Análises sobre a crise financeira com: Noahm Chomsky,Peter Jay ePatrick Minford. E:Bolsas européias sobem fortemente com plano dos EUA.

19 Set 2008

19/09/2008 - 09h24

O mercado financeiro mundial foi abalado nesta semana pela quebra do banco de investimentos Lehman Brothers e dos problemas de crédito de instituições financeiras como a seguradora americana AIG --que recebeu uma ajuda de US$ 85 bilhões do Federal Reserve (Fed, o BC americano). O governo dos EUA ontem anúnciou um pacote de ajuda para evitar um agravamento da crise.

Entenda a quebra do banco Lehman Brothers Entenda a crise financeira que atinge a economia dos EUA Entenda a diferença da lei sobre falência no Brasil e EUA

Veja a seguir comentários de analistas e economistas sobre a atual crise.

Noahm Chomsky (filósofo e filósofo e professor de lingüística do Massachusetts Institute of Technology)

Os mercados têm ineficiências conhecidas e inerentes. Um fator é a falha para calcular os custos de quem não participa destas transações. Estas externalidades podem ser gigantes. Isso é particularmente verdade no caso de instituições financeiras.

A tarefa deles é assumir riscos, calculando custos potenciais para si mesmos. Mas eles não levam em consideração as conseqüências das suas perdas para a economia como um todo.

Logo o mercado financeiro subestima o risco e é sistematicamente ineficiente, como escreveram John Eatwell e Lance Taylor há uma década, alertando para os perigos extremos da liberalização financeira e revendo os custos substanciais que estão implicados - e também propondo soluções, que foram ignoradas.

A intervenção sem precedentes do Federal Reserve (o banco central americano) pode ser justificável ou não em termos estreitos, mas revela, mais uma vez, o caráter profundamente antidemocrático das instituições capitalistas, feitas em grande medida para socializar o custo e o risco e privatizar os lucros, sem uma voz pública.

Isso não é, é claro, limitado ao mercado financeiro. A economia avançada como um todo se ampara pesadamente no dinâmico setor estatal, com a mesma conseqüência em relação ao risco, custo, lucro e decisões - características cruciais dos sistemas político e econômico.

Peter Jay (diretor não-executivo do Bank of England e ex-editor de economia da BBC)

Na medida em que nomes grandes de Wall Street estão indo à lona, destruídos pela própria arrogância e pelo ambiente financeiro mais hostil em quase 80 anos, nós devemos nos perguntar: por que estamos tão surpresos? Logo nós, que deveríamos ser especialistas? Por que não previmos isso?

A verdade é desconfortável. Nós ficamos cada vez mais cínicos sobre o discurso marxista de contradições do capitalismo, porque o próprio marxismo fracassou nos anos 70, enquanto o capitalismo sobreviveu. Ele fracassou tanto que seus seguidores foram desacreditados.

As pessoas de uma geração mais antiga acreditavam verdadeiramente que alguma combinação das idéias de Walter Bagehot e J. M. Keynes tornariam impossível um novo colapso do sistema financeiro e uma depressão da macroeconomia.

Os bancos centrais nunca deixariam isso acontecer de novo.

Para uma geração mais nova, os anos 30 parecem que são algo do passado distante e que as crises desde então terminaram sem catástrofes. A complacência é o preço do sucesso.

Mas agora nós precisamos enfrentar a possibilidade real de que as mudanças de humor dos mercados financeiros não podem para sempre serem baseadas em otimismo; quanto mais as ações subirem, mais elas cairão, e essa falha no capitalismo não pode ser consertada - nem mesmo por Alan Greenspan - porque está cunhada na imutável psicologia humana.

Patrick Minford (economista da universidade de Cardiff. Ele foi assessor informal da ex-premiê britânica Margaret Thatcher)

No atual desastre financeiro, já se ouve vozes pedindo mais regulamentos para cortar os excessos do capitalismo.

É preciso lembrar primeiro que já existe muita regulação sob os acordos de Basle.

O problema é que os bancos evitaram as leis usando veículos especiais de investimento nos seus balanços.

Um ajuste necessário seria simplesmente assegurar que, no futuro, isso seja corrigido.

Em segundo lugar, os bancos de investimento, como o Lehman Brothers, praticamente não são regulados e estão completamente fora dos acordos de Basle. No entanto, estes animais passaram por um banho de sangue e provavelmente não se comportarão mais desta maneira nunca mais.

O capitalismo tem um bom histórico de melhorar dramaticamente os padrões de vida do mundo ao longo de grandes períodos.

A legislação bancária --que goza do privilégio do credor de último recurso com recursos dos contribuintes-- é necessária para proteger o contribuinte de abusos.

Mas nós precisamos de um sistema bancário e financeiro vigoroso e competitivo. Qualquer ajuste à estrutura regulamentar atual precisa manter isso em mente.

Jon Danielsson (economista e membro do grupo de mercados financeiros da London School of Economics)

Nós ouvimos que a onda de fusões, nacionalizações e falências no mundo financeiro representam o fracasso da velha forma de se fazer negócios, e que o futuro é um mundo pesadamente regulado, como nos anos 50.

Nada pode estar mais longe da verdade do que isso. O custo de prevenir crises significa uma economia como em Cuba ou na Coréia do Norte.

Enquanto alguns bancos, com a anuência de reguladores e com o apoio de governos, se colocaram em dificuldade, é a reação a essa crise que realmente interessa. O sistema financeiro está passando no teste até agora.

Nós sairemos desta crise tendo aprendido que é importante para os bancos não deixarem seus ativos tão complicados que nem eles, nem ninguém os entende.

A verdadeira tragédia seria se a reação oficial à crise fosse o excesso de regulação mal-pensada e politicamente motivada. Um sistema financeiro livre é essencial para a prosperidade internacional.

Por favor, legisladores não nos coloquem de volta em 1929 ou nos anos 50.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u446623.shtml

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19/09/2008 - 08h08 Frankfurt (Alemanha), 19 set (EFE). As Bolsas européias reagiram com fortes altas às medidas anunciadas pelo governo dos Estados Unidos para reduzir a pressão sobre o setor hipotecário e financeiro. Além disso, o Banco Central Europeu (BCE) injetou hoje mais US$ 40 bilhões no mercado de divisas. Órgão dos EUA proíbe vendas a descoberto de ações BCE injeta mais US$ 40 bilhões diante da alta demanda Na metade do pregão, subiam a Bolsa de Londres (8,1%), a Bolsa de Frankfurt (4%), a Bolsa de Paris (6,3%) e a Bolsa de Madri (6%). A Bolsa de Tóquio também recebeu bem as iniciativas das autoridades americanas, e o índice Nikkei subiu 3,8%. Ontem, Wall Street reagiu favoravelmente às medidas e fechou com alta de 3,9%. O governo americano, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) e o Congresso se uniram para lançar o maior pacote de medidas para conter uma crise, e que permitirá aos bancos se desfazer de seus ativos prejudicados. Além disso, hoje vencem os contratos futuros nos mercados de derivados, o que geralmente gera alto nível de volatilidade. Na Europa, na metade dos pregões, todos os setores empresariais apresentavam alta, menos no setor automobilístico e de autopeças. Os bancos lideravam os ganhos, com alta média de 16%, seguidos das seguradoras, com 12,2%. Em Frankfurt, a seguradora Allianz ganhava 12,6%, o Commerzbank subia 17,1% e o Deutsche Bank subia 15,2%. Em Paris e em Londres, as altas dos bancos eram muito maiores: Crédit Agricole subia quase 23%, o Barclays ganhava 30,1% e o Halifax Bank of Scotland (HBOS) subia quase 40%.

http://economia.uol.com.br/ultnot/2008/09/19/ult1767u128915.jhtm