BC decide juros em meio a melhorias "pontuais" na economia
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central define, nesta quarta-feira (29), a taxa básica de juros, a Selic. A maioria dos analistas, segundo a pesquisa Focus, acredita que o BC colocará "ligeiramente" o pé no freio: a previsão é de queda de 1 ponto percentual - menor, portanto, que o corte anunciado na última reunião, de 1,5 ponto, e que levou os juros básicos a 11,25% ao ano.A explicação para a redução da dose estaria em uma "certa melhora" nos indicadores econômicos. Os analistas acreditam que o BC esteja vendo "sinais de recuperação" na economia.Um deles é no consumo. Em fevereiro, as vendas no varejo aumentaram 1,5% em relação a janeiro, resultado que ficou acima das expectativas do mercado."Os últimos dados mostram que a demanda ainda pode ser incrementada no Brasil. As vendas não deverão cair", diz a economista Lilian Fujiy, da Banif Investimentos, que mudou sua aposta de 1,5 para 1 ponto percentual de corte na taxa de juros.O crédito a empresas e a produção industrial também mostraram uma leve melhora, de acordo com os últimos dados divulgados.Além disso, alguns analistas avaliam que o BC não quer deixar espaço para a volta da inflação quando a crise passar e, assim, ter de voltar a aumentar os juros.Já o economista André Perfeito, da Gradual Investimentos, diz que os sinais de melhora são "muito pontuais" e que as más notícias ainda prevalecem."Se houve melhora é porque os dados dos meses anteriores já estavam muito ruins", diz Perfeito. Segundo ele, o perigo da desaceleração econômica é "muito maior" do que a inflação.O aumento do desemprego é apontado como um dos principais indicadores negativos no Brasil. De acordo com o IBGE, a taxa está em 9%, a maior desde 2007.Além disso, a indústria ainda está com estoques sobrando e a produção aumentou apenas "pontualmente" no mês de março.A BBC Brasil explica as principais questões que devem influenciar na decisão do Copom:ConsumoSegundo o IBGE, as vendas no varejo cresceram 1,5% no mês de fevereiro em relação ao mês anterior. O número ainda é modesto, mas, ainda assim, foi visto com otimismo por analistas."Foi o segundo mês seguido de aumento. Ou seja, tudo indica que esse trimestre será melhor do que o anterior", diz a economista Lilian Fujiy, da Banif Investimentos. Em dezembro passado, as vendas no comércio varejista haviam caído 0,6%.A mudança fez com que a Banif Investimentos revisasse sua previsão sobre o corte de juros de 1,5 para 1 ponto percentual.Segundo a economista da Banif, a redução do imposto sobre carros, eletrodomésticos e eletrônicos contribuiu para o melhor desempenho das vendas.O consumo costuma ser analisado com lupa pelo Banco Central. Se houver uma avaliação de que as pessoas voltaram a comprar, a autoridade monetária tenderá a reduzir o ritmo de corte dos juros.CréditoOs números do Banco Central mostram que o crédito para empresas está próximo ao patamar pré-crise. Em março, a média diária para esse tipo de financiamento foi de R$ 7 bilhões. Em setembro, antes do estouro da crise, o volume era de R$ 7,3 bilhões.O número, porém, tem algumas ressalvas. Uma delas, segundo o próprio BC, é de que a concessão de crédito ainda está concentrada em bancos públicos.Além disso, a inadimplência - tanto de empresas como de pessoas físicas - continua subindo, fechando março com índices de 2,6% e 8,3% respectivamente. Os números são considerados altos para o padrão histórico.O Copom terá de avaliar, portanto, se é preciso uma redução mais forte nos juros para estimular o consumo e aliviar a inadimplência, ou se a retomada gradual do crédito para empresas pode ser vista como sinal recuperação, reduzindo a necessidade de um corte maior nos juros.IndústriaEm fevereiro, a produção industrial cresceu em 9 de 14 capitais analisadas pelo IBGE. A média nacional foi 1,8% maior do que em janeiro.O resultado, de acordo com o instituto, ainda não permite falar em retomada. Isso porque a expansão industrial foi "pontual", puxada principalmente pela produção de veículos no Estado da Bahia.Com estoques sobrando, a indústrias tendem a reduzir o ritmo de produção. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), as empresas trabalham com 77% de sua capacidade, mesmo nível registrado em 2003."Por esses e outros motivos ainda é prematuro falar em uma retomada consistente", diz o economista André Perfeito, da Gradual Investimentos."Mantemos nossa avaliação de que há espaço para um corte maior na Selic", diz Perfeito, que aposta em uma redução de 1,5 ponto nos juros.Emprego e rendaOutro indicador que deverá entrar na análise do Copom é o desemprego. Os dados mais recentes do IBGE, relativos a março, mostram que a desocupação chegou a 9% no país, o maior nível desde agosto de 2007.É a terceira alta consecutiva registrada pelo instituto. Com isso, o número de desocupados chega a 2,1 milhões de pessoas.O número ficou acima das expectativas da consultoria LCA. Mas a empresa avalia que a massa salarial ainda está próxima à média de 2006, o que "compensa" o aumento no desemprego.InflaçãoPrincipal preocupação da autoridade monetária, a inflação caiu no mês de março. O IPCA, referência para as metas do governo, fechou o mês em 0,20%. Em fevereiro, o índice foi de 0,55%.No acumulado de 12 meses, a inflação está em 5,90%.De acordo com os analistas, o BC estará olhando não apenas para a inflação atual, mas também para os próximos meses e até anos.Ao tentar "ler a mente" dos diretores do Banco Central, alguns analistas acreditam que o BC ainda está preocupado com a inflação - não tanto com os indicadores do momento, mas com a possibilidade de volta da inflação quando a crise passar.Essa é a avaliação, por exemplo, da Banif Investimentos. "As medidas de incentivo ao consumo, adotadas pelo governo, ainda vão incentivar a demanda", diz Lilian Fujiy.Já André Perfeito acredita que o agravamento da crise ainda não permite pensar em inflação nesse momento. "Se a inflação voltar depois, o governo pode aumentar os juros. A Selic existe para isso", diz o economista.CrescimentoEm última instância, o que o governo quer é fazer a economia crescer, sem gerar inflação. No entanto, as expectativas de crescimento do PIB brasileiro apontam para uma retração esse ano.Os analistas de mercado que respondem à pesquisa Focus apostam em um PIB de -0,39% em 2009.O FMI (Fundo Monetário Internacional) tem uma análise ainda mais negativa para a economia brasileira. Pelos cálculos do Fundo, o PIB do país deverá cair 1,3% este ano."A gente ainda tem mais incertezas do que clarezas no que diz respeito à crise mundial", diz Perfeito.