DICAS DA SEMANA: DVDs
A DS/POA adquiriu 4 novos títulos de DVDs: Vlado, Homem -Urso, Justiça e Dogville.
As reservas e retiradas de livros e DVDs do acervo que está sendo formado pela Diretoria podem ser realizadas com a Sr.a Marcia Matos, na Sede do Sindicato, Rua Luis Afonso nº 510 - Cidade Baixa. Outras informações, também serão serão prestadas pela responsável, durante o horário comercial, pelo fone: (51) 3212-0650.
Aguardamos as suas sugestões de títulos para qualificar as coleções (DVDs/livros),
Confiram as sinopsese e aproveitem para assistir os quatro novos filmes.
Diretoria DS/POA
22/08/2008
VLADO
No dia 25 de outubro de 1975 o jornalista Vladimir Herzog acorda de manhã e se despede da mulher Clarice: ele deve se apresentar ao DOI-CODI, órgão da repressão política do regime militar, para um depoimento. Vlado nem imaginava que nunca mais voltaria para a casa. Naquele fatídico dia ele seria morto. Neste documentário o diretor João Batista de Andrade ouve depoimentos de amigos, familiares, colegas que viveram com Vlado a história, a amplitude das perseguições dos anos de chumbo, a trajetória do jornalista, desde sua infância até sua posse como Diretor de Jornalisamo da TV Cultura de São Paulo e a perseguição a ele iniciada naquele momento. Com depoimentos de Clarice Herzog, José Mindlin, Ruy Othake, Dom Paulo Evaristo Arns, Henry Sobel, Fernando Morais, Paulo Markum, João Bosco, Aldir Blanc, Alberto Dines, Diléia Frate, Mino Carta, Rose Nogueira.
Diretor: João Batista de Andrade
Cantor/Ator/Banda: Não Informa; Duração: 86; Gênero: Documentário;Sistema de Video: Standard;Sistema/Idioma Audio: Português: Dolby Digital 2.0; Distribuidora: Europa
http://www.arenadvd.com.br/arenadvd/product.asp?pf_id=EV48372&dept_id=20
Lembrar Vlado, lembrar todas as vítimas
Dafne Melo
Brasil de Fato
Lembrar Vlado, lembrar todas as vítimas
O assassinato de Herzog teve um peso simbólico muito importante, pois deu visibilidade a um crime cometido pelo militares.
"A certa altura, os gritos pararam. Silêncio. Percebi uma movimentação de pessoas. No dia seguinte, houve um remanejamento interno dos presos e, então, consegui conversar rapidamente com um colega que me avisou que tinham matado o Vlado". As lembranças são do jornalista Sérgio Gomes, que em 25 de outubro de 1975, data da morte do jornalista Vladimir Herzog nas dependências do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), estava preso na cela ao lado de onde Herzog foi torturado até morrer.
Gomes recorda mais: "O que ficou claro na hora, para nós, naquele momento, é que o regime estava numa situação difícil. Como eles iam explicar a morte de um jornalista da TV Cultura, um intelectual, judeu, ex-correspondente da BBC?"
Antes de Herzog, centenas de militantes, incluindo diversos jornalistas, já tinham sido assassinados pelo regime. Gomes explica que, antes, como a imensa maioria dos militantes mortos estava na clandestinidade, era mais fácil para o regime ocultar suas vítimas.
"Por que o nome de José Montenegro de Lima, por exemplo, não apareceu naquele período? Ele também foi preso, torturado e assassinado, mas vivia na clandestinidade", exemplifica Gomes. Lima, também conhecido como Magrão, era integrante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e foi preso em setembro de 1975. Até hoje, seus restos mortais não foram encontrados.
REAÇÃO
Naquele mesmo ano de 1975, o Sindicatos dos Jornalistas do Estado de São Paulo, depois de mais de uma década (precisamente 12 anos) nas mãos de grupos ligados ao governo militar, elegia uma direção que se opunha à ditadura militar.
Audálio Dantas, então eleito presidente do sindicato, conta que a versão do suicídio não foi aceita pelos colegas, visão que se alastrou pelo restante da sociedade. "Ali, houve um despertar de consciências", conta Dantas.
Sérgio Gomes ressalta a importância do papel que o sindicato desempenhou naquele momento, denunciando as prisões de jornalistas, e articulando as mobilizações com outros setores sociais. A movimentação culminou com um ato ecumênico em homenagem a Vlado, na Catedral da Sé (centro de São Paulo), reunindo mais de 8 mil pessoas, uma semana após a morte do jornalista.
A professora do Departamento de História da Universidade de São Paulo, Maria Aparecida Aquino, concorda que o assassinato de Herzog teve um peso simbólico muito importante, pois deu visibilidade a um crime cometido pelo militares.
Mas ela pondera que o assassinato do jornalista " não deve ser vista como um marco definitivo. A reabertura política foi um processo, e foi uma conquista do povo". Sérgio Gomes lembra que, em 1974, o partido de oposição ao regime, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), tinha conseguido importantes vitórias nas eleições, o que catalisava um movimento oposicionista na sociedade.
PINGOS NOS IS
Maria Aparecida Aquino explica que, naquele período, parte do setor militar, sentindo a rearticulação dos movimentos populares (estudantes, sindicatos, setores da Igreja etc.) queria iniciar uma abertura lenta e segura, para continuar com o controle do país.
Entretanto, para alguns militares, isto não era admissível. Neste contexto, em São Paulo, o comando de ultradireita do II Exército decidiu exterminar os militantes do PCB. "Em 1974/75 todos os grupos da luta armada tinham sido exterminados. O regime quis, então, acabar com o PCB, que optara por uma resistência pacífica", conta Maria Aparecida.
Com a morte de Herzog, acrescenta, o então general-presidente, Ernesto Geisel, "sentiu a faca no fígado". A luz sobre a crueldade do regime fi caria ainda mais intensa em janeiro de 1976. Foi então que Manuel Fiel Filho, operário militante do PCB foi torturado até a morte na mesma cela do DOI-Codi onde Vladimir Herzog também fora torturado até à morte. Dessa vez, o comandante-chefe do II Exército, Ednardo D”Ávila Melo, foi afastado da função.
VISÃO CAOLHA
A professora diz que atitudes como esta, não podem ser vistas como concessão do regime, mas como fruto das reivindicações da sociedade. "Desde a independência, temos uma inversão total. Os setores populares queriam a independência, mas a elite criou uma farsa, antes que o povo a conquistasse de fato. O mesmo aconteceu com o afrouxamento da ditadura, e pagamos este preço até hoje. É como se os movimentos populares não existissem, e se fica vendendo a idéia de que sempre ficamos esperando ordens superiores", avalia Maria Aparecida.
Sérgio Gomes acredita que a comemoração do 30º aniversário da morte de Vladimir Herzog traz à memória fatos que devem servir de reflexão para a esquerda brasileira. "O que nós vimos ali, naquele momento, foi uma ação aglutinadora de diversas forças na sociedade, sem sectarismo. Como diz (Theodor) Adorno, não se trata de reviver o passado, mas de realizar as suas esperanças", conclui o jornalista.
http://www.direitos.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=437&Itemid=2
HOMEM-URSO
MARAVILHAS DA NATUREZA
Por NELSON HOINEFF
21/06/2006
Há muitos tesouros nas quase cem horas de material filmado que o californiano Timothy Treadwell deixou, antes de ser devorado por um urso no outono de 2003. Durante treze anos, Timothy foi, todos os verões, à reserva de Katmai, no Alaska, onde convivia com os animais. A natureza dessa convivência é uma das preciosidades que ele deixou filmada. Em O Homem-Urso, vemos cerca de duas horas desse material. Na sua maior parte, Timothy age menos como cientista que como um apresentador de algum dos infames programas que redes de televisão bestificantes como o Animal Planet costumam botar no ar.
São programas que denigrem os animais e estupidificam os seres humanos. Timothy, logo se vê, estava acima de Zoboomafoo mas agia como tal. Era uma pessoa que amava os ursos com quem vivia. E que, talvez por isso mesmo, desenvolvia com eles uma relação patológica, não muito diferente dos milhões de seres humanos que procuram atribuir suas próprias qualidades aos animais de estimação.
A diferença é que ursos costumam ser mais perigosos para o convívio humano do que cãezinhos. Por isso há bem mais filmes domésticos sobre cãezinhos do que sobre ursos de estimação. O que Timothy Treadwell filmou durante os seus 13 verões no Alaska é único. Mas a singularidade do que captou não está na forma que ele julgou encontrar para “encantar” as feras e sim no que contém essa relação.
Werner Herzog tem o notável vislumbre de enxergar criticamente o extraordinário material a que teve acesso. Trata-se, é claro, de uma coleção de imagens que, no mínimo pela sua carga profética, chegam a parecer encenadas. São inúmeras as ocasiões, por exemplo, em que Timothy - que filma a si mesmo - anuncia para a câmera: “Se eu fraquejar por um momento, eles irão me agarrar, decapitar, cortar em pedaços”. Na verdade, a cada cinco ou seis cenas editadas, Timothy anuncia a possibilidade de sua morte pelos ursos com quem convive.
Não é uma profecia apenas do autor, mas uma expectativa do senso comum. Está na anedota do escorpião que atravessa o rio antes de picar quem lhe carregou. Numa entrevista a David Letterman, incluída no filme, o apresentador pergunta a Timothy se algum dia lerá nos jornais que ele foi devorado pelos ursos.
Por que haveria de ser de outra maneira? Essa parece ser a pergunta que Herzog formula nas entrelinhas de cada plano que edita. Ele narra seu filme na primeira pessoa e com sua própria voz em off, o que lhe permite fazer esse questionamento diretamente, dizer ao espectador que não está ali para lhe oferecer comiseração através do amplo material coletado de uma morte anunciada. Não, o cineasta não está ali para fazer o que qualquer apresentador de programa vespertino de televisão faria, não está processando seu material com tons melodramáticos ou sensacionalistas. Ele não está tentando entender os ursos, e sim o homem que está por trás dos ursos.
Para isso, Herzog busca ajuda em pessoas que conheceram de perto a relação entre Timothy e seus animais. Como um piloto que costumava levá-lo para a reserva: “Ele tratava os ursos como se fossem pessoas fantasiadas de ursos. Acabou tendo o que mereceu”.
Herzog interpreta com clareza o material que está processando e nisso consiste parte da grandeza de seu filme. Cineasta que promove ao extremo a encenação de obsessões, ele comenta a obsessão de seu personagem: “Já vi essa loucura em sets de filmagem antes”. Está mencionando sua própria relação com pessoas como Klaus Kinski. Está falando de artistas como si próprio. Está dizendo que a diferença entre o homem e as bestas é o número de patas.
O Homem-Urso é muito mais sobre o homem que sobre o urso. Se este é previsível, aquele é repleto de complexidades. Nas imagens filmadas por Timothy Treadwell, Herzog busca a patologia de seu criador. Ela está visível na insistência do californiano em pretender ser australiano, em apresentar-se como “protetor” dos animais – embora muitos ecologistas garantam que os ursos estariam mais protegidos sem a sua presença – e na delicada natureza de seu relacionamento com outros seres humanos, inclusive a namorada (que foi devorada com ele) e a ex-namorada Jewel Palovak, que trabalha na instituição criada por Treadwell. Não há nada de sentimental em relação aos animais e muito menos à natureza – cuja essência cruel é descrita por Herzog numa das melhores linhas do filme.
Em grande medida, O Homem-Urso é a história de um maníaco, que achava que era igual aos ursos e que gostava de agir como os débeis-mentais que apresentam a maioria dos programas das redes de TV por assinatura. Mas que agregava duas particularidades: a de ter a coragem de se aproximar dos ursos que julgava entender e a de filmar tudo isso.
O legado de imagens que Treadwell deixou permitiu a Werner Herzog realizar um dos melhores documentários produzidos nos últimos anos.
O HOMEM-URSO (GRIZZLY MAN);EUA, 20056;Direção e Roteiro: WERNER HERZOG;Produção: ERIK NELSON;Fotografia: PETER ZEITLINGER;Edição: JOE BINI
Música: RICHARD THOMPSON;Duração: 100 min.
http://www.criticos.com.br/new/artigos/critica_interna.asp?secoes=&artigo=1013
JUSTIÇA
Imagem e realidade
Documentário escancara fragilidade do sistema penal
O documentário Justiça, da cineasta brasiliense Maria Augusta Ramos, é o retrato frio e cruel da realidade carcerária e processual do nosso sistema penal.
A iniciativa do presidente do STJ, ministro Edson Vidigal, levando para o espaço cultural do tribunal a discussão sobre as mazelas que atingem o Poder Judiciário, é conseqüência de anos de descaso do poder público com a segurança do estado e do cidadão.
Maria Augusta Ramos, que vive na Holanda, colocou sua câmera como se fosse mira telescópica e atirou, certeira, no coração do problema. Com visão aguçada pela tranqüilidade em que vive na Europa, a cineasta mergulhou na vida dos principais personagens envolvidos nos delitos, desde a sua prática até o julgamento: o réu e sua família, a polícia, o promotor, o defensor público e o juiz; suas vidas cruzadas pelos aspectos humanos e a diferença das funções que cabe a cada um e a todos na sociedade.
O filme deveria ser exibido no horário nobre para que todos pudessem sentir a realidade sem a agressiva reportagem do fim de tarde que mostra o sangue correndo nas avenidas, mas que não expõe, com calma e transparência, a dureza da vida.
Neste momento, em que se discute projeto de lei que pretende alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente, é oportuno mencionar a proposta do deputado Vicente Cascione, que deseja aumentar as penas, até 27 anos de punição. A tentativa de encarcerar crianças e adolescentes nas masmorras dos presídios é a cara do Brasil. Não aplicamos as medidas educativas e aceitamos discutir propostas indecentes que levarão os nossos jovens à morte em vida.
O filme Justiça demonstra a fragilidade do nosso sistema penal e o desinteresse em se desenvolver alternativas que possam, efetivamente, recuperar jovens infratores. As soluções que respeitam as determinações legais, de modo geral, são relegadas por terem sido criadas em outros governos, não recebendo das autoridades os recursos que gerariam possibilidades para formação de cidadãos de bem. Os discursos políticos são misturados à demagogia de que somente com educação será possível salvar nossos jovens.
A verdade é que poucos são os jovens que não se sentem amedrontados em ir à escola pelas ruas escuras e inseguras da periferia de qualquer cidade brasileira. Como receber educação se não é possível, sequer, chegar à sala de aula?
A presença de gangues nas proximidades dos cursos noturnos, ameaçando e assaltando, é a imagem não premiada dos filmetes exibidos pela televisão nas rondas das ruas. A facilidade da compra de drogas pelos jovens os remete ao tráfico miúdo e às prisões infectas e desumanas. A violência cotidiana leva o jovem a acreditar que a vida é assim mesmo.
A vida não é assim mesmo. A vida pode ser melhor se, desde o início, a família e o Estado proporcionarem às crianças o caminho do conhecimento e da cidadania. Os maus exemplos aparecem diariamente na mídia vindo dos que deveriam oferecer as condições ideais na formação de uma grande Nação e, no entanto, roubam, corrompem e pervertem gerações de brasileiros há anos.
A ação do presidente do Superior Tribunal de Justiça, abrindo espaço para o debate público e permanente – fora dos autos – sobre os caminhos dos jovens e os destinos do País, é sopro de esperança e alento para o futuro. Revista Consultor Jurídico - 07/07/2004
http://www.conjur.com.br/static/text/26111,1
JUSTIÇA, (2004), recebeu 9 prêmios internacionais, entre eles: Grand Prix, prêmio de melhor filme, no Festival Internacional de Cinema Visions du Réel, em Nyon na Suiça (maio/2004); La Vague d”Or de Melhor Filme no Festival Internacional de Cinema de Bordeaux, França (out/2004); Prêmio da Anistia Internacional no Festival Internacional de Documentários de Copenhagen, Dinamarca (nov/2004); Menção Especial do Júri no Festival Internacional de Cinema Documental de Lisboa, Portugal (nov/2004); Grand Prize, prêmio de melhor filme no Festival Internacional de Documentários de Taiwan (dez./2004).
http://www.juizoofilme.com.br/php/filme_diretora.php?lang=pt
FONTE: Mila Braz Blog Spot
Nov. 08, 2004
Documentário "Justiça"
"Justiça": Documentário percorre os corredores do Sistema Judiciário
O documentário "Justiça", de Maria Augusta Ramos, que registra as lacunas do Sistema Judiciário brasileiro retrata de forma contundente o que se passa nos corredores do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. O local é apenas uma metáfora para as deficiências que assolam o sistema como um todo.
O documentário acompanha o papel de diversos personagens do universo jurídico como promotores, defensores, advogados e réus. Mais do que um retrato "jornalístico" do sistema, o movimento da câmera costura os dramas pessoais com o dia-a-dia da burocracia dando ao espectador uma sensação de descontinuidade, de perda de rumos. As apostas do argumento e do roteiro renderam à película alguns títulos como a Seleção Extraordinária 2003 para projetos de distribuição de filmes de longa-metragem da Petrobras e a seleção para os festivais de Roterdam, Munique e São Petesburgo.
Com 100 minutos de duração, o documentário terá exibição gratuita e, após a seção, ocorrerá um debate sobre o Sistema Judiciário brasileiro.
O evento é uma realização do escritório Ribeiros Consultores Associados e tem o apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-CE), do Observatório da Justiça e da Cidadania (OJC-CE), da Associação Cearense do Ministério Público (ACMP), da Faculdade Farias Brito, dos Escritórios Pragmácio e Leitão advogados e do Clube do Advogado.
Um choque de realidade (texto de Pedro Butcher, Revista Cinemais)
Justiça, documentário de Maria Augusta Ramos, pousa a câmera onde muitos brasileiros jamais puseram os pés - um Tribunal de Justiça no Rio de Janeiro-, acompanhando o cotidiano de alguns personagens. Há os que trabalham ali diariamente (defensores públicos, juízes, promotores) e os que estão de passagem (réus). A câmera é utilizada como um instrumento que enxerga o teatro social, as estruturas de poder - ou seja, aquilo que, em geral, nos é invisível. O desenho da sala, os corredores do fórum, a disposição das pessoas, o discurso, os códigos, as posturas-todos os detalhes visuais e sonoros ganham relevância.
O espaço, as pessoas e sua organização são registrados de maneira sóbria. A câmera está sempre posicionada em relação à cena mas não se move dramaticamente, não busca a falsa comoção. Sinal de respeito, de não-exploração. No filme, não há entrevistas ou depoimentos, a câmera registra o que se passa diante dela.
Maria Augusta Ramos observa um universo institucional extremamente fechado e que raras vezes é tratado pelo cinema ficcional brasileiro. Seu filme é tão mais importante em função de nossas limitações em termos de representação dos sistemas judiciais. Em geral, nosso olhar é formado pela visão do cinema americano, os "filmes de tribunal". Justiça, sob esse aspecto, é um choque de realidade.
A cineasta vai acompanhar um pouco mais de perto uma defensora pública, um juiz/professor de direito e um réu. Primeiro, a câmera os flagra no "teatro" da justiça; depois, fora dele, na carceragem da Polinter e na intimidade de suas famílias. Com suas opções claras, que não são escondidas por sua opção pela sobriedade e pela simplicidade, Maria Augusta Ramos deixa evidente que, como os documentários, a justiça está muito longe de ser isenta. Como e para quem a justiça funciona no Brasil é a questão que se apresenta em seu filme, sem respostas definitivas ou julgamentos preconcebidos.
Diretora: Maria Augusta Ramos é uma cineasta premiada internacionalmente. Seu filme Desi recebeu o Prêmio de Público no Festival Internacional de Documentários de Amsterdam, a Cannes do gênero, e o Bezerro de Ouro, prêmio máximo do cinema holandês.
Ficha técnica: 2004 100 minutos. Uma co-produção Selfmade Films, Limite Produções, NPS.
Visite o site oficial do filme: www.justicaofilme.com
http://milabraz.blogspot.com/2004/11/documentrio-justia.html
DOGVILLE
FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO
22/05/2003 - 03h38
Provocativo, "Dogville" faz críticas aos EUA
PEDRO BUTCHER
da Folha de S.Paulo, em Cannes
Mais uma vez, a passagem de Lars von Trier, 47, pelo Festival de Cannes despertou amor e fúria. A exibição de "Dogville", na segunda, exaltou os ânimos de um evento que estava morno.
Não sem razão. O novo Von Trier, capítulo inicial de uma trilogia passada nos EUA e estrelada por Nicole Kidman, é pura pólvora, provocativo na forma (filmado em estúdio, sem cenários, com duração de três horas) e no conteúdo (um ato de vingança).
Pelos quadros de cotações das publicações de Cannes, o filme poderá dar ao diretor dinamarquês sua segunda Palma de Ouro depois de "Dançando no Escuro" (2000). Mas este foi o filme que recebeu o mais violento ataque de um crítico até agora: Todd McCarthy, da revista "Variety", acusou o cineasta de desferir um "golpe nos valores americanos, óbvio em suas intenções e obscuro como experimento artístico".
Folha - O senhor já leu a crítica da "Variety"?
Lars von Trier - Não, mas tenho a impressão de que vou ficar muito orgulhoso depois que ler.
Folha - O que o senhor acha da leitura anti-americana que estão fazendo de "Dogville"?
Von Trier - É uma leitura redutora. Não fiz um filme sobre a América, mas um filme que se passa numa terra chamada América e que me veio à cabeça enquanto pensava em várias coisas. A idéia era dar um sentimento americano, mas a história poderia se passar em qualquer cidade pequena.
Folha - Mas são claras as críticas aos Estados Unidos...
Von Trier - Sim, ele reflete uma posição política. Acredito que, se você é o garoto mais forte da turma, primeiro você precisa ser piedoso e, segundo, você precisa aceitar críticas. Não é o que vem acontecendo nos EUA. Acredito que mais ou menos 10% da população americana tenham uma visão parecida com a minha, mas veja bem: o mesmo vale para o meu país, a Dinamarca.
De onde se conclui que, pela proporção, existem mais pessoas com quem eu concordo nos EUA que em meu próprio país... Não sou anti-americano. Como se pode ser contra algum país e contra a sua população inteira? Mas sou contra a política de Estado que vejo nos EUA e fui contra a guerra do Iraque.
Folha - A forma de parábola de "Dogville" permite esta leitura, a da defesa de uma vingança contra o poder dos EUA como nação?
Von Trier - De forma alguma eu defendo atos de vingança no filme. Sei que algumas pessoas podem entendê-lo dessa maneira, mas que considero tão estúpida quanto aquela que chama "Dogville" de anti-americano.
Folha - O que o senhor acha da fama de provocador?
Von Trier - Não sei se sou um provocador, mas gosto de pensar que estou provocando a mim mesmo quando escolho um tema como a vingança pessoal, por exemplo, algo que vai contra os meus princípios e que acredito ser totalmente não-civilizado.
Folha - Por isso o estilo "brechtiano", mais cerebral que emocional?
Von Trier - Certamente "Dogville" é mais cerebral e menos emocional que "Ondas do Destino" e "Dançando no Escuro", mas não sei se pelo tema. Foi assim que ele acabou se desenvolvendo a partir de várias referências, e Brecht foi uma delas. Sinto que "Dogville" está próximo a mim pela narração, pelo tom sarcástico. É meu filme mais pessoal.
Folha - "Dogville" inicia uma nova trilogia. E os outros dois filmes?
Von Trier - Já escrevi o roteiro do segundo filme, que vai se chamar "Mandalay" e vai retomar a história de "Dogville" algumas semanas depois de seu fim. As filmagens deverão começar no próximo inverno. O terceiro filme vai se chamar "Wasington", assim mesmo, sem o "h".
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u33307.shtml
FONTE: SITE WIKIPEDIA
Dogville
Dogville é um filme lançado em 2003 e dirigido por Lars von Trier, estrelando Nicole Kidman e Paul Bettany entre outros. Este filme faz parte da trilogia "E.U.A. Terra de Oportunidades" tendo como seqüência Manderlay (2005) e Wasington (planejado inicialmente para 2007, atualmente sem data prevista).
Trata-se de uma co-produção dos países Dinamarca, Suécia, Noruega, Finlândia, Reino Unido, França, Alemanha
Aspectos gerais
O filme chama a atenção pela simplicidade de seus cenários e cortes de cenas não convencionais. Todo o filme foi filmado dentro de um galpão localizado na Suécia com o mínimo de artefatos, há poucas mesas e algumas paredes, mas normalmente há apenas marcações no chão indicando que ali é a casa de tal pessoa, ou há um arbusto. Apesar dos personagens fazerem constantes referências a paisagem, ou ao céu, o fundo é infinito, tendo constantes alterações de luz e cor que indicam mudanças de dia/noite, clima e de momentos importantes do filme. O filme ainda tem um narrador onisciente e é o próprio Lars von Trier quem controla a câmera.
Tudo isso são artimanhas do diretor para que o público não se esqueça de que assistem a uma peça de ficção, valorizando o trabalho dos atores. O resultado é aberto a opiniões: alguns espectadores saem maravilhados com a sensibilidade com que Lars retrata a arrogância humana e a atuação brilhante (Nicole Kidman, vencedora do Oscar por As Horas), outros acham o filme longo e maçante (o filme tem quase três horas de duração).
Influências e referências
Dogville apresenta claras referências visuais e influências de produção herdadas do movimento Dogma 95, manifesto cinematográfico que foi iniciado pelo próprio Lars Von Trier. Em Dogville temos a ausência de trilha sonora no filme, câmera na mão, não há deslocamentos temporais ou geográficos. Entretanto, em Dogville há a presença de gruas, iluminação artificial e cenografia, itens que eram proibidos no Manifesto Dogma 95.
Existem visíveis influências teatrais em Dogville, como o teatro de Bertolt Brecht, que costumava colocar avisos de “atenção, não se emocione, isso é ficção” em suas peças; o teatro caixa preta, realizado em um único cenário com as paredes todas pretas, e finalmente o teatro do absurdo, onde os atores improvisam e criam situações onde interagem com objetos imaginários.
Percebe-se na construção da trama e no foco humanista do tratamento dos personagens influências de escolas de filosofia, especialmente as gregas. Por duas vezes cita-se nos diálogos os ensinamentos dos estoicistas, uma escola que pregava o abandono da emoção para vivermos sem dor. E muito da moral da história gira em torno da diferença entre o altruísmo - dar sem esperar nada - e o quid pro quod - que exige uma compensação equivalente para cada ação.
Enredo
O filme é dividido em 10 partes - cada uma com créditos e uma introdução narrada -, sendo 1 prólogo e 9 capítulos. A trama acontece em um único local, uma cidade pequena dos Estados Unidos chamada "Dogville", situada no fim de uma estrada que vai até as Montanhas Rochosas, na época da grande depressão estadunidense.
O filme começa com uma tomada de cima para baixo, onde pode-se ver o desenho da cidade (com as marcações dos espaços das casas desenhados no chão). Essas tomadas perpendiculares repetir-se-ão em diversas cenas, sendo marcos importantes da narrativa. O narrador vai então apresentando os personagens um por um ("todos têm pequenos defeitos facilmente perdoáveis") e contando suas histórias.
Entre os moradores de Dogville, o personagem principal é Thomas Edison Jr., um escritor que para protelar o dia em que terá que começar a escrever seu livro se ocupa em pregar sermões a toda a comunidade sobre rearmamento moral. Ele está procurando um exemplo para servir de ilustração às suas teorias e assim comprovar que os moradores não são capazes de aceitar novas situações, quando é interrompido por barulhos de tiros a distância.
Nesse momento entra Grace, uma bela jovem com um vestido que denota sua origem de família rica. Ela diz a Tom que está fugindo de um gângster e Tom, percebendo nela o exemplo perfeito para sua palestra, lhe dá cobertura.
Os moradores de Dogville a princípio recusam-se a aceitá-la, e Tom propõe que dêem a Grace um prazo de duas semanas, para então decidirem sua sorte. Grace, em compensação, deve ajudá-los em tarefas cotidianas. Apesar de não admitirem, eles jamais dão coisa alguma, não há generosidade ou aceitação: há um sistema de trocas e é esse sistema de compensações (o quid pro quó) que, aliado à personalidade de perdoar de Grace (seu altruísmo), anuncia a tragédia.
Os moradores relutam até mesmo em aceitar a ajuda de Grace, mas acabam aceitando e Grace rapidamente começa a passar seus dias ocupada em fazer pequenas coisas que "não são necessárias", mas que os moradores "generosamente permitem" que ela faça. E assim passam-se as semanas, os moradores aceitam que Grace fique na vila, como mais um favor que ela ficará devendo a eles.
Tom confessa a Grace que gosta dela e é correspondido, mas ele não assume publicamente seu amor perante Dogville, mantendo o romance deles secreto e mantendo Grace na condição de estrangeira.
A aparente tranqüilidade da situação começa a mudar no dia da Independência, quando a cidadezinha recebe a visita da polícia, que afixa um cartaz onde Grace é apontada como procurada.
Os moradores de Dogville consideram ainda maior a dívida de Grace com eles, fazendo cada vez mais exigências, que diante da permissividade e comportamento passivo de Grace, rapidamente transformam-se em abusos. Uma cena forte do filme é quando Chuck a estupra, como "pagamento" para que ele não a denunciasse às autoridades. Aqui a função do cenário vazio é clara: a ausência de paredes dá a nítida percepção de que todos sabem o que se passa, mas fingem não ver.
A comunicação também não parece ser possível para os moradores de Dogville. O que eles falam passa longe de significar o que realmente querem dizer. Quando questionados são evasivos, mudam de assunto ou simplesmente respondem outra coisa. Chuck fala de colheita de maçãs quando está querendo abusar sexualmente de Grace, e Ma Ginger reprime-a quando ela passa entre os arbustos, com argumentos que simplesmente não correspondem àquilo que ela diz.
Desse ponto em diante a constante dívida de Grace com a comunidade só cresce e ela torna-se uma escrava não só de trabalho físico como sexual. Em pouco tempo a tratam como uma vaca, que puxa um arado, onde os caipiras se aliviam. Somente Tom, sem capacidade de tomar qualquer atitude, não a viola. E é após ela o rejeitar, que ele decide dar um basta nessa pequena metáfora ilustrativa que ela representa, chamando o gângster que a procurava.
Nesse momento revela-se que Grace não está sendo ameaçada por eles, mas é a filha do chefe maior. Não há surpresa no final: desde que Grace entra no carro o diretor vai preparando a platéia com a idéia de que haverá um massacre. E sem dúvida, não fosse este final apoteótico, o filme terminaria morno, indigesto, como se todos estivessem com algo na garganta. O final catártico faz com que Dogville apresente uma estrutura narrativa herdeira das tragédias gregas, onde a platéia era levada a uma situação de tensão insuportável e liberava a adrenalina contida no final trágico.
Interpretações:
Desde sempre, quase toda obra de arte é, em última instância, um retrato do ser humano. Lars von Trier não parece perdoar alma alguma, e faz um retrato de pessoas cruéis, mesquinhas, egoístas e arrogantes.
Tom é um covarde, incapaz de assumir responsabilidade alguma (o drama de Grace começa no dia da Independência, quando ele não assume o romance com ela). Os habitantes da vila são "cães" que se comportam de forma instintiva, guiados pelas suas necessidades físicas e seus próprios interesses.
Nem mesmo a protagonista, Grace, é perdoada. Se ao longo do filme somos levados a vê-la como possuidora de uma generosidade infinita, o capítulo final mostra que não: se ela perdôou e permitiu que fizessem dela tudo o que foi feito é porque se considerava acima de todos, superior e indiferente como um "deus olímpico". Grace jamais foi cativa ou submissa, nunca sentiu real misericórdia e sim, desprezo. A todo momento temos a impressão de que, se ela realmente quisesse, poderia simplesmente ir embora, e que portanto os verdadeiros prisioneiros são os moradores - e ela sabe disto.
Na cena final há mais um elemento por trás de Grace: a platéia. Se a platéia passou o filme sofrendo com a passividade de Grace diante das brutalidades, agora se regozija, conscientemente ou não, concordando (e gostando) do massacre a que assiste. Essa é a forma do diretor dizer ao público: vêem? Vocês fariam o mesmo.
Dogville é a antítese do bom selvagem de Rousseau. Sequer os bebês são sem pecado, apenas talvez o cão, que esse nada fez contrariando sua natureza animal e permanece o filme todo "preso" em sua corrente.
Nos Estados Unidos muitos espectadores sentiram-se ofendidos, acusando Lars von Trier de antiamericano. O fato de ele jamais ter visitado os Estados Unidos e de fotografias do período da depressão e de pessoas miseráveis estadunidenses serem usadas durante os créditos finais, ao som da música Young Americans de David Bowie, não depuseram a seu favor.
Mas Dogville poderia ser uma cidade em qualquer lugar, em qualquer época.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dogville
Ficha TécnicaTítulo Original: Dogville;Gênero: Drama;Tempo de Duração: 177 minutos
Ano de Lançamento (França): 2003;Site Oficial: www.dogville.dk
Estúdio: Canal+ / 4 1/2 / Alan Young Pictures / Det Danske Filminstitut / Edith Film Oy / Film i Väst / Hachette Première / Isabella Films B.V. / J&M Entertainment / KC Medien AG / Kushner-Locke Company / Kuzui Enterprises / Liberator Productions / MDP Worldwide / Memfis Film & Television / Pain Unlimited GmbH Filmproduktion / Q&Q Medien GmbH / Sigma Films Ltd. / Slot Machine / Something Else B.V. / Summit Entertainment / Sveriges Television / Trust Film Svenska / Zoma Ltd. / Zentropa Entertainment / What Else B.V.
Distribuição: Lions Gate Entertainment / California Filmes;Direção: Lars Von Trier; Roteiro: Lars Von Trier; Produção: Vibeke Windelov;Fotografia: Anthony Dod Mantle; Desenho de Produção: Peter Grant;Figurino: Manon Rasmussen; Edição: Molly Marlene Stensgard
Elenco
Nicole Kidman (Grace); Harriet Andersson (Gloria);Lauren Bacall (Ma Ginger); Jean-Marc Barr (Homem com grande chapéu); Paul Bettany (Tom Edison); Blair Brown (Sra. Henson);James Caan (Homem grande)
Patricia Clarkson (Vera); Jeremy Davies (Bill Henson);Ben Gazzara (Jack McKay); Philip Baker Hall (Tom Edison Sr.); Siobhan Fallon (Martha); John Hurt (Narrador - voz); Udo Kier (Homem de casaco); Chloë Sevigny (Liz Henson); Stellan Skarsgard (Chuck); Miles Purinton (Jason)
http://www.adorocinema.com.br/filmes/dogville/dogville.asp