Diretores do BC dos EUA sugerem que o pior da recessão já passou

Fonte FOLHAONLINE
20 Abr 2009
Dois dos principais membros do Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA) sugeriram neste sábado que o pior da crise financeira já passou no país. Donald Kohn, vice-presidente do Fed, e William Dudley (diretor da unidade regional do banco em Nova York) defenderam os cortes de juros e as injeções de capital na economia como forma de reativar o crescimento americano.Os diretores foram questionados sobre a crise durante uma conferência na Universidade de Vanderbilt, em Nashville (no Estado do Tennessee). Para eles, a economia real ainda vai demorar algum tempo para mostrar os efeitos das medidas anticrise, mas o Fed e o governo têm sido bem-sucedidos em agir para retomar o crescimento.Para Kohn, o "número dois" do Fed, a política em direção a uma taxa inflacionária de 2%, mais que um valor mais baixo, dá ao banco mais espaço para atuar em tempos de crise. "Essa flexibilidade poderia nos ajudar a facilitar ainda mais o crédito se a economia se mostrar resistente aos estímulos fiscais e monetários que já foram concedidos", disse.Ele afirmou que, até agora, têm funcionado as tentativas do BC dos EUA para restaurar os mercados de crédito e recuperar a economia. Entre as decisões já tomadas pelo Fed está a redução da taxa de juros do país para algo entre zero e 0,25%.William Dudley, presidente da unidade regional mais importante do Fed, afirmou que os programas emergenciais estão funcionando, apesar de muitos investidores ainda estarem assustados com os altos gastos propostos pelo governo para salvar bancos e as montadoras --no total, os pacotes do governo americano podem passar de US$ 1 trilhão.A disputa política sobre os bônus dos bancos fez com que alguns investidores repensassem sobre colaborar com as medidas do Fed, disse. "É bom enfatizar que o que leva os investidores a correr determinados riscos, especialmente em um cenário de crise como esse, é o poder de garantir de crédito a taxas de juros interessantes."Fluxo de créditoKohn destacou, no entanto, que qualquer expectativa por uma recuperação duradoura depende do sucesso do governo em estabilizar os mercados financeiros e fazer com que o fluxo de crédito seja restabelecido."A situação nos mercados financeiros e na economia poderia ter sido muito pior se o Fed não tivesse agido como agimos", afirmou.Em seus atuais esforços para ajudar a impulsionar o mercado imobiliário, Kohn afirmou que o Fed está considerando incluir empréstimos para grandes hipotecas no Tarp (Programa de Alívio de Ativos Problemáticos, na sigla em inglês), programa aprovado em outubro do ano passado, na gestão do presidente George W. Bush. Contudo, ele não detalhou como a medida pode ser executada.O vice-presidente do Fed foi questionado por Paul Volcker, ex-presidente do Fed e chefe do conselho assessor para a recuperação da economia do governo. Conhecido por seus cortes agressivos nas taxas de juros para conter a inflação nos anos 80, Volcker afirmou que a queda brusca na atividade econômica americana no fim de 2008 --marcado com a quebra do banco Lehman Brothers, em setembro-- pode não ter levado os EUA a uma "grande depressão", mas "colocou o país em uma grande recessão com certeza"."Nenhum de nós havia presenciado uma diminuição da atividade econômica com a velocidade vista no ano passado", disse.Mais criseNo caminho contrário do otimismo dos diretores do Fed, a economista suíça Beatrice di Mauro, primeira mulher a integrar o grupo de cinco peritos em economia que assessora o governo da Alemanha, disse que os piores efeitos da crise financeira ainda estão por vir e que é preciso rigor com os bancos que não estão preparados para superá-la."Houve uma ou duas notícias positivas que geraram certa euforia. Mas temo que, em muitos âmbitos, o pior esteja por vir", disse Di Mauro à edição do jornal "Berliner Zeitung" deste sábado.Só agora os efeitos da crise global começaram a atingir o mercado de trabalho e as empresas, por isso muito pode acontecer ao longo do ano, acredita a especialista. Di Mauro também acha que os bancos sem condições de enfrentar a crise sozinhos não deveriam ser socorridos com o dinheiro do contribuinte."Não é possível que todos os bancos sejam de relevância para o sistema e que o contribuinte tenha que assumir quase completamente" sua recuperação, disse a especialista, para quem o governo deve começar a preparar os procedimentos necessários para que os bancos "sem um modelo de gestão que funcione" declarem sua quebra.