra o conto, Santa mostra sua indignação com o conteúdo do livro infantil. Santa faz uma leitura totalmente influenciada pela dicotomia burguesia-proletariado vigente na sociedade capitalista. Ele contesta a posição da Cigarra e da Formiga na sociedade construída pela obra infantil. Aqui não diz por que uns nascem cigarras e outros, formigas. Porque se nasce cigarra, está perdido.

A luta de classes da sociedade capitalista foi refletida nas páginas do livro infantil por Santa. O personagem do ex-sindicalista chega a chamar a Formiga de especuladora. Analisando o contexto mundial no qual o filme e sua história estão inseridas, Los Lunes Al Sol demonstra com exatidão a predominância do sistema capitalista pós-Guerra Fria, a adoção de políticas neoliberais e a acentuação do processo de globalização em nossos dias. Com o fim da bipolaridade entre o bloco capitalista (liderado pelos Estados Unidos da América) e o socialista (liderado pela antiga União Soviética, extinta em 1991), o capitalismo passa a ser predominante nas economias mundiais. Mais recentemente, a adoção de políticas neoliberais associada ao acirramento do processo de globalização legitimam a flexibilização do trabalho e a interconectivade de diversas partes do globo onde empresas são fechadas e abertas, compradas, vendidas e falidas.

                  Em uma possível leitura do filme, o período histórico correspondente ao fim da Guerra Fria seria representado pelo personagem Serguei, ex-astronauta russo. Como o próprio aponta no filme, com a derrocada da União Soviética, o programa espacial no qual participara, teria ruído junto com o socialismo real de seu país. A predominância do capitalismo e a desilusão com o fim do socialismo foram expressas de forma bem humorada na história russa contada pelo personagem do ex-astronauta que alude o encontro de dois boêmios, onde um deles diz que tudo o que nos disseram sobre o comunismo era mentira e o outro teria respondido é, mas o pior é que tudo o que nos disseram sobre o capitalismo era verdade.

Dentre as diversas situações no filme que demonstram a questão neoliberal e a acentuação da globalização estariam Ana (esposa de José Suarez), personagem que ocupa um trabalho temporário enlatando atum (flexibilização do trabalho) e, o fechamento do estaleiro Aurora, onde trabalhavam os metalúrgicos da indústria naval (Santa, Amador, Lino, Rico e José), pois os custos da produção na Espanha seriam elevados, não valendo mais a pena manter a empresa naquela localidade. Para manter-se em seu precário emprego temporário Ana aceita trabalhar em condições não apropriadas ela durante toda a sua jornada de trabalho de oito horas em pé e sente dor nas pernas. A remuneração é baixa, contudo, mesmo assim permanece no emprego, pois sua renda é a única renda disponível para sustentar-se e a seu marido José.

Esta parte do filme refere-se o caráter aviltante do trabalho. É importante observar que a linha de produção resquício do antigo, mas não morto, fordismo ainda está presente, ela simplesmente enlata o atum não participando do processo como tempo presente ao ficar prostrada em frente à linha de produção.

Há dois momentos em que o filme exibe a questão do subemprego de forma bastante sutil. No primeiro, quando o filho de Lino sai de casa sem dar muitas justificativas para fazer um bico&rdquo. No segundo, quando Santa e Serguei distribuem propagandas (folders) no centro da cidade. Sutilmente, nestes dois momentos, Los Lunes Al Sol ilustraria a adoção de trabalhos esporádicos, mas que ajudam na renda dos personagens. Esta prática vigente tira do trabalhador a garantia de proteção social, haja vista que nessas condições o trabalhador não conta com seguro-desemprego, férias remuneradas, entre outras formas de amparo por parte do Estado.

Com a flexibilização do trabalho, os sindicatos tiveram que passar por uma nova adaptação. Passou a ocorrer uma crise de representação: os sindicatos não dão conta de representar os trabalhadores. Santa, ex-líder sindical, reivindica seus direitos com relação às demissões realizadas pela empresa, entretanto não consegue mais reunir os trabalhadores em torno da instituição sindicato como mediador das relações patronais. A assinatura de acordos individuais por parte dos trabalhadores, inclusive por seus amigos do bar Naval, tais como o dono do estabelecimento (Rico) mostraria os quão desagregados estariam os sindicatos.

A questão da idade para o mercado de trabalho também é abordada pelo filme. Lino constantemente procura emprego, porém, tem como empecilho sua idade. Ter acima de 35 anos de idade, consiste em um elemento que o exclui do mercado de trabalho. Ele pinta o cabelo para parecer mais jovem visando obter maiores oportunidades de emprego. A tradicional imagem de provedor da casa de Lino é arruinada pelo desemprego. Provavelmente, não conseguirá mais ocupar um cargo de mesma altura de seu antigo emprego, muito menos, obterá a mesma remuneração de outrora. Outro fator que pesa para Lino e que foi abordado por Aranoa em seu filme foi a relação educação-trabalho. A falta de conhecimentos técnicos considerados essenciais na sociedade contemporânea, tais como o da informática, configura-se como um empecilho para a obtenção de emprego para os personagens do filme. Lino toma aulas de informática com o filho adolescente visando obter melhores possibilidades de reinserção no mercado de trabalho.

Fernando León de Aranoa com sua obra Segunda-feira Ao Sol retratou com perfeição o mundo do trabalho atual pós-Guerra Fria, em pleno capitalismo selvagem, onde as medidas neoliberais ganham peso, assim como outros assuntos que parecem periféricos, mas que estão imbricados à problemática levantada pelo cineasta como a educação e a relação idade-mercado de trabalho. O filme mostra como o constante sentimento de exclusão dos personagens (Santa, Lino, José e Amador) por conta do não-trabalho coloca-os à margem da sociedade capitalista, que tem o trabalho como norteador da vida social.

   DIRETORIA DS/POA

15/08/2008